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Nova Temporada

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Review – ‘Unbreakable Kimmy Schmidt’ – 1ª Temporada

No dia 6 de março, o site de streaming Netflix liberou a primeira temporada de Unbreakable Kimmy Schmidt, comédia criada por Tina Fey e Robert Carlock, ambos de 30 Rock, que foi originalmente produzida para a rede NBC. Mas esta desistiu da série antes de sua estreia. Em novembro de 2014, a NBC anunciou que […]

Por Fernanda Furquim Atualizado em 5 jun 2024, 09h41 - Publicado em 15 mar 2015, 16h25

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No dia 6 de março, o site de streaming Netflix liberou a primeira temporada de Unbreakable Kimmy Schmidt, comédia criada por Tina Fey e Robert Carlock, ambos de 30 Rock, que foi originalmente produzida para a rede NBC. Mas esta desistiu da série antes de sua estreia.

Em novembro de 2014, a NBC anunciou que não exibiria a sitcom, alegando falta de espaço em sua grade de programação. No entanto, a produção não foi cancelada, como costuma ocorrer com séries que passam por esta situação. Ao invés disso, ela migrou para o Netflix, que anunciou a encomenda da segunda temporada, antes mesmo da estreia da primeira.

Nos EUA, as séries, em especial as comédias, são programadas pela rede aberta em blocos. As sitcoms são emparelhadas a partir de suas temáticas e estilos de humor, com o objetivo de manter o telespectador por mais tempo sintonizado naquele horário. Em função disso, a NBC teria ficado sem saber onde colocar Unbreakable Kimmy Schmidt, sitcom com um humor e um tema que não se enquadram com o tipo de comédia atualmente em exibição no canal. Ela poderia combinar com Community e Parks and Recreation, mas as duas já foram canceladas. A primeira migrou para o Yahoo e a segunda teve uma última temporada reduzida e já exibida.

Atualmente, a NBC oferece comédias românticas, a ABC tem comédias familiares, e a CBS oferece comédias de nerds ou de pessoas socialmente problemáticas. Unbreakable Kimmy Schmidt até poderia ser uma comédia da CBS, mas sua proposta combinaria mais com o perfil da Fox, que aposta em sitcoms com um humor mais irônico (em especial seu bloco de séries animadas) ou que oferecem situações que fogem ao lugar comum, a exemplo de The Last Man on Earth.

Quando Fey soube que a série não seria exibida pela NBC, as filmagens da temporada já estavam sendo finalizadas. Ela então entrou em contato com o Netflix, convidando seus representantes para acompanhar os últimos dias de produção e apresentar a eles a proposta da sitcom. Em quatro dias as partes acertaram a migração da série para o Netflix. Com a mudança, cenas que tinham sido censuradas pela NBC, por terem sido consideradas muito provocativas, foram resgatadas e reeditadas nos episódios.

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O curioso de tudo isso é que, em entrevistas, Fey revelou que a sitcom foi criada a pedido da NBC, que desejava dar à Ellie Kemper (The Office) uma série própria. Inspirada no otimismo da atriz, Fey e Carlock criaram Kimmy.

O objetivo da série é o de mostrar ao público que, não importa quais sejam as dificuldades enfrentadas ao longo do caminho, o importante é nunca perder o entusiasmo pela vida e a determinação de realizar seus sonhos. Este é um tema já muito explorado por diversas produções. O que a diferencia é a situação vivida pela protagonista. E aqui gostaria de abrir um parênteses, visto que, ao meu ver, a série pode ter suas raízes em um caso real, ocorrido em 2013.

Em maio daquele ano, a polícia libertou quatro mulheres de um cativeiro em Cleveland, Ohio, sendo uma delas de origem latina e outra uma criança de seis anos, nascida em dezembro de 2006. Três delas tinham sido sequestradas há cerca de dez anos, sendo mantidas prisioneiras em um porão, sem ver a luz do dia. Molestadas e torturadas regularmente pelo sequestrador, elas conseguiram sobreviver graças ao otimismo, o qual foi demonstrado em entrevistas, em especial por Amanda Berry, responsável pela libertação do grupo. Ela revelou que o mais importante era não permitir que seu sequestrador ‘quebrasse seu espírito’. Cinco meses depois da libertação dessas mulheres, a NBC anunciou a encomenda de treze episódios para a primeira temporada de Unbrekeable Kimmy Schmidt, que na época trazia o título de Tooken (o qual, a grosso modo, poderia ser traduzido como ‘sequestradas’). É claro que, uma comédia sobre mulheres sendo molestadas e torturadas das mais diferentes formas não seria possível. Mas uma comédia sobre cultos religiosos, em uma época em que o extremismo é manchete nos jornais, é aceitável.

Na série, Kimmy e mais três mulheres, uma delas de origem latina, são libertadas de um bunker, em Indiana (estado próximo de Ohio), onde viveram nos últimos dezessete anos. Elas foram levadas para lá em 1998 por um homem que acreditava que o mundo acabaria em 2006. Ao longo destes anos, elas sofreram várias tentativas de lavagem cerebral por parte deste homem, mas Kimmy nunca se deixou ‘quebrar’. No fundo, duvidava que o mundo tivesse acabado, embora tenha escolhido não se arriscar a sair, quando teve oportunidade.

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No primeiro episódio, o público é introduzido à situação da personagem mas, ao invés de mergulhar no tema, Fey e Carlock decidiram se afastar dele. O público não vê como a polícia localizou essas mulheres, ou como elas foram recebidas por suas famílias, amigos e comunidade. Também não acompanhamos a exploração do caso pela mídia, ou os debates que teriam surgido em torno do caso, nem como a sociedade americana lidou com isto. A história dá um pequeno salto no tempo, apresentando as quatro mulheres dando sua última entrevista antes de iniciarem o resto de suas vidas. Em outras palavras, elas já são notícia velha.

Ao longo da temporada, o público vê em cenas de flashback algumas situações vividas por elas no bunker, bem como alguns dos primeiros momentos que elas experimentaram logo após a libertação. Mas o tema em si somente volta a ser tratado nos três últimos episódios da temporada.

Neste meio tempo, acompanhamos apenas Kimmy, que decide morar em Nova Iorque. No entanto, ela não quer ser identificada como uma das ‘mulheres toupeira’, como elas ficaram conhecidas na mídia. Assim, decide esconder seu passado das pessoas que a cercam. Com a decisão de Kimmy de negar sua origem, a série abre mão da responsabilidade de discutir o fanatismo religioso. Ela se transforma em uma sitcom sobre a garota ingênua e otimista do interior que sofre o choque cultural quando vai morar na cidade grande. Cada pessoa encontrada por Kimmy revela viver dentro de um fanatismo religioso próprio, por estar atrelada às crenças estabelecidas por diferentes segmentos econômicos e culturais. Temas explorados zilhões de vezes por outras séries e filmes. Em função disso, Unbreakable Kimmy Schmidt oferece situações repetitivas e personagens previsíveis.

Temos a mulher que dá as costas às suas origens, fica rica através do casamento, e agora tem medo de ficar pobre; o garoto mimado que tenta chamar a atenção dos outros; a adolescente que tenta se enturmar com as colegas de classe; o gay egocêntrico, porém de bom coração, que não consegue se estabelecer profissionalmente; a ex-hippie que ainda não voltou para a Terra; o cirurgião plástico que não conhece limites; o professor que odeia dar aula; o imigrante oriental inteligente que deseja assimilar rapidamente a cultura americana; o príncipe encantado que se revela um sapo; e assim por diante.

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Com um humor leve (quem busca por humor pesado deve conferir as comédias britânicas ou as topical sitcoms americanas da década de 1970) e irônico, a série se mantém dentro do politicamente aceitável. A cada episódio, Kimmy conhece uma pessoa diferente a quem tenta ajudar a resolver seus problemas, passando para ela um pouco do seu otimismo. Sofrendo diversos reveses, ela própria vai se afastando de seus sonhos sem perceber. Neste meio tempo, Kimmy passa por situações as quais a forçam a olhar para seu passado (através de cenas de flashbacks).

Este passado a alcança nos três últimos episódios, quando o homem que a sequestrou é levado a julgamento. Embora sejam os melhores episódios da temporada, eles decepcionam por deixar passar oportunidades que só o humor de Fey conseguiria oferecer. Ao invés de utilizar o julgamento para elaborar debates ideológicos, a série oferece um julgamento com piadas velhas, preso à uma única ideia: a de encontrar provas materiais de que o sequestrador não acreditava que o mundo acabaria em 2006.

Aqui, a série oferece algumas situações e diálogos que questionam as incoerências do judiciário, em especial aquele que é aplicado no interior do país. Vale lembrar que o fato de três das mulheres terem sido sequestradas quando ainda eram menores de idade não foi levado em consideração para tentar condenar o sequestrador, independente de suas crenças. Fey faz uma participação especial interpretando a advogada Marcia, em alusão à Marcia Clark, uma das promotoras no caso de O. J. Simpson que, mais uma vez, serviu de referência para sátiras. Infelizmente, a personagem de Fey também ficou presa a uma única piada, a de que ela é amante de seu colega de trabalho, Christopher Darden, aqui interpretado por Jerry Minor.

O grande diferencial da série era a origem de Kimmy. Embora mal explorado, este tema parece ter sido finalizado com a primeira temporada. O que sobrou para ser trabalhado na segunda, além de mostrar a trajetória convencional de uma mulher para realizar seus sonhos sem perder o otimismo?

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O que vale a pena na série não é sua história ou seus personagens, mas seu texto. Embora presos em um lugar seguro, os diálogos são ágeis, de duplo sentido, repletos de referências populares e irônicos. Todos os ingredientes necessários para agradar o grande público, o que torna Unbreakable Kimmy Schmidt uma forte candidata ao Golden Globe e, possivelmente, ao Emmy.

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