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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Biden colocou Bolsonaro na parede

Ao ameaçar o Brasil com sanções comerciais por destruir a Amazônia, candidato democrata mostra o desastre da política ambiental do Brasil

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 out 2020, 17h08 - Publicado em 30 set 2020, 13h06

Pela primeira vez, o Brasil virou tema da campanha presidencial dos Estados Unidos, mas foi uma entrada pela porta dos fundos. O candidato do Partido Democrata, Joe Biden, ameaçou tomar medidas contra o Brasil se o governo Bolsonaro persistir incentivando a destruição da Amazônia. No debate com o atual presidente Donald Trump, Biden comparou o descaso do governo americano com o meio ambiente com o Brasil.

“A Floresta Amazônica está sendo destruída, arrancada. Mais gás carbônico é absorvido ali do que todo carbono emitido pelos EUA. Tentarei ter a certeza de fazer com que os países ao redor do mundo levantem US$ 20 bilhões e digam (ao Brasil): ‘Aqui estão US$ 20 bilhões, pare de devastar a floresta. Se você não parar, vai enfrentar consequências econômicas significativas”, disse Biden.

Esta é a segunda vez que, publicamente, Biden faz críticas à gestão Bolsonaro e ameaça com retaliações. Em março, em entrevista por e-mail à revista Americas Quaterly, Biden foi ameaçador ao responder sobre a política ambiental do Brasil. “Os incêndios que atingiram a Amazônia no verão passado (2019) foram devastadores e provocaram uma ação global para frear a destruição e ajudar no reflorestamento antes que seja tarde demais. O presidente Bolsonaro deve saber que, se o Brasil falhar em ser o guardião responsável da floresta amazônica, o meu governo reunirá o mundo para garantir que o meio ambiente fique protegido”, afirmou.

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Pelo Twitter, Bolsonaro reagiu bradando nacionalismo primário. Escreveu Bolsonaro, “o candidato à presidência dos EUA, Joe Biden, disse ontem que poderia nos pagar U$ 20 bilhões para pararmos de “destruir” a Amazônia ou nos imporia sérias restrições econômicas.O que alguns ainda não entenderam é que o Brasil mudou. Hoje, seu Presidente, diferentemente da esquerda, não mais aceita subornos, criminosas demarcações ou infundadas ameaças. NOSSA SOBERANIA É INEGOCIÁVEL (maiúscula no original). Meu governo está realizando ações sem precedentes para proteger a Amazônia. Cooperação dos EUA é bem-vinda, inclusive para projetos de investimento sustentável que criem emprego digno para a população amazônica, tal como tenho conversado com o Presidente Trump. A cobiça de alguns países sobre a Amazônia é uma realidade. Contudo, a externação por alguém que disputa o comando de seu país sinaliza claramente abrir mão de uma convivência cordial e profícua. Custo entender, como chefe de Estado que reabriu plenamente a sua diplomacia com os Estados Unidos, depois de décadas de governos hostis, tão desastrosa e gratuita declaração. Lamentável, Sr. Joe Biden, sob todos os aspectos, lamentável”.

No mundo maravilhoso de Bolsonaro, o governo está “realizando ações sem precedentes para proteger a Amazônia”, uma mentira. Nos 20 meses de governo Bolsonaro mais hectares de floresta Amazônia foram desmatados e queimados do que na média de quatro anos. O ministro que deveria cuidar da área, Ricardo Salles, confraterniza com garimpeiros que ocupam terras indígenas, acabou com o acordo que rendia R$ 1 bilhão da Europa para proteger florestas e, agora, fez aprovar medidas que ajudam a destruir manguezais.

O mais grave, no entanto, é o fato de Bolsonaro não entender a realidade. Bater no Brasil ficou barato. A imagem de Bolsonaro no Exterior é de um líder proto-fascista com a família envolvida em corrupção, que ameaça a democracia e destrói o meio ambiente. Além do mais, impor impostos pesados aos produtos brasileiros ajuda os concorrentes, agricultores americanos com peso eleitoral decisivo em muitos Estados.

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Bolsonaro submeteu os interesses do Brasil ao governo Trump como nunca um governo brasileiro fez. Nas votações internacionais, o Brasil é lulu da Pomerânia do Departamento de Estado dos EUA. Para ajudar a campanha Trump, Bolsonaro já prejudicou o setor sucroalcooleiro brasileiro ampliando as vantagens de importação do etanol americano e permitiu que o secretário de Estado usasse a estrutura brasileira de atendimento a refugiados para fazer propaganda eleitoral. Só em sonhos, Bolsonaro podia achar que se alinhar desse jeito com Trump não traria consequências na hipótese de uma vitória democrata.

Embora esteja na frente as pesquisas, a vitória de Biden será suada. A eleição não será resolvida no dia 3 de novembro, quando os americanos vão às urnas, mas só em 14 de dezembro, quando o Colégio Eleitoral se reúne. Em desvantagens nos votos, Trump já anunciou que vai recorrer à Justiça para cancelar as votações por correio.

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O fato é que o Brasil sob Bolsonaro passou a correr um risco. Se Bolsonaro mantiver sua política de destruição da Amazônia o preço será pago pelas maiores exportadoras brasileiras, todos direta ou indiretamente com negócios envolvendo os Estados Unidos. Vale, Petrobras, BRF Foods, Cargill, Embraer, Braskem, JBS, todas sofrerão com a tentativa de Bolsonaro de agradar garimpeiros, grileiros de terra e fazendeiros irresponsáveis. Política é a arte da escolha.

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