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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Como não se afogar nos números das pesquisas

Novas sondagens vão mostrar efeitos do reajuste no Auxílio Brasil, apoio de André Janones a Lula e ofensiva de Bolsonaro entre evangélicos

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 15 ago 2022, 09h43

Haverá um tsunami de pesquisas nos próximos dias:

Hoje à noite (15/08), o IPEC (antigo Ibope) divulga no Jornal Nacional as pesquisas sobre a disputa na presidência e os governos de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Distrito Federal. Será a primeira pesquisa nacional do IPEC neste ano. As pesquisas do IPEC são entrevistas feitas na casa dos eleitores.

Terça-feira (16), o jornal digital Poder360 anuncia a pesquisa presidencial do DataPoder, feitas por telefone. No Datapoder de 02/08, Lula 43% x 35% Bolsonaro.

O Datapoder faz sondagens a cada 15 dias e tem o mais longo histórico disponível.

Quarta-feira (17), a Genial/Quaest lança sua pesquisa. É a primeira quinzenal da Genial/Quaest, que faz entrevistas na casa das pessoas desde julho do ano passado. Na Genial/Quaest de 31/07, Lula 44% x 32% Bolsonaro.

Quinta-feira (18), a Folha de S. Paulo e o Jornal Nacional divulgam a pesquisa nacional Datafolha, além dos levantamentos para os governos de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. No último Datafolha de 28/07, Lula 47% x 29% Bolsonaro. O Datafolha faz entrevistas nas ruas.

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As novas pesquisas são as primeiras depois do início do pagamento do Auxílio Brasil de 600 reais, do apoio de André Janones a Lula da Silva e da ofensiva de Bolsonaro junto aos eleitores evangélicos.

Para navegar nesse tsunami de dados é preciso olhar as curvas das tendências. Hoje elas mostram Lula parado ou oscilando para baixo e Bolsonaro subindo. A distância que hoje segundo os agregadores está em dois dígitos deve cair ao longo de todo o mês de agosto.

Os motivos da subida de Bolsonaro são os mesmos que fizeram o seu governo ser impopular, a economia. Desde que Ciro Nogueira e Arthur Lira assumiram o leme da campanha, o Congresso aprovou o corte unilateral de impostos sobre combustíveis, o reajuste do Auxílio Brasil de 400 reais para 600 reais até dezembro, os vale-gás, vale-caminhoneiros e vale-taxistas, o aumento do número de famílias atendidas pelo Auxílio de 18 milhões para 20 milhões, a liberação de empréstimos sem limite de valor para os beneficiários do Auxílio Brasil e a liberação de 10 bilhões de reais em emendas apenas a deputados do Centrão através do Orçamento Secreto. Nunca um governo jogou tanto dinheiro na economia em tão pouco tempo para virar uma eleição.

O fracasso da candidatura Simone Tebet também ajuda Bolsonaro neste momento. Milhares de eleitores que votaram nele em 2018 e se desapontaram agora retornam ao ninho por não encontrar uma outra opção viável para derrotar o PT. Isso é particularmente notável no estado de São Paulo, o epicentro dos que queriam votar na terceira via.

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Simultaneamente, Bolsonaro reforçou sua atenção em grupos reconhecidamente bolsonaristas, o agro e os evangélicos. Como até agora Lula não fez um gesto efetivo para nenhum deles, Bolsonaro vem recuperando votos desgarrados entre homens evangélicos e eleitores das regiões Sul e Centro-Oeste. Michelle Bolsonaro tem sido um ativo na campanha, diminuindo a histórica rejeição do presidente junto às mulheres evangélicas.

Não há surpresa alguma, portanto, em Bolsonaro crescer nas próximas semanas. A questão é até onde ele vai.

Alguns pontos a serem observados:

Bolsonaro está crescendo, mas ainda perde. Todas as pesquisas mostram que o limite de votos de Bolsonaro no segundo turno é  similar ao do primeiro. Ou seja, a campanha não encontrou um argumento que amplie o eleitorado para além do antipetismo.

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Bolsonaro teve em 2018 mais de 66% dos votos nas regiões Sul e Centro-Oeste. Hoje, nas duas regiões há um empate na margem de erro. No Nordeste, em compensação, Lula vence de 60% a 20%. Bolsonaro precisa vencer com folga no Sul e Centro-Oeste para compensar a derrota no Nordeste.

Em uma eleição que o primeiro turno reproduz o cenário de uma disputa mano-a-mano, a dicotomia Lula e Bolsonaro vai encolher Ciro Gomes, Simone Tebet e quem mais aparecer a uma faixa cada vez menor. É previsível que os dois cheguem a outubro perto dos 90% dos votos válidos. Os votos de Ciro vão para Lula ou para o nulo e branco?

Bolsonaro chegou a 70% dos votos entre evangélicos em 2018 contra Fernando Haddad. Hoje, segundo o PoderData, o presidente teria 62% dos votos dos evangélicos, ou seja, ele está perto do teto de votos. Como o Brasil não tem Censo desde 2010, as amostras do eleitorado evangélico são projeções que variam entre 28% à 35% do total do eleitorado. Os católicos continuam sendo maioria (entre 65% e 55%, dependendo da projeção). Todas as pesquisas mostram forte rejeição do governo e do presidente entre católicos.

Por último, mas não em último lugar, há a pouca debatida questão da abstenção. Embora o voto no Brasil seja obrigatório, cerca de 20% dos eleitores não votam nas eleições presidenciais. Em 2022, isso significa dos 156 milhões de eleitores registrados, menos de 125 milhões vão votar.

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Não existem trabalhos consistentes sobre os motivos que fazem tantos brasileiros faltarem às eleições e nem uma preocupação real das campanhas em convencê-los a ir às urnas. Os não- votantes pode ser a chave da eleição de 2022.

TRACKINGS

Começou a temporada dos trackings, as pesquisas telefônicas não registradas na Justiça Eleitoral encomendadas pelo mercado financeiro para antecipar as tendências da opinião pública. Na sexta-feira (12/08), havia três em circulação na Faria Lima. Os resultados mostram uma margem muito menor do que as pesquisas públicas:

Lula 42% x 38% Bolsonaro

Lula 41% x 38% Bolsonaro

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Lula 43% x 39% Bolsonaro

Na mesma sexta-feira, Lula e o comando do PT ouviram uma longa explanação de uma pesquisa encomendada pelo partido informado que o Auxílio Brasil não tem efeito eleitoral e que o resultado mais provável é a vitória no primeiro turno.

Nos dois casos, as estatísticas só servem para confirmar o que os ouvintes queriam ouvir.

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