Lembra da série ‘Mary Tyler Moore’?
Uma das sitcoms mais importantes da história da TV americana, Mary Tyler Moore/The Mary Tyler Moore Show permanece atual, com um ótimo texto e um bom desenvolvimento de personagens. A série revolucionou a forma como a mulher é retratada pelas comédias americanas. Com quatro perfis bem distintos, Mary Tyler Moore trabalhou os sonhos e a […]
Uma das sitcoms mais importantes da história da TV americana, Mary Tyler Moore/The Mary Tyler Moore Show permanece atual, com um ótimo texto e um bom desenvolvimento de personagens.
A série revolucionou a forma como a mulher é retratada pelas comédias americanas. Com quatro perfis bem distintos, Mary Tyler Moore trabalhou os sonhos e a realidade da mulher solteira, bem como o da mulher frustrada no casamento.
Mary (Mary Tyler Moore) representava a mulher que todas desejavam ser. Ela era gentil, preocupada com a sociedade e os relacionamentos, bem como uma profissional dedicada, que busca realizar o melhor trabalho possível, visando qualidade e seu crescimento.
Livre, Mary não era uma virgem à procura do príncipe encantado, mas uma mulher madura que busca um relacionamento, sem que este determine quem ela é. Inicialmente insegura e ingênua, Mary foi crescendo ao longo da série, aprendendo a se posicionar e a expressar suas opiniões, tanto pessoal quanto profissionalmente.
Para o público da década de 1970, Mary se tornou uma porta voz da revolução feminina, em uma época em que as mulheres cresciam no mercado de trabalho. Mas como ocorre com qualquer mudança sócio-cultural, essas mulheres eram discriminadas, seja no ambiente profissional ou social e familiar.
A série não se restringiu a um único perfil feminino. Na história, Mary termina seu longo noivado com um estudante de medicina, chocando amigos e familiares. Ela então se muda para Minneapolis onde aluga um apartamento e arranja um emprego de produtora de um noticiário, em uma emissora de TV local.
O apartamento fica em uma antiga casa dividida em três moradias. Sua síndica é Phyllis (Cloris Leachman), personagem que representava a mulher que todas temiam ser ou se tornar. Phyllis seguiu o padrão de comportamento social de sua época. Casou cedo achando que sua vida seria definida pela felicidade de ser esposa e mãe. Ao longo dos anos, ela foi se desiludindo com sua vida de casada mas, como foi educada para nunca admitir sua infelicidade em público, Phyllis finge que é feliz e satisfeita. Ela se dedica à educação de sua filha Bess (Lisa Gerritsen), uma pré-adolescente com quem ela testa todos os métodos de psicologia divulgados em sua época de como lidar com uma criança. Tratando a menina como se fosse um brinquedo novo, ela se surpreende ao perceber que a filha é mais equilibrada que ela.
A outra moradora do prédio, que vive no sótão transformado em apartamento, é Rhoda (Valerie Harper), judia e solteira que representava a mulher que todas realmente eram. Hippie chique, Rhoda trabalhava como decoradora de vitrines de lojas de roupa. Irônica, por vezes sarcástica, vivendo uma eterna luta contra a balança, Rhoda buscava realização profissional e um casamento (não necessariamente nesta ordem). Mas sua maior dificuldade era a de segurar um namorado, que muitas vezes não aguentavam sua personalidade franca e direta.
O quarto perfil feminino trabalhado na série é o de Sue Ann Nivens (Betty White), personagem que representava a mulher que todas temiam ter por perto. Sue Ann era a apresentadora de um programa de culinária. Considerada uma ‘cobra criada’ e ‘devoradora de homens’, ela era uma mulher bem sucedida, porém solitária, que precisava chamar a atenção para sentir-se importante. Sem admitir sua solidão, ela entrava nos ambientes esbanjando confiança, mantendo seu radar sempre ligado, insinuando-se de todas as formas possíveis para seduzir um homem e provocar inveja nas outras mulheres, a quem ela constantemente diminuía.
Ainda podemos acrescentar a esta lista de personagens femininas Georgette (Georgia Engel), que teve uma participação menor, porém importante. Georgette era a mulher ingênua e de bom coração, aparentemente de personalidade submissa, mas que tem opiniões bem definidas.
Ao longo de sete temporadas, a série trabalhou esses perfis femininos, que evoluíram ao longo da história, sem deixar de lado as figuras masculinas que circulavam por este ambiente.
Entre eles, Lou Grant (Ed Asner), o chefe de Mary na pequena estação WJM, onde ele era o editor chefe do telejornal local. Mary foi contratada como produtora do telejornal e secretária de Lou. Veterano do jornalismo, ele se vê preso a um emprego no qual não consegue crescer. Mantendo uma rotina que o sufoca, Lou sonha em divulgar grandes notícias que o desafiem como profissional. Rabugento, Lou tinha problemas de expressar seus sentimentos. Toda vez que precisava se abrir com alguém, ele pedia para Mary fazê-lo em seu lugar. Machista, pai de família, o personagem foi moldado em John Merriman, apresentador do telejornal The CBS Evening News.
O maior desafio de Lou era o de aceitar a presença de seu âncora, Ted Baxter (Ted Knight), um sujeito que ninguém entende como consegue manter seu emprego. Ted é o ‘bobo da corte’, um sujeito atrapalhado, de baixo nível cultural, que acredita ser um galã de cinema. Apoiando-se 100% em sua aparência, Ted não busca estudo ou algum tipo de aperfeiçoamento para realizar melhor seu trabalho, mesmo sabendo que precisa. O personagem foi criado para ser interpretado por um ator mais jovem, mas quando Knight (já falecido) fez o teste, os produtores perceberam que seria muito melhor envelhecer o personagem que continuar procurando alguém mais jovem.
Por fim, a série também tem o personagem Murray (Gavin MacLeod), o redator das notícias lidas por Ted. Considerando-se um brilhante jornalista e redator, Murray não se conforma com o fato de se empenhar em escrever bons textos só para que Ted trocasse as palavras e muitas vezes o sentido das frases. Seu sonho é o de, um dia, ter coragem para largar o emprego e se tornar escritor. Mas, casado e com uma filha para criar (Helen Hunt em início de carreira), Murray se acomodou no emprego que arranjou. O personagem era inspirado no jornalista Dick Robinson.
A série surgiu em 1969, quando Grant Tinker, então vice-presidente da 20th Century Fox, procurou por um veículo em que sua esposa, pudesse estrelar. Mary já tinha feito sucesso na década de 1960 quando interpretou Laura Petrie, esposa de Dick Van Dyke, na série Comédias Dick Van Dyke/The Dick Van Dyke Show. Contudo, desde o fim da sitcom ela não conseguia fazer sucesso com outros trabalhos.
Tinker apresentou para a rede CBS um argumento sobre o cotidiano de uma mulher que, sem pertencer à classe operária, trabalhava para sobreviver. A CBS gostou do projeto e, sem ter um roteiro escrito ou enredo desenvolvido, encomendou a produção de treze episódios para a primeira temporada. Tinker então contratou os roteiristas e produtores Allan Burns e Jim L. Brooks (Os Simpsons), que tinham feito sucesso com Room 222, para desenvolver os roteiros e os personagens.
No início, Mary Richards deveria ser uma mulher divorciada. Mas a rede CBS não aceitou esta proposta. A razão era simples: nenhum canal da época queria se arriscar a gerar críticas negativas da sociedade conservadora (e dos anunciantes) por apresentar uma comédia sobre uma divorciada.
Alegando que o público veria Mary como sendo Laura divorciada do personagem de Van Dyke, os executivos da rede temiam que ela gerasse uma antipatia instantânea do telespectador. Assim, ficou decidido que Mary seria solteira, mas teria terminado um relacionamento duradouro, neste caso, um noivado. Desta forma, os roteiristas deixavam a ideia do divórcio subtendida e o canal não arcava com a polêmica que poderia gerar a figura da mulher divorciada.
Produzida pela MTM Enterprises Productions Inc, empresa criada por Tinker e Moore com este objetivo, a série estreou no dia 19 de setembro de 1970, frustrando o canal. Sem conseguir conquistar uma boa audiência, a sitcom quase foi cancelada. Foi Fred Silverman, vice-diretor de programação, que a salvou. Tendo se apaixonado pela série, ele mudou o horário de sua exibição na expectativa de gerar maior audiência. Ao final da primeira temporada, a série já ocupava o vigésimo segundo lugar da audiência americana. Uma boa posição, mas foram as oito indicações ao Emmy (das quais ganhou quatro) que garantiram sua continuidade. Ao todo, a série foi indicada a 67 Emmy, com 29 vitórias.
No início da segunda temporada, Knight pediu para ser liberado de seu contrato. Considerando seu personagem muito pequeno e pouco trabalhado, o ator estava insatisfeito e desejava buscar novas oportunidades de trabalho. Para mantê-lo, os produtores introduziram Georgette, que se tornaria sua namorada, gerando novas situações para ele. Ted conhece Georgette durante uma festa na casa de Mary. Mais tarde, os dois se casam e têm dois filhos, Mary Lou e David, que foi adotado. Na temporada seguinte, foi a vez da produção introduzir na série a personagem Sue Ann Nivens, a apresentadora de um programa de culinária.
Apesar do sucesso que a sitcom conquistou ao longo dos anos, Moore pediu para encerrar sua produção. Assim, a trajetória dos personagens chega ao fim em 1977 quando, no último episódio, todos são demitidos, menos…. Ted Baxter. Ao todo, foram produzidos 168 episódios.
Mary Tyler Moore gerou três spinoffs. A primeira foi Rhoda, que estreou em 9 de setembro de 1974 apresentando a vida da personagem, novamente interpretada por Valerie.
Vivendo em Nova Iorque, ela se casa com Joe Gerard (David Groth), um homem divorciado e proprietário de uma empresa de demolição.
No elenco de personagens também estão os pais de Rhoda, Ida (a impagável Nancy Walker) e Martin (Harold Gold), sua irmã Brenda (Julie Kavner, a voz americana de Marge Simpson em Os Simpsons), e Carlton (Lorenzo Music), o porteiro do prédio, cuja presença era marcada apenas pela voz, via interfone. Entre outros.
O interessante da série é que ela trabalhou, ao longo de sua produção, o tema do divórcio. Rhoda se casa com Joe na primeira temporada mas, na terceira, os dois se separam, sendo que o divórcio ocorre na quarta temporada. Durante este processo, os dois chegam a fazer terapia de casal. Quando Joe deixou Rhoda, o público se revoltou, mas a audiência não despencou.
Com a separação, Rhoda se tornou a personagem que os produtores queriam trabalhar quando Mary Tyler Moore foi criada, ou seja, a vida de uma mulher divorciada na década de 1970. O tema chegou a se estender ao casal da terceira idade, quando, na última temporada, os pais de Rhoda também se separaram. Eles não chegaram a se divorciar, visto que, aos poucos, ele vão se reconciliando.
A série foi cancelada em 1978, quando perdeu audiência para CHiPs. Ao todo, a sitcom teve cinco temporadas com 110 episódios produzidos, sendo que os quatro últimos somente foram exibidos quando a série entrou em reprise em canais regionais.
A segunda spinoff de Mary Tyler Moore foi Phyllis, que estreou em 1975.
A história mostra a vida de Phyllis que, viúva, vai morar em San Francisco com a sogra Audrey (Jane Rose) e o segundo marido dela, o juiz Jonathan Dexter (Henry Jones), que também acolhem a neta Bess. Mais tarde, a mãe (Judith Lowry) do juiz também vai morar na casa.
Precisando de dinheiro, Phyllis busca um emprego. Na primeira temporada, ela trabalha como secretária no estúdio de fotografia de Julie Erskine (Barbara Colby), que se torna sua amiga. A atriz Barbara Colby foi assassinada em um estacionamento após as filmagens de três episódios, levando a produção a substituí-la por Liz Torres, que interpretou a mesma personagem. Na segunda temporada, Phyllis vai trabalhar como assistente de um supervisor municipal.
O objetivo da série era o de contar a história de uma mulher de meia-idade que, sempre sustentada por alguém, busca se estabelecer no mercado de trabalho. Ao longo da produção, a história também tratou dos relacionamentos amorosos na terceira idade, quando a mãe do Juiz Dexter decide se casar de novo.
Perdendo audiência para Os Pioneiros, a série foi cancelada em 1977, com duas temporadas e 48 episódios produzidos.
A terceira spinoff de Mary Tyler Moore foi Lou Grant, que estreou em 1977. Ao contrário das demais produções, esta série era um drama que acompanhou a vida de Lou depois que ele foi demitido da WJM.
Inspirada no filme Todos os Homens do Presidente, de 1976, a série acompanha Grant, que se muda para Los Angeles, onde vai trabalhar como editor do jornal Tribune, que estava sob o comando de Margaret Jones Pynchon (Nancy Marchand, a mãe de Tony em A Família Soprano).
Entre as spinoffs, esta foi a que conquistou maior aceitação crítica, recebendo diversos prêmios, entre eles, treze Emmy. Através desta série, os produtores trabalharam questões sociais e políticas que ocorriam na época e se tornavam manchete do jornal onde Lou trabalhava. Os episódios mostravam o levantamento da notícia, a forma como ela era trabalhada pelos jornalistas e editor, e sua publicação, muitas vezes arcando com as consequências. Na redação, existiam conflitos entre repórteres, editores, departamento de publicidade e diretoria, sempre que um tema gerava polêmica, revelando a posição de cada um.
Entre os temas apresentados na série estão prostituição, violência infantil, estupro, direitos civis, homossexualidade, preconceito racial, corrupção, alcoolismo, pena de morte, armas nucleares, poluição, doenças mentais, suicídio, greves, política, acidente aéreo, tráfico de bebês, gravidez na adolescência, neo-nazismo, brigas de gangue, imigração ilegal, assassinatos em série, pesquisas científicas e ética jornalística, entre outros.
Ironicamente, a série foi cancelada em 1982 por uma questão política. Recém eleito presidente do Sindicato dos Atores, Asner criticou publicamente o governo de Ronald Reagan e sua relação com El Salvador, que na época violava os direitos civis. Enquanto o ator era condenado por parte da imprensa e recebia ameaças de morte, a audiência de Lou Grant caiu. A rede NBC ainda cogitou a possibilidade de resgatar a série, mas acabou desistindo. Lou Grant foi cancelada em 1982, com um total de cinco temporadas e 114 episódios produzidos. Na época, o canal HBO chegou a propor a produção de um telefilme para encerrar sua trajetória, mas os produtores recusaram, por não se sentirem capazes de desenvolver um texto naquele momento.
Tal qual Mary Tyler Moore, Lou Grant também marcou a história da TV americana, por ser a primeira série a oferecer os bastidores do jornalismo de forma mais realista, levando ao telespectador uma outra perspectiva da profissão. Ela também serviu como um registro dos problemas sociais e políticos pelos quais os EUA passaram na virada dos anos 70 para os anos 80.
Até agora, apenas Mary Tyler Moore e Rhoda saíram em DVD, nos EUA, sendo que existem episódios disponíveis na íntegra no You Tube. As quatro primeiras temporadas de Mary Tyler Moore estão aqui; sendo que a quinta, sexta e sétima temporada também estão online. Rhoda também está completa no You Tube, com sua primeira, segunda, terceira, quarta e quinta temporada. No You Tube também está Lou Grant, com sua primeira, segunda e terceira temporada. Já Phyllis tem alguns episódios, ou trechos deles, espalhados no site.
Nos vídeos abaixo, erros de gravação de Mary Tyler Moore.
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=O4XHXeiMRSk&w=620&h=330%5D
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=uMksxWpEk_M&w=620&h=330%5D
Cliquem em algumas das fotos para ampliar.