O presidente Jair Bolsonaro afirmou hoje, em Ipatinga (MG), que o lançamento do programa Renda Brasil está suspenso por divergências com o ministro da Economia, Paulo Guedes. O Renda Brasil será o carro-chefe da campanha de reeleição de Bolsonaro e vai substituir o Bolsa Família, o símbolo dos governos do PT. Disse Bolsonaro:
“Ontem discutimos a possível proposta do Renda Brasil, e falei: está suspenso. A proposta como apareceu para mim não será enviada ao parlamento. Não posso tirar de pobre para dar a paupérrimos”.
O presidente se referia ao núcleo da proposta de Paulo Guedes, criar o Renda Brasil a partir da extinção de outros benefícios. Além do Bolsa Família, o ministro quer o fim do Seguro Defeso (que atende 400 mil pescadores no período de proibição da pesca), o Farmácia Popular (que subsidia remédios para 20 milhões) e o abono salarial (que dá um salário mínimo para quem recebe até 2 salários mínimos por mês).
“Não podemos fazer isso aí, como por exemplo, a questão do abono para quem ganha até 2 salários mínimos , que seria um 14º salário, não podemos tirar isso de 12 milhões de pessoas para dar ao Bolsa Família, ao Renda Brasil ou como for chamar esse novo programa”, argumentou o presidente.
O mercado entendeu na hora que o presidente estava desautorizando Paulo Guedes e insistindo em políticas assistencialistas sem fazer cortes, ou seja, aumentado os gastos públicos. Em questão de minutos, o dólar chegou R,62 _ alta de 1,7%. A Bolsa de Valores de São Paulo operava no começo da tarde abaixo dos 100 mil, em queda de 2%. É um terremoto.
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Clique e AssineGuedes havia proposto que o Renda Brasil concedesse R$ 247 para 45 milhões de brasileiros, o que dá mais de R$ 70 bilhões por ano. Seria um dos maiores programas sociais do mundo. Bolsonaro quer um benefício de R$ 300, mas aí o custo passa de R$ 80 bilhões, segundo estimativas dos técnicos do tesouro. Esse dinheiro precisa sair de algum lugar.
Não existe almoço grátis, nem programa social grátis, nem projetos de obras grátis. Toda vez que este governo decide gastar mais está aumentando o déficit e ampliando a dívida pública. Isso significa aumento no prêmio de risco dos títulos brasileiros, mais volatilidade no câmbio e mais incertezas na economia.
Na semana passada, a bolsa já havia caído e o dólar subido depois de o Senado derrubar um veto presidencial que congelava os salários dos servidores públicos. Bolsonaro teve de ir publicamente dizer que ia defender a manutenção do teto de gastos para acalmar os agentes financeiros. Além da votação, ficou claro para a turma da Faria Lima que parte preponderante do governo Bolsonaro estava empenhada em ampliar os gastos públicos para ajudar na popularidade do presidente. Bolsonaro reforçou esse entendimento ao afirmar, em live via Facebook, que o mercado precisava ser “mais patriótico” e entender que o governo precisava gastar mais em obras.
Em maio de 2002, um analista do banco de investimentos Goldman Sachs chamado Daniel Tenengauzer criou o “Lulômetro”, um modelo matemático que tentava antecipar quanto a cotação do dólar subiria em relação ao real a cada ponto que o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva subisse nas pesquisas. O PT chiou, mas o mercado via a eventual vitória do partido como uma ameaça às finanças públicas. Com Brasil do governo FHC prestes a quebrar e se submeter a um novo acordo com o FMI, a imprevisibilidade do PT no poder alimentava o risco-Brasil e a volatilidade das bolsas. Em cinco meses de campanha eleitoral, o dólar subiu 51%. Passados 17 anos, é chegada a hora de se criar um novo medidor de como a político interfere na economia. É hora de o mercado criar o “Bolsonarômetro” para medir o risco da reeleição de Bolsonaro.