A nova batalha de Guedes com os generais
Apoio de general à medida pró-servidores reabre embate do ministro com o Planalto
É cada dia mais difícil a vida do ministro da Economia, Paulo Guedes. Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro fez um teatro ao lado de Guedes, afirmando que o ministro seguia como seu Posto Ipiranga e que os militares não iriam interferir na economia. Acreditou quem quis. Com autorização do ministro general Luiz Ramos, responsável pela articulação política do governo, a Câmara aprovou ontem (05/5) uma mudança no projeto de auxílio da União para os Estados que abre um rombo no congelamento dos salários dos servidores públicos.
Pela emenda do novo melhor amigo do Planalto, o líder do PP, deputado Arthur Lira, e do próprio líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo, ficaram excluídos do congelamento de salários os servidores das polícias Federal e Rodoviária Federal, agentes penitenciários, técnicos e peritos criminais, agentes socioeducativos, garis e assistentes sociais e policiais legislativos. No Senado, com aval do general Ramos, as Forças Armadas já haviam sido retiradas da proibição de aumentos.
A limitação aos reajustes de salários de servidores públicos era uma pré-condição pessoal de Guedes para ajudar os Estados. Como ele mesmo havia defendido ao lado do presidente na semana passada, “precisamos também que o funcionalismo público, mostre que está com o Brasil , que vai fazer sacrifício pelo Brasil , não vai ficar em casa trancado com a geladeira cheia , assistindo a crise , enquanto milhões de brasileiros estão perdendo emprego”. Faltou combinar com os generais.
A porteira aberta para exceções salariais é mais um embate do ministro com os militares. No mês passado, sem a presença de Guedes, o ministro da Casa Civil, general Braga Neto, anunciou um programa batizado de Pró-Brazil, uma colcha de retalhos de obras estatais paralisadas que custaria R$ 350 bilhões em dez anos. Guedes corretamente comparou o projeto a PAC dos governos Lula e Dilma, programa no qual o Estado apoiou o crescimento econômico através de financiamento público de projetos de infraestrutura. É tudo a que Guedes sempre se opôs. A reclamação do ministro fez os militares informarem que o Pró-Brasil estará “congelado” até julho, mas não engavetado.
O próximo desafio de Guedes será impedir a extensão do auxílio emergencial de R0 que está sendo distribuído para trabalhadores desempregados, informais e autônomos atingidos pela crise do coronavírus. O auxílio deverá terminar em junho, mas o vice-presidente, general Hamilton Mourão, já defendeu a sua prorrogação. No Planalto, há um consenso de que os R$ 600 são fundamentais para impedir a queda da popularidade do presidente.
A construção de um Plano B na economia mostra um Paulo Guedes segregado no governo. Isso não significa, necessariamente, que ele vá sair. O ministro tem boas relações pessoais com Bolsonaro e acredita que sempre pode convencer o presidente de que ele, Guedes, está certo. Mas o isolamento é visível.
Na semana passada, Guedes e o e o secretário de Desestatização e Privatização, Salim Mattar, fizeram longa exposição aos ministros militares para tentar convencê-los de que será preciso acelerar um plano de R$ 150 bilhões em privatizações e vendas de ações federais em empresas. O número _como quase todos apresentados pela equipe econômica_ não é factível, mas isso importa pouco. O fato é que o público da apresentação _ os generais Braga Neto e Luiz Ramos, entre outros _ não se convenceu.
Comandantes da Economia fracos são raros na história recente. No governo Sarney, Maílson da Nóbrega tocou o barco depois de um congelamento fracassado apenas para encerrar a gestão. No governo Collor, Zélia Cardoso de Mello pagou sozinha o preço político do fracasso do confisco da poupança. No governo Dilma, Guido Mantega chegou a ser excluído de decisões comezinhas. Nenhum dos três antecessores é um bom agouro para Paulo Guedes.