Por onde anda o elenco de ‘Mod Squad’?
Na década de 1960, as séries americanas começaram a incorporar os movimentos sócio-culturais e políticos que ocorriam nas ruas. Entre eles, as manifestações contra a Guerra do Vietnã e o movimento hippie, que contavam com a forte presença dos jovens da época. O movimento hippie adotava a ideia de que, para ser feliz, era necessário se afastar […]
Na década de 1960, as séries americanas começaram a incorporar os movimentos sócio-culturais e políticos que ocorriam nas ruas. Entre eles, as manifestações contra a Guerra do Vietnã e o movimento hippie, que contavam com a forte presença dos jovens da época.
O movimento hippie adotava a ideia de que, para ser feliz, era necessário se afastar da sociedade e das pessoas que faziam parte do ‘sistema’. Pregando o amor livre e usando diversas drogas alucinógenas, eles procuravam fazer o que lhes desse na cabeça sem dar satisfação a ninguém. Matérias de jornais e revistas, bem como livros, eram publicados sobre o tema. Mas foi o festival de Woodstock, realizado em 1969, que melhor expos este movimento da contracultura à sociedade.
Nesta mesma época, a televisão passava por importantes mudanças. Entre elas, o reconhecimento da audiência do público jovem. Até o final da década de 1950, as séries eram produzidas com o objetivo de reunir toda a família em volta do aparelho de TV. Em 1959, estreou Os Amores de Dobie Gillis, considerada a primeira sitcom voltada para o público adolescente. Sua boa receptividade levou à produção de outras séries para este público, sendo a maioria comédias.
Os movimentos da contracultura começaram a aparecer nas séries em episódios esporádicos aqui e ali. Em 1966, Os Monkees, outra comédia, explorou abertamente o movimento hippie, com seus personagens, visual e música. Mas foi Mod Squad/The Mod Squad que trouxe para a TV uma abordagem deste movimento de forma dramática e mais profunda.
A Série
Buscando atrair a audiência jovem, o produtor Aaron Spelling, em parceria com o ator e produtor Danny Thomas, desenvolveu um projeto de série que pudesse tratar dos temas e situações que aconteciam nas ruas.
Para tanto, se inspirou na história do ex-policial Bud Ruskin, que na década de 1950 fez parte de uma equipe formada por policiais que, fisicamente, pareciam adolescentes. Atuando infiltrados em lugares onde os jovens se reuniam, eles foram capazes de solucionar vários crimes.
Ruskin chegou a escrever um roteiro narrando esta história, o qual foi reformulado por Spelling, que desenvolveu os três protagonistas representantes da contracultura da década de 1960: um branco, um negro e uma loira (esta era a chamada da série: one white, one black, one blond).
O branco era Pete Cochran (Michael Cole), um jovem rebelde de uma família rica que, por ter se metido em encrenca muitas vezes, foi deserdado. Após roubar um carro, ele é preso. O negro era Lincoln Hayes (Clarance Williams III), mais conhecido como Linc, um jovem de família pobre e numerosa que participa de manifestações contra a guerra do Vietnã e movimentos de direitos civis. Ele é preso durante os distúrbios de cinco dias que ocorreram no bairro Watts. A loira era Julie Barnes (Peggy Lipton), a filha de uma prostituta que, depois de fugir de sua casa em São Francisco, é presa em Los Angeles por vadiagem.
Os três são selecionados pelo Capitão Adam Greer (Tige Andrews) que lhes oferece a condicional para que formem um grupo de combate ao crime. O problema é que eles não têm interesse em ‘dedurar’ jovens que estejam, como eles, passando por alguma dificuldade. Mas o trio muda de ideia quando Greer os convence que seu trabalho não será o de expor ou de punir esses jovens, mas o de levar à justiça quem está usando a juventude para cometer crimes.
A série foi oferecida à rede ABC que, segundo Spelling em sua autobiografia, era a que estava mais aberta para produções voltadas para o público jovem. Os executivos da ABC compraram o projeto e encomendaram a primeira temporada, com base em um piloto produzido para avaliação. Mas dias antes da estreia da série, a ABC tentou mudar o título para The Young Detectives, porque achava Mod (abreviação de modern/moderno) Squad (esquadrão) uma expressão muito radical que poderia alienar o público. Spelling insistiu em manter o título e a série estreou em 1968, sendo rapidamente acolhida pelo público, jovem e adulto. No entanto, foi somente na terceira temporada que sua audiência a colocou entre os vinte programas mais assistidos do horário nobre.
Ao longo de sua produção, a série exibiu episódios que tratavam de temas da atualidade (sempre apresentado sob o ponto de vista dos jovens), como direitos civis, conflitos raciais, educação sexual na escola, anti-semitismo, abuso infantil, a guerra do Vietnã, aborto, violência doméstica, movimentos diversos de protestos, uso de drogas ilegais, analfabetismo, entre outros temas que eram retirados dos jornais da época. A contracultura também estava representada no visual da série, como a decoração psicodélica do apartamento de Julie, o figurino dos protagonistas e a trilha sonora.
Apesar do sucesso e dos temas tratados ao longo das temporadas, os atores e produtores eram constantemente atacados, via correspondência, com comentários racistas de pessoas que, apesar de acompanhar a série, não viam com bons olhos a relação de amizade entre Linc e os demais.
Mod Squad gerou uma grande quantidade de produtos agregados e conquistou indicações ao Emmy e Golden Globe. Também influenciou o surgimento de outras produções que tinham os jovens da contracultura como protagonistas, a exemplo de Room 222, sobre um professor afro-americano que dava aulas de história para seus alunos adolescentes.
Ela também influenciou mudanças em outras produções já estabelecidas, como Missão: Impossível que, em sua quinta temporada (1970-1971), introduziu Dana Lambert (Lesley Ann Warren, então com 24 anos) e Doug Robert (Sam Elliott, então com 26 anos), que atuavam como agentes para o grupo comandado por Jim Phelps (Peter Graves). Com os dois atores, que tinham a missão de atrair a audiência jovem, também vieram roteiros que tratavam de temas voltados para este público.
Mod Squad foi cancelada em 1973, quando o interesse pelo movimento que a série representava já estava se esgotando. Com isso, começou a perder público para A Família Walton e o humorístico The Flip Wilson Show. Além disso, os produtores estavam tendo problemas com Cole que, além de sofrer um grave acidente de carro, não conseguia controlar sua dependência pelo álcool.
Assim, após 123 episódios produzidos, a série foi cancelada. Mas a boa receptividade das constantes reprises em canais regionais levou à produção de um filme reunion, em 1979. A série também teve uma versão cinematográfica produzida em 1999, com Omar Epps (House), Claire Danes (Homeland) e Giovanni Ribisi mas, por ter apresentado uma história e ambiente fora do contexto da série (e da época), o filme não conseguiu reproduzir o sucesso do original.
Em 1987, a Fox estreou Anjos da Lei/21 Jumpstreet, série criada por Patrick Hasburgh e Stephen J. Cannell que praticamente reproduziu Mod Squad para a geração dos anos 80.
Por onde andam os atores?
Entre os atores, apenas Andrews já é falecido. O ator, que teve participações em episódios de diversas séries produzidas entre as décadas de 1950 e 1980, faleceu em 2007, aos 86 anos de idade, vítima de parada cardíaca.
Michael Cole – Quando entrou para o elenco de Mod Squad, Cole tinha pouca experiência como ator. Foi sua atitude em recusar a interpretar Pete que convenceu Spelling a contratá-lo, visto que esta era a mesma postura que ele tinha imaginado para o personagem quando lhe fosse oferecida a oportunidade de fazer parte da equipe de Greer. Tal como Pete, Cole não queria interpretar um personagem que ‘dedurava’ outros jovens. Mas, ao tomar conhecimento da proposta da série, mudou de ideia.
Cole perdeu o pai ainda na adolescência. Logo se tornou um garoto problema e começou a beber aos doze anos de idade. Aos 16, se casou com a namorada do colégio, com quem teve dois filhos. Isto o levou a abandonar a escola e a buscar emprego. Aos 20 anos, se divorciou e começou a viajar pelos EUA, arranjando empregos por cada lugar em que passava, como entregador de pizza, balconista, lavador de pratos, garçon e bartender. Quando chegou em Los Angeles, decidiu ser ator e se matriculou em um curso. Ao longo de dois anos, atuou no teatro e fez pequenas participações em séries de TV e em filmes até chegar em Mod Squad.
Durante a produção da série, Cole sofreu um grave acidente de carro, no qual quase perdeu um olho. Segundo ele em entrevistas, foi nesta época que começou a buscar apoio na religião, mas sem conseguir largar a bebida. Em 1973, fez história na Austrália quando foi receber um prêmio. Visivelmente bêbado, Cole fez seu discurso de agradecimento e, no final, acidentalmente disse um palavrão (shit). O momento se tornou histórico porque foi a primeira vez que um palavrão foi transmitido pela TV australiana.
Quando Mod Squad foi cancelada, Cole se dedicou ao teatro, voltando a fazer trabalhos na TV no final da década de 1970, com participações especiais em episódios de diversas séries. Em 1987, ele se afastou da carreira e foi viver nas montanhas tentando ‘se encontrar’. Cole voltou ao trabalho em 1990 mas, por continuar a beber muito, não conseguiu se estabelecer na carreira.
Em 1994, internou-se na clínica Betty Ford, onde foi submetido a um longo tratamento. O ator voltou ao trabalho em 1996, novamente fazendo participações em episódios de séries, como Plantão Médico/ER, Sétimo Céu/7th Heaven e na minissérie It – Uma Obra Prima do Medo. Cole se afastou novamente da TV em 2010, quando voltou ao teatro.
Em 1971, casou-se com a cantora Paula Kelly Jr., com quem teve uma filha, Jennifer Holly Cole (atualmente com 44 anos). Seu problema com a bebida levou ao fim do casamento. Em 1989, conheceu Shelley Funes, uma representante de vendas da revista Rolling Stones com quem se casou em 1996, e com quem ainda vive.
Atualmente com 71 anos de idade, Cole mantém sua carreira no teatro e está preparando sua autobiografia. Ele também participa de convenções realizadas em diversas cidades americanas.
Entrevista com Cole, realizada este ano pela TV australiana, pode ser encontrada aqui. Já o ator pode ser encontrado no Twitter ou em sua página oficial.
Clarence Williams III – O intérprete de Linc atuava no teatro quando foi escalado para a série, graças a Bill Cosby, que na época estrelava Os Destemidos. Em sua autobiografia, Spelling revela que, quando começou a fazer testes para contratar o elenco de Mod Squad, Cosby tinha recém visto Clarence na peça Dark of the Moon, apresentada em um teatro do Harlem, em Nova Iorque. Impressionado com o ator, Cosby sugeriu seu nome a Spelling, que então o escalou para fazer uma participação especial na série The Danny Thomas Hour, como forma de teste.
Filho e neto de músicos, Clarence iniciou sua carreira no teatro em 1960, pouco depois de deixar a Força Aérea. Em 1965, foi indicado ao Tony, o Oscar do teatro, por seu trabalho em Slow Dance on the Killing Ground. Neste meio tempo, estreou na TV fazendo participações especiais em Daktari e Tarzan.
Depois que Mod Squad foi cancelada, Clarence entrou no circuito de participações especiais, tendo sido visto em diversos episódios de séries. Entre elas, Twin Peaks, na qual interpretou o agente do FBI Roger Hardy.
Entre 2003 e 2007, o ator teve participações recorrentes na série de telefilmes Mystery Woman, do canal Hallmark. A história gira em torno de Samantha Kinsey (Kellie Martin), a proprietária de uma livraria especializada em obras de mistério, que atua como detetive amadora. Clarence interpretou Philby, ex-agente do governo que agora trabalha como funcionário da livraria. Em um dos telefilmes, Clarence se reencontrou com Cole, que fez uma participação especial.
Além da TV, ele também continuou atuando no teatro e fez alguns trabalhos no cinema, como Purple Rain (1984), onde interpretou o pai alcoólatra do personagem de Prince; A Lenda do Pianista do Mar e, mais recentemente, O Mordomo da Casa Branca (2013).
Entre 1967 e 1984, Clarence foi casado com a atriz Gloria Foster, que conheceu quando ela fez participação em Mod Squad. Gloria faleceu em 2001, de complicações causadas pela diabetes.
Atualmente com 77 anos, Clarence continua atuando. Seus trabalhos mais recentes são participações nas série Justified, Memphis Beat e Empire, na qual interpretou Huey Jarvis, mentor de Lucious (Terrence Howard).
Peggy Lipton – Descendente de judeus russos, a atriz é filha de um advogado que estimulou a menina a se tornar modelo. Já a mãe, uma pintora, queria que ela fosse atriz. Mas, na infância, Peggy foi violentada repetidas vezes por um tio, o que a tornou uma criança nervosa, insegura e introspectiva, com problemas de gagueira.
Aos 15 anos, foi contratada pela agência Ford, onde iniciou uma bem sucedida carreira de modelo. Em 1964, mudou-se com a família para Los Angeles onde, com 18 anos de idade, se envolveu com a cultura hippie, praticando meditação e yoga, e se tornando vegetariana. Mas, ainda traumatizada com as experiências da infância, Peggy também buscou refúgio nas drogas recreativas e nos relacionamentos com diversos homens, entre eles, Paul McCartney, Elvis Presley e os atores Ryan O’Neal e Terence Stamp.
Aos 19 anos, iniciou sua carreira de atriz, fazendo pequenas participações em séries como A Feiticeira, Mr. Novak, Alfred Hitchcock Hour, O Homem de Virgínia, The F.B.I. e Os Invasores, antes de ser contratada para interpretar Julie em Mod Squad. Em sua autobiografia, Breathing Out, lançada em 2005, Peggy disse que tinha fumado maconha a caminho do teste que fez para entrar no elenco da série. Segundo Spelling, em sua autobiografia, em seu teste Peggy transmitiu uma profunda vulnerabilidade, exatamente o que ele procurava para a personagem. Com isto, nenhuma outra atriz foi testada para o papel.
Em 1969, ela conheceu o compositor e produtor musical Quincy Jones, durante uma viagem às Bahamas. Na época, ele era casado mas, dois anos mais tarde, quando se separou, Quincy reencontrou Peggy, com quem foi viver um mês depois. Os dois se casaram em 1974. Segundo a atriz em sua autobiografia, foi esta relação que lhe salvou a vida. Enfrentando os preconceitos da sociedade da época por se casar com um homem negro, Peggy se afastou da carreira para se dedicar ao casamento e às duas filhas que teve com Quincy, a estilista Kidada Jones, e a atriz Rashida Jones (Parks and Recreation, Angie Tribeca).
A união com Quincy durou dezessete anos. Durante este período, Peggy sofreu com a constante ausência do marido que, construindo sua própria carreira, não tinha muito tempo para se dedicar à família. Ainda casada com Quincy, Peggy teve um breve relacionamento com outra mulher. Mas o casamento começou a ruir em 1986, quando ela sofreu uma crise nervosa. O divórcio aconteceu em 1991. Neste meio tempo, ela passou um período na Índia, buscando desenvolver sua espiritualidade. Voltando a Los Angeles, enfrentou uma depressão, fobias diversas, passou por terapias e começou a usar Prozac.
Peggy retomou sua carreira artística em 1988, com participações em filmes e episódios de séries. O sucesso voltou em 1990, quando entrou para o elenco de Twin Peaks, na qual interpretou Norma Jennings, proprietária do restaurante Double R.
Após Twin Peaks, Peggy entrou no circuito de participações especiais, sendo vista em episódios de Wings, Popular, Alias, Crash, House of Lies, Psych e, mais recentemente, Angie Tribeca, onde interpreta a mãe da personagem vivida por sua filha Rashida. Ela também fez alguns trabalhos no teatro, como The Vagina Monologues. Além da carreira de atriz, Peggy também se aventurou como cantora, chegando a lançar um álbum em 1968.
Em 2003, a atriz foi diagnosticada com câncer no cólon, o que a levou a se submeter a um tratamento de quimioterapia.
Atualmente com 70 anos de idade, Peggy poderá ser vista na nova temporada de Twin Peaks, novamente interpretando Norma.
Cliquem nas fotos para ampliar.