Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Thomas Traumann

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
Continua após publicidade

A esquerda no divã

Isolamento de Lula no Palácio do Planalto se refletiu na campanha municipal

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 28 out 2024, 11h24

A comparação é implacável: em 2020, com R$ 10 milhões de orçamento e pouca estrutura, Guilherme Boulos teve o mesmo percentual de votos do que no segundo turno deste domingo, quando gastou quase R$ 70 milhões, teve o apoio do presidente da República, tempo de TV e marqueteiro premiado. Boulos, que em 2020 parecia representar uma renovação na esquerda, foi massacrado em 2024 por 60% a 40% por um dos prefeitos menos carismáticos da história de São Paulo, Ricardo Nunes. A radiografia da derrota de Boulos diz muito sobre o péssimo resultado da esquerda, do PT e do governo Lula nas eleições municipais.

A eleição municipal de 2024 teve um grande vencedor, as emendas parlamentares. O índice de reeleição de prefeitos, que nas últimas campanhas não chegava a 60%, ultrapassou os 80%. Dos vinte prefeitos de capitais que disputaram a reeleição, 16 conseguiram. Como a esquerda é francamente minoritária nas prefeituras, a onda de reeleições apenas confirmou a fragilidade que vem desde 2016.

+ Bolsonaro é o maior perdedor do segundo turno

A força do status quo não altera a dimensão dos erros do PT, da esquerda e do governo Lula. Desde as marchas de 2013, dezenas de estudos mostraram a insatisfação latente da parcela da sociedade que alguns batizaram de “nova classe C”, “batalhadores” ou “empreendedores da periferia”. O nome importa menos que a incapacidade do PT e do governo Lula em dialogar com doceiras, entregadores, motoristas de Uber e vendedoras da Avon que não têm (e muitas vezes não querem ter) carteira assinada e estão mais preocupados em como pagar o carrinho de compras do que com discursos sobre a democracia.

Pesquisa qualitativa de 2022 da Fundação Perseu Abramo, o braço acadêmico do PT, mostrou que essa parcela da sociedade é essencialmente conservadora nos costumes, confia apenas em si para resolver seus problemas, acha que os serviços públicos são ruins e enxerga o establishment como símbolo de burocracia e corrupção. “São eleitores pragmáticos, preocupados com as contas a pagar. Se orgulham de se definirem como ‘trabalhadores’, e aqui a palavra não é uma definição de classe, mas um atributo de valor”, disse a professora Isabela Kalil, Fundação Escola de Sociologia e Política (FESP/SP). Os entrevistados têm um a autoimagem (de si e do brasileiro de modo geral) de serem batalhadores, fortes e persistentes. A resiliência, a capacidade de “sou brasileiro não desisto nunca”, é um atributo pessoal e nacional.

O PT não soube usar as informações e dois anos depois, o Ministério do Trabalho do governo Lula segue achando que a sociedade inteira quer viver sob as regras trabalhistas da CLT, pagar taxas sindicais e não ter acesso a empréstimos usando o FGTS como garantia.

Continua após a publicidade

A segurança pública é outro assunto tabu nos discursos da esquerda, como se os mais pobres não fossem as maiores vítimas da violência urbana. Há meses o governo Lula segura o lançamento de um projeto para assumir como sendo federal a coordenação do combate às facções criminosas.

Mas a campanha municipal de 2024 mostrou um erro novo, a falta de defesa do governo Lula pela maior parte dos candidatos. Guilherme Boulos fingiu que o ministro Fernando Haddad nunca havia sido prefeito de São Paulo e, no último debate, deixou que Ricardo Nunes desse crédito a si mesmo pelos 2 milhões de empregados criados em São Paulo nos últimos dois anos, como se as ações do governo Lula não existissem. Num momento em que o país tem o melhor momento econômico em dez anos (desemprego abaixo de 8%, PIB crescendo 3%, inflação razoável, gastos sociais federais em níveis máximos e aumentos reais de salário) nenhum candidato a prefeito foi à TV defender Lula ou a política econômica de Haddad.

Os candidatos da esquerda queriam um vídeo com o apoio de Lula, mas era um caminho de uma mão só. A eleição mostrou um isolamento de Lula que reflete o estilo do seu governo. O presidente que só conversa com meia dúzia de ministros, quase todos do PT, está sem diálogo até com quem deveria fazer a sua defesa. Conta-se nos dedos quantas vezes o presidente recebeu empresários, cientistas, acadêmicos ou sindicalistas para ouví-los. No geral, eles só entram no Planalto como plateia dos discursos presidenciais. Mesmo os políticos só são recebidos por Lula quando o governo está à beira do precipício numa votação no Congresso. Lula ouve pouco e o pouco que ouve é sempre dos mesmos interlocutores que, quase sempre, dizem que ele tem razão. Isolado por vontade própria, Lula terá dificuldades para entender o que se passou nas eleições.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.