Com Lula, Rui Costa e Padilha assumem protagonismo
Prioridades do novo governo são entregas de obras e formação de base no Congresso
O discurso do presidente Lula da Silva na primeira reunião do seu ministério mostrou que o novo governo tem duas preocupações. A primeira é rapidamente mostrar a mudança de poder, tanto pelas veementes críticas à herança da gestão Bolsonaro como pela cobrança aos novos ministros de uma agenda de entregas. A segunda é criar uma relação sólida com o Congresso.
Dois ministros se sobressaem para coordenar as ordens de Lula: o ministro da Casa Civil, Rui Costa, que vai cobrar dos novos ministros, e o das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, responsável pela formação de uma bancada governista. O terceiro ministro do núcleo duro do governo Lula 3, Fernando Haddad, da Fazenda, tem a missão mais espinhosa: garantir a estabilidade econômica que permita a Rui Costa ter uma agenda de obras e Padilha cumprir os acordos com o Congresso.
A primeira semana de governo Lula foi uma amostra da falta que faz aquela tradicional benevolência que normalmente os governos desfrutam nas primeiras semanas. Em cinco dias de administração, com alguns ministros sem tomar posse e outros falando como se estivessem ainda em campanha, o governo foi cobrado pelo mercado financeiro como estivesse há meses no poder. Lula teve de fazer uma reunião ministerial para produzir o gesto político de freio de arrumação. Deu certo. Depois de cair 5% na segunda e na terça, a B3 terminou a semana estável. Mas será uma trégua curta. Existe ainda no mercado uma ansiedade irreal por sinais de uma política liberal que não virá.
Na reunião, Lula prometeu um pacto de lealdade aos ministros, mas em troca quer a garantia de uma base sólida na Câmara. “Tenho consciência que não é o (Arthur) Lira que precisa de mim, é o governo que precisa da boa vontade da presidência da Câmara. Não é o (Rodrigo) Pacheco que precisa de mim, é o governo que precisa de um bom relacionamento com o Senado. E é assim que nós vamos governar”, disse Lula.
O presidente se dirigiu aos ministros, alguns dos quais ele só conheceu no dia da nomeação, para reforçar a importância dos acordos partidários. “Muitos de vocês são resultado de acordos políticos, porque não adianta a gente ter o governo tecnicamente formado em Harvard e não ter o voto na Câmara dos Deputados e não ter o voto do Senado”. A mensagem é clara: sob Lula 3, um ministro será julgado não apenas pelo seu desempenho no cargo, mas pelos votos que assegurar ao governo no Congresso.
“Nós temos que saber que nós é que precisamos ter uma boa relação o Congresso e cada um de vocês, ministros, tem a obrigação de manter a mais harmônica relação com o Congresso Nacional. Não tem importância que você divirja de um deputado ou senador, quando a gente vai conversar, você não está propondo casamento, mas a gente está propondo aprovar um projeto ou fazer uma aliança momentânea em torno de um assunto que interessa ao povo brasileiro. É preciso que a gente saiba que é o Congresso que nos ajuda. Nós não mandamos no Congresso, nós dependemos do Congresso e, por isso, cada ministro tem que ter a paciência e a grandeza de atender bem cada deputado ou senador que o buscar porque se não quando a gente vai pedir um voto, ele diz: ‘Ah, não vou votar porque quando estive no tal ministério nem me receberam, deram chá de cadeira de quatro horas, o ministro nem serviu cafezinho ou uma água’. Não quero isso”.
Ao mesmo tempo, Lula fez um pacto com os ministros que o ajudarem no Congresso. “Estejam certos de que eu estarei apoiando cada um de vocês nos momentos bons e nos momentos ruins. Não deixarei nenhum de vocês no meio da estrada. Não deixarei nenhum de vocês”, prometeu. A declaração tem efeitos imediatos para a nova ministra do Turismo, Daniela do Waguinho, cujo marido (o tal Waguinho) tem ligações com a milicia na Baixada Fluminense. Lula pode aceitar que Daniela tenha relacionamentos indiretos com a milícia desde que ela traga os votos da maioria dos 59 deputados do seu partido, o União Brasil. Esta é a realpolitik de Lula.