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Nova Temporada

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Este é um espaço dedicado às séries e minisséries produzidas para a televisão. Traz informações, comentários e curiosidades sobre produções de todas as épocas.

HBO Brasil estreia Treme, de David Simon

No dia 29 de agosto de 2005, o estado da Louisiana e parte do Mississippi foram atingidos pelo furacão Katrina. Tendo se formado nas Bahamas, o furacão passou pela Flórida em menor intensidade, mas já causando alguns estragos e mortes. Ao chegar na Louisiana, o Katrina provocou cerca de 1.836 mortes e 81 bilhões de […]

Por Fernanda Furquim Atualizado em 31 jul 2020, 14h24 - Publicado em 28 ago 2010, 15h53

No dia 29 de agosto de 2005, o estado da Louisiana e parte do Mississippi foram atingidos pelo furacão Katrina. Tendo se formado nas Bahamas, o furacão passou pela Flórida em menor intensidade, mas já causando alguns estragos e mortes. Ao chegar na Louisiana, o Katrina provocou cerca de 1.836 mortes e 81 bilhões de dólares em estragos de bens materiais. A cidade mais atingida foi Nova Orleans, que acreditava estar protegida pelo sistema de prevenção a furacões criado pelos engenheiros das Forças Armadas, em 1965.

Uma investigação teve início, promessas foram feitas, ajudas humanitárias foram organizadas, ações judiciais foram impetradas mas, até hoje, muitos moradores ainda vivem uma situação precária com problemas de moradia, sistemas de esgotos, coleta de lixo, fornecimento de energia elétrica, segurança e a falta de pagamentos de seguros.

Apaixonado pela cidade de Nova Orleans, o produtor e roteirista David Simon sonhava em produzir uma série que pudesse expor a cultura local. A ideia surgiu no início da década de 90, quando ele ainda trabalhava com “Homicide: Life on the Street”, série policial que definiu a abordagem ao gênero nos anos 90, abrindo as portas para “Nova Iorque Contra o Crime/NYPD Blue”. Durante a produção da quarta temporada de “The Wire”, para a HBO, o furacão atingiu Nova Orleans, levando Simon a pensar em uma série que pudesse mostrar ao público a luta dos moradores pela sobrevivência. Mas foi somente em 2007 que o projeto começou a ser desenvolvido.

Simon, escritor e ex-jornalista, é um produtor querido pela crítica, ignorado pelo grande público e, de certa forma, injustiçado pela Academia de Televisão Americana, que só premia as minisséries produzidas por ele. Todas suas produções anteriores marcaram época, trazendo uma abordagem realista e cruel de uma sociedade que discrimina e mata. Além de temas polêmicos, Simon é responsável por promover um dos primeiros cruzamentos entre Internet e televisão. “Homicide: Life on the Street” foi a primeira série a gerar a produção de uma websérie, com a spinoff  “Homicide: Second Shift”, em 1997.

Em 2002, Simon estreou pela HBO a série “The Wire”, também situada em Baltimore, que trouxe uma narrativa dividida em cinco temporadas. Na primeira, temos o trabalho da polícia contra o tráfico de drogas; na segunda, a relação da sociedade com o tráfico; na terceira, a política do governo no combate ao tráfico; na quarta, temos a ação do sistema educacional na prevenção e combate às drogas dentro das escolas; e na quinta, a relação dos meios de comunicação no combate ao tráfico. A série transformou-se em matéria acadêmica, mas nunca recebeu um Emmy. O mesmo ocorreu com “Homicide”, que chegou a dar prêmios aos atores.

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Apenas a minissérie “The Corner”, sobre o tráfico de drogas em Baltimore, foi premiada com um Emmy, sendo que “Generation Kill”, sobre a invasão americana ao Iraque em 2003, chegou a ganhar prêmios técnicos. Agora, “Treme” corre o risco de receber o mesmo tratamento que a Academia deu às séries anteriores de Simon. Tendo estreado nos EUA em abril desse ano,  “Treme” não foi indicado aos principais prêmios Emmy.

Ao contrário das produções anteriores de Simon, “Treme” não explora a degradação de uma sociedade que está destruindo seus personagens; nem tampouco lida com assassinatos e tráficos. A série explora o movimento de ‘juntar os pedaços’, ao retratar a tentativa de reconstruir o que já foi destruído, física, emocional, psicológica e culturalmente. Se nas produções anteriores os personagens estavam sendo engolidos pelo sistema social e político que se formou nos EUA, em “Treme” vemos a busca dos personagens em sair dessa situação, tendo como motivação o amor e o orgulho por sua cultura.

A série não deixa de ter um aspecto de história policial, visto que temos uma cidade que foi violentada pelas águas, que agora tenta se recompor com a ajuda daqueles que ainda se importam com ela, enquanto o governo se revela incapaz de solucionar o caso.

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O título da série vem do bairro de Nova Orleans formado no final do século 18 com o nome de Faubourg Tremé. Dominado por imigrantes franceses, o bairro passou a ser predominantemente afro-americano a partir do século 19. Foi em Tremé que nasceu o jazz de Nova Orleans, marcando sua cultura local, propagada internacionalmente.

Esse é o motivo pelo qual o bairro é a figura central da série de David Simon, visto que ele não chegou a ser um dos principais locais destruídos pelo furacão Katrina. Justamente por isso, Tremé recebeu menos atenção do governo, mais preocupado em reconstruir os bairros que foram, de fato, completamente destruídos. A ajuda do governo federal durou cerca de 18 meses, encerrando sem conseguir recuperar toda a cidade. A série é situada três meses após a passagem do furacão.

Em 2008, a HBO encomendou a produção de um episódio piloto, filmado no local e dirigido por Agnieska Holland. Criado por David Simon e Eric Overmyer, o projeto, que já tinha a encomenda de 10 roteiros, foi transformado em série em 2009. A primeira temporada foi marcada pela morte de David Mills, um dos colaboradores de longa data de Simon e co-produtor da série. Mills morreu em março desse ano, doze dias antes de “Treme” estrear na TV.

A série não tem um único foco ou uma história com destino pré-determinado. Ela retrata pedaços de vidas que, sem foco ou noção do que o futuro lhes reserva, apegam-se à música que ainda mantém o bairro vivo.

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Entre os personagens, temos Antoine Batiste (Wendell Pierce, de “The Wire”), um trompetista que perdeu sua casa, passando a morar com a mulher com quem teve uma filha. Desempregado, Antoine vive de bicos, tocando em bares que conseguiram reabrir e em funerais organizados por pessoas que ainda têm dinheiro para pagar os músicos. Com problemas financeiros e sem carro, Antoine depende do precário sistema de transportes da cidade para chegar, sempre atrasado, nos locais de trabalho.

Antoine é ex-marido de LaDonna (Khandi Alexander, de “CSI: Miami), com quem tem dois filhos que mal conhece. LaDonna é dona de um bar em Tremé, mas não mora lá. Ela está casada com um dentista, com quem vive em Baton Rouge. A maior preocupação de LaDonna é localizar seu irmão, que desapareceu durante o furacão. Tendo sido informada que o jovem foi preso pouco antes da catástrofe, LaDonna inicia uma peregrinação pelo sistema carcerário para tentar localizá-lo. O problema é que os registros foram levados pelas águas e ninguém tem noção de onde o jovem poderá estar.

Para ajudá-la, LaDonna conta com o apoio de Toni (Melissa Leo), uma advogada casada com Creighton Bernette (John Goodman), professor universitário e escritor, que luta para chamar a atenção das autoridades para os problemas da cidade pós-Katrina. Tendo se dedicado durante anos a um livro sobre a inundação de Nova Orleans em 1927, Greighton está sendo pressionado por sua editora para mudar o texto, falando sobre a nova catástrofe.

O casal costuma frequentar um dos poucos restaurantes de alta classe que conseguiu reabrir. De propriedade da chef Jannette (Kim Dickens), o lugar opera à custa de muito sacrifício, visto que ela ainda não conseguiu receber o pagamento do seguro. Jannette mantém uma relação sem compromissos com Davis (Steve Zahn), um músico e DJ frustrado que luta para manter vivo os aspectos culturais da cidade, valorizando os artistas que ainda conseguem se apresentar em público.

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Entre eles estão Annie (Lucia Micarelli) e o namorado Sonny (Michiel Huisman), uma violinista clássica e um tecladista holandês que vivem do dinheiro que conseguem receber tocando composições próprias, entre outras, nas ruas da cidade.

Por fim, temos Albert (Clarke Peters, de “The Wire”), chefe da comunidade indígena Mardi Gras, responsável pelo carnaval local, que voltou após a passagem do furacão para tentar reunir seu povo. Entre eles, Delmond (Rob Brown), seu filho, um trompetista que prefere a cidade de Nova Iorque à Nova Orleans. Os pesonagens da advogada e do DJ são inspirados em pessoas reais.

Bem recebida pela crítica e pelos moradores da cidade, que apontam a produção como um retrato apurado e honesto da situação ainda atual, bem como do amor e respeito que sentem pelo lugar onde vivem, a série “Treme”  foi ignorada pelo grande público. A estreia registrou cerca de 1.1 milhões de telespectadores, o que não impediu a HBO de renovar a produção para uma segunda temporada. A decisão do canal foi tomada antes mesmo da estreia da série, mas somente foi anunciada após a exibição do episódio piloto.

Apesar da temática e da narrativa dramática, “Treme” é uma série musical que surgiu um ano após o estrondoso sucesso de “Glee”. Mas, ao contrário desta, não retrata músicas populares. Seu repertório é específico do jazz de Nova Orleans. Tal como “Glee”, a produção conta com nomes famosos do cenário musical retratado na série, entre eles Dr. John, John Magnie, John Mooney, Kermit Ruffins, Allen Toussaint, Coco Robicheaux, Stanton Moore, Big Sam Williams, Deacon John, Tom McDermott, Trombone Shorty, John Boutte, Ron Carter, McCoy Tyner, entre muitos outros. Até Elvis Costello aparece na série.

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A segunda temporada de “Treme” deverá estrear nos EUA em julho de 2011, trazendo os personagens vivendo em novembro de 2006, um ano após os acontecimentos ocorridos na primeira temporada.

A série chega ao Brasil no final de semana em que a cidade de Nova Orleans relembra os cinco anos da passagem do furacão. “Treme” estreia hoje pela HBO às 22h50.

Fernanda Furquim: @Fer_Furquim

Confiram outras fotos aqui e cliquem no cartaz para ampliar.

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