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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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A guerra fria entre Bolsonaro e o STF

O presidente intimida a Justiça com a intervenção militar, enquanto os ministros o ameaçam com a cassação da chapa

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 17 jun 2020, 15h36 - Publicado em 17 jun 2020, 15h24

Depois da II Guerra Mundial, os Estados Unidos e a antiga URSS polarizaram o mundo no que se convencionou chamar de “Guerra Fria”. Chamou-se de “Fria” essa confrontação porque os dois países não entraram em conflito direto, ora usando países satélites como peões de sua disputa geopolítica, ora discursos e propaganda política. Ao longo da escalada de tensão, as duas superpotências alcançaram um poderio militar tão absurdo que um enfrentamento direto terminaria por destruir ambos os países e a vida no planeta. Esse enfrentamento indireto e a ameaça geral de uso de bombas nucleares marcou as gerações da segunda metade do século XX.

Com as devidas proporções, o presidente Jair Bolsonaro e os ministros do Supremo Tribunal Federal jogam uma “Guerra Fria” particular. Cada um tem uma bomba nuclear. A do Supremo é a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão através de julgamento no Tribunal Superior Eleitoral. O artefato do presidente é a intervenção do Exército sobre o STF alegando interferência nas ações do Poder Executivo.

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A pedido da Procuradoria-Geral da República, o ministro do STF Alexandre de Moraes autorizou a quebra do sigilo bancário de dez deputados federais e um senador bolsonaristas no âmbito do inquérito que apura a organização e o patrocínio de manifestações pela ditadura. Na mesma investigação, policiais federais fizeram busca e apreensão nas residências de 21 militantes bolsonaristas, entre eles o organizador e o marqueteiro da Aliança Pelo Brasil, o novo partido do presidente.

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Em outro inquérito também presidido por Alexandre de Moraes, a PF fez em maio buscas e apreensão em endereços de 29 militantes bolsonaristas, entre eles o empresário Luciano Hang. Nesse segundo inquérito, o STF investiga a organização de uma rede de disseminação de notícias distorcidas (“fake news”), vinculadas à própria estrutura de comunicação do governo, indiretamente controlada pelo filho do presidente Carlos Bolsonaro.

O STF tem fortes indícios que a distribuição de fake news e a organização dos atos pró-ditadura contam com uma rede empresarial que teria pago serviços de distribuição de correntes de Whatsapp e sustentado youtubers para ajudar a campanha eleitoral de Bolsonaro sem declaração à Justiça. Se comprovada essa suspeita trata-se de caixa dois, o que poderia legalmente fundamentar a cassação de Bolsonaro e Mourão.

A reação do presidente hoje foi de aumentar a escalada verbal. “Não vou ser o primeiro a chutar o pau da barraca. Eles estão abusando. Isso está a olhos vistos. O ocorrido no dia de ontem, no dia de hoje, quebrando sigilo de parlamentares, não tem história nenhuma vista numa democracia, por mais frágil que ela seja. Então, está chegando a hora de tudo ser colocado no devido lugar”, disse o presidente pela manhã. Depois, na posse do novo ministro das Comunicações, foi menos direto: “Não são as instituições que dizem o que o povo deve fazer, mas é o povo que diz o que as instituições devem fazer”.

Essa tensão paralisa o país. O presidente deveria estar ocupado com o combate à pandemia de Covid-19, mas prefere apostar na intimidação das investigações contra os seus militantes. O Supremo usa a investigação para tentar conter Bolsonaro e as ameaças dos bolsonaristas, mas não há entre os ministros um consenso de que é realmente possível afastar um presidente eleito com o voto de 58 milhões de brasileiros em sessões do tribunal.

A olhos de hoje, assim com as ameaças entre EUA e URSS, a guerra fria será uma série quase infinita de ameaças e bate-boca sem chegar à guerra nuclear. Se essa guerra ocorrer, os dois lados podem sair destruídos e levarem junto o Brasil.

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