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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Bolsonaro supera Trump no poder digital

Redes de WhatsApp e Telegram e apoio de redes de TV tornam o presidente quase imune às punições de plataformas

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 out 2021, 18h50 - Publicado em 3 out 2021, 12h55

Jair Bolsonaro idolatra Donald Trump, mas superou o ex-presidente americano justamente na área onde ele era magistral. Depois de perder as eleições, Trump foi expulso do Facebook e do Twitter e virou um zumbi. A sua relação com a ultraconservadora Fox News azedou, as novas plataformas digitais de extrema direita não engrenaram e, embora continue majoritário no partido Republicano, é visível que Trump perdeu a capacidade de intimidação pública que mantinha tantos políticos como seus reféns. Mas se amanhã, o Facebook e o Twitter expulsarem Bolsonaro, o efeito será quase nulo. A rede bolsonaristas é mais complexa e protegida do que a de Trump.

Ao longo de 2017 e 2018, o filho 02 Carlos Bolsonaro organizou milhares de correntes de Whatsapp para distribuir material de campanha. Como é quase impossível rastrear a origem e a quantidade de pessoas atingidas por um post, a rede corre por um sistema paralelo das outras mídias sociais. Quando distribui os primeiros posts pela manhã, nem mesmo Carlos sabe quantas pessoas irão ler, mas erra pouco quem estimar o canhão de comunicação bolsonarista na casa das dezenas de milhões. (As regras de restrição de número de grupos tomadas pelo Facebook, dono do WhatsApp, em 2019 só atingem círculos criados depois da nova regra).

Ao contrário de outros políticos, a rede bolsonarista ampliou a sua ação depois da vitória. A maior parte dos assessores de Carlos na campanha foram empregados no Palácio do Planalto, de onde seguem coordenando a produção de posts, memes e cards. É como uma linha de produção. As ideias saem do Planalto e vão sendo executadas nos ministérios e gabinetes de deputados. Vídeos de matérias governistas produzidas pela TV Brasil ou por emissoras amigas são enviadas já editadas para compartilhamento, frases do discurso do presidente são destacadas em cards e robôs replicam as mensagens. A jornalista Patrícia Campos Mello descreveu detalhadamente o funcionamento desse exército digital no livro “Gabinete do Ódio”.

Comparada com o time de Lula, Doria ou Ciro, o profissionalismo da máquina digital bolsonaristas é a Alemanha contra o Brasil em 2014. Um exemplo: neste ano, o bolsonarismo começou a reproduzir seus materiais em canais no Telegram, o aplicativo que mais cresce no Brasil. O canal do presidente Bolsonaro no Telegram tem sozinho t950 mil seguidores, Lula tem 35 mil, Ciro 18 mil Essa goleada se repete em outras plataformas.

Como o twitter é a plataforma com dados mais transparentes, o monitoramento de muitas agências digitais se baseia apenas nesta rede. É um erro porque o twitter no Brasil é de longe a rede mais elitista e menos influente. Enquanto os tuiteiros tretam, o mundo de verdade se passa no Youtube, no Instagram e no Facebook. Pesquisa da agência Quaest, que engloba as três plataformas, mostra que o alcance de Bolsonaro é duas vezes maior que dos adversários.

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As redes sociais são apenas uma parte da máquina de comunicação bolsonarista. As mais influentes estão nos apoios ostensivos ao presidente nas coberturas das TVs abertas Record e SBT, que juntas tem 30% da audiência.

Pesquisas encomendadas pela Reuters Institute for the Study of Journalism e Universidade de Oxford comparando a credibilidade da mídia nos Estados Unidos, Reino Unido, Índia e Brasil é reveladora do potencial da mensagem de Bolsonaro. No Brasil, a pesquisa foi feita pelo Datafolha com 2.050 entrevistas entre maio e junho e mostrou um quadro animador para o ecossistema noticioso bolsonarista.

Os entrevistadores apresentaram uma lista com 15 veículos de mídia e seis plataformas para comparar a credibilidade cada um. A soma das respostas “confiam sempre” ou “quase sempre” foi a seguinte:

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→ Record 68% → Google 64% → SBT 64%
→ Band 64%
→ Globo 59% → Youtube 58%

Dessa turma, só a Globo é de oposição e o Google, neutro.

De acordo com a pesquisa, há uma associação direta entre apoiar Bolsonaro e desconfiar da mídia. Um de cada quatro brasileiros, não confia em nada na mídia tradicional, considera que os jornalistas fazem reportagens baseadas em suas preferências políticas e quase 90% acham que os veículos escondem seus erros. A falta de credibilidade da mídia é hoje um dos maiores incentivos do bolsonarismo, como mostam as vendas de cloroquina na prevenção da Covid19.

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(Uma curiosidade: o grupo que mais confia nas informações da Globo/Globonews são os brasileiros que se identificam com o PT. 83% dos petistas confiam nas notícias da Globo, contrariando todo o discurso da cúpula do partido, que inventou o pejorativo “Globolixo”. Os que menos confiam na Globo são os bolsonaristas).

Bolsonaro faz um péssimo governo, mas a base de propagação da sua mensagem terá enorme peso na campanha, muito superior ao semiamadorismo dos adversários. As Redes de WhatsApp e Telegram e apoio ostensivo de redes de TV aberta tornam o presidente quase imune à punições das plataformas e da Justiça eleitoral.

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