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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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A nova chance de Lula

Ex-presidente volta ao poder sem chance de errar

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 31 out 2022, 06h08

Foram 1.059 dias entre a tarde de 8 de novembro de 2019, quando o ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva deixou a prisão em Curitiba, e a manhã deste domingo, 30 de outubro, quando ele votou em si mesmo para retornar ao poder. Nesses quase três anos, a política brasileira e a trajetória de Lula viraram de cabeça para baixo.
 
Nas eleições deste domingo, Lula teve 60 milhões de votos contra 58 milhões de votos de Jair Bolsonaro, a menor diferença da história. Depois da campanha mais suja e violenta da história, Lula herdará um país rachado. Ele não terá chance de errar. 
 
“Tentaram me enterrar vivo e eu estou aqui para governar este país em uma situação muito difícil”, disse Lula no seu primeiro discurso como eleito. “A eleição colocou frente à frente dois projetos opostos do país e que hoje tem um único e grande vencedor: o povo brasileiro. Esta não é uma vitória minha, nem do PT, nem dos partidos que me apoiaram nesta campanha. É a vitória de um imenso movimento democrático”.
 
Por ironia da história, a volta de Lula é um resultado da gestão desastrosa de Bolsonaro com a pandemia de Covid e suas ameaças autoritárias. Eleito presidente em 2018 justamente com um discurso contra a herança dos anos PT, Bolsonaro foi um fracasso em tudo, menos na capacidade de aglutinar em torno de si o antipetismo.
 
Com a pandemia, a desaprovação a Bolsonaro ultrapassou 60%, o que significava que qualquer político que tivesse uma candidatura viável teria uma chance de vencer as eleições. Então por que essa pessoa foi Lula e não outro político? 
 
Enquanto Bolsonaro usava a máquina do governo para obter a maioria no Congresso num típico sistema clientelista e deu os principais cargos do governo para generais do Exército, Lula entendeu que a melhor, e talvez única, forma de vencê-lo seria fazer uma frente ampla em defesa da democracia. 

 Ao longo da campanha, Lula chamou para ser o seu vice um ex-adversário, o conservador Geraldo Alckmin, e recuperou o apoio de antigos aliados, como Marina Silva e Henrique Meirelles, e adversários de campanha, como Simone Tebet.
 
Mas qual Lula voltará, o moderado líder esquerdista dos início do século ou um raivoso ex-preso com sede de vingança? A melhor resposta é ‘nenhum dos dois’. Aos 77 anos, Lula admite que esta é sua última chance de acertar as contas com a história. No segundo turno, o próprio Lula reconheceu que será um presidente de um mandato só. 
 
O Lula que assumir o Brasil em 2023 terá dificuldades externas e internas maiores que enfrentou quando foi presidente. A situação fiscal brasileira é ruim, o espaço para grandes transformações quase nulo e a política mundial mais complexa. Um eventual governo Lula dificilmente conseguirá manter por muito tempo os apoios ideologicamente tão diversos obtidos na campanha e sofrerá uma forte oposição no Congresso. O Lula que volta é um político mais velho, mais pragmático e muito preocupado em reescrever seu lugar na história. É a sua chance final sem espaço para o erro.

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