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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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A chegada de Michelle

Bolsonaro traz a mulher para tentar reduzir sua rejeição entre as mulheres

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 12 abr 2022, 17h25 - Publicado em 12 abr 2022, 11h15

Na sexta-feira 8, ela voltou. Em Bagé, Bolsonaro apresentou a mulher num comício eleitoral. “Com toda a certeza, outras vezes ela me acompanhará”, disse o presidente. Nervosa, Michelle falou 39 palavras, encerradas pedindo ao público que a acompanhasse ao repetir o lema da campanha de Bolsonaro de 2018 (“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”).

A chegada de Michelle é uma tentativa dos assessores de Bolsonaro de tentar reduzir a rejeição do presidente no eleitorado feminino. Nunca houve um presidente tão odiado pelas mulheres. Na última pesquisa Quaest, 50% das mulheres consideram o governo ruim ou péssimo. Na mesma pesquisa, Bolsonaro tem 38% das intenções de voto entre os homens, mas apenas 25% entre as mulheres.

Nas pesquisas qualitativas, dois fatores são apontados pelas eleitoras para rejeitar Bolsonaro: a defesa intransigente da liberação de armas (tema que só tem respaldo entre os homens) e a postura na pandemia de Covid-19, considerada “insensível”, “arrogante” e “distante” pelas entrevistadas. Michelle terá o desafio de suavizar essa imagem, uma vez que ninguém na campanha imagina a hipótese de Bolsonaro fazer um autocrítica.

Mesmo assim, Bolsonaro não convenceu o filho Carlos. Estrategista digital do bolsonarismo, Carlos é quem manipula as contas do pai nas redes sociais. Ele e Michelle se dão mal. Em três anos, não há foto ou vídeo de Michelle nos posts do perfil do presidente, e ela seguiu sem aparecer no evento de Bagé.

Diferentemente dos EUA, as candidatas a primeira-dama não têm um papel na campanha eleitoral brasileira. Elas ficam, em geral, relegadas às imagens do candidato com suas famílias felizes sentadas em sofás com cachorros igualmente felizes no primeiro dia da campanha na televisão. Mulher de FHC, Ruth Cardoso foi a única que não se prestou ao papel doméstico, fez reuniões políticas na campanha de 1994 e manteve papel de interlocutora do marido no governo.

Quase ninguém sabia quem era Michelle Bolsonaro até que, na posse do marido, em 2019, ela transmitiu a fala dele na linguagem de sinais para surdos. Meses depois, a Polícia Federal do Rio de Janeiro divulgou que o ex-assessor Fabrício Queiroz, indiciado por corrupção, havia depositado cheques na conta de Michelle, e a primeira-dama foi cuidadosamente retirada do foco da mídia.

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