Fall Season 2011-2012: Pan Am
A série estreou pela ABC dos EUA como uma das grandes apostas do canal para a temporada de 2011-2012. Ao contrário de “The Playboy Club”, que foi cancelada pela NBC por baixa audiência, “Pan Am” estreou com bons índices de audiência, embora não esteja conseguindo mantê-los. Com 13 episódios encomendados, a série estreou no dia […]

A série estreou pela ABC dos EUA como uma das grandes apostas do canal para a temporada de 2011-2012. Ao contrário de “The Playboy Club”, que foi cancelada pela NBC por baixa audiência, “Pan Am” estreou com bons índices de audiência, embora não esteja conseguindo mantê-los.
Com 13 episódios encomendados, a série estreou no dia 25 de setembro com cerca de 11 milhões de telespectadores e 3.3/8 de rating/share entre o público alvo (18 a 49 anos). Mas em seu segundo episódio ela sofreu uma queda significativa, chegando a 7.75 milhões, e 2.5/6 de rating/share. Veja aqui como fazer a leitura dos números da audiência.
A queda na audiência se deve a seu conteúdo. Tendo surgido na esteira de “Mad Men”, “Pan Am” não consegue estabelecer-se no mesmo nível. “Mad Men” traz um ótimo equilíbrio entre referências histórico-culturais e personagens; “Pan Am” dá mais atenção à época que ao desenvolvimento de personagens. Quem assiste à “Pan Am” se deixa seduzir pelo ambiente, não pelos personagens. Mas ninguém poderá dizer que foi enganado por sua divulgação, já que a série é exatamente aquilo que foi anunciado que ela seria: uma revista eletrônica nostálgica.
Tal como “The Playboy Club” a série também é ambientada na década de 1960 e gira em torno de mulheres que atuam como garçonetes, mas com melhor reputação que as coelhinhas da Playboy. A história das comissárias de bordo na aviação americana teve início na década de 1930. Até então, as empresas aéreas, que começaram a operar na década de 1910, contratavam apenas homens para exercer a função de comissários de bordo.

A foto acima mostra o primeiro elenco da série. O ator Jonah Lotan (E) foi substituído por Mike Vogel. Assim, na imagem temos os personagens Dean, Kate, Laura, Colette, Maggie e Ted.
Mas estudos na época revelaram que muitos passageiros tinham medo de voar, chegando a passar mal durante as viagens. A solução para este problema foi encontrada na figura das enfermeiras que atendem pacientes em hospitais. Atenciosas, educadas e carinhosas, elas inspiravam confiança. Assim, a Boeing Air Transport, que viria a se tornar a United Airlines, contratou oito mulheres para atuarem como comissárias de bordo, na época chamadas de aeromoças.
Utilizando chapéus que lembravam os de uma enfermeira, elas atendiam os passageiros com simpatia, dando-lhes atenção e confiança. A Pan Am, que iniciou suas operações em 1927, somente começou a contratar aeromoças em 1944. Muitas delas ex-enfermeiras ou mulheres treinadas em primeiros socorros. Assim, ao longo dos anos, ser aeromoça se tornou uma das opções de carreiras para as mulheres, que geralmente ocupavam funções de secretariado, professoras e enfermeiras, entre outras.
No início da década de 1960, a empresa decidiu transformar as aeromoças em símbolos sexuais para os homens e em ícones para as mulheres, e é justamente nesse período em que a série é focada. A empresa encomendou uma grande campanha de marketing feita para atingir diversos veículos da mídia. Estilistas conhecidos foram contratados para tornar os uniformes mais atraentes e professores de postura e etiqueta supervisionavam o comportamento das funcionárias. As aeromoças rapidamente se transformaram em ‘sonhos de consumo’, sendo retratadas em matérias de revistas, TV ou rádio. Elas também eram reproduzidas em produtos agregados, como em bonecas de papel ou versões da Barbie.
Além disso, o peso (avaliado semanalmente), a altura e o estilo eram requisitos que deveriam ser preenchidos de acordo com as normas da empresa, tal como as mulheres que participavam de concursos de Miss. Quem não preenchesse o requisito necessário poderia ser demitida ou transferida para outros setores. O episódio piloto retrata este comportamento na cena em que, ao se apresentarem para o trabalho, as mulheres precisam passar por uma inspeção de peso e de uniforme.
Nesta época, o corte do cabelo era outro requisito determinado pela empresa, geralmente na altura dos ombros ou, quando muito, presos. Em uma cena do episódio piloto, a personagem interpretada por Christina Ricci está afastada do trabalho. Penalizada por não ter se apresentado com o uniforme completo, ela foi suspensa. Mas, precisando de uma profissional com mais experiência em um vôo comandado por um piloto novato e contando com uma aeromoça em sua primeira viagem, a empresa a chama de volta na última hora.
A personagem sai às pressas para pegar um helicóptero no escritório da Pan Am que a levará ao aeroporto. Quando sai de casa, ela está de cabelo comprido, mas depois que sai da empresa, ela já está de cabelo curto. Se prestarem atenção na cena do táxi, quando ela mexe na bolsa, é possível visualizar parte de uma peruca. Assim, a cena sugere que, em sua vida normal, Maggie usa cabelos compridos, mas quando vai para o trabalho precisa usar peruca. É claro que, na vida real, é o contrário. A atriz está de cabelo curto e, quando aparece de cabelos longos está usando uma peruca.
Em contrapartida, o corte de cabelo de Bridget não faz o menor sentido dentro da história. Enquanto que Maggie precisa manter os cabelos curtos, Bridget sustenta cabelos longos e desgrenhados, fugindo das normas da empresa e até mesmo da época, já que falamos de um período em que as mulheres carregavam laquês na bolsa para controlar os fios rebeldes.
Até a década de 1970 as empresas aéreas exigiam que as aeromoças fossem solteiras. Assim, as funcionárias que decidissem se casar precisavam deixar o emprego ou mudar de função. No primeiro episódio vemos esta situação retratada na cena em que o piloto Dean sorri quando descobre que Bridget pediu demissão. Tendo pedido a jovem em casamento, e aguardando uma resposta, ele conclui que, ao se demitir, ela estaria aceitando sua proposta.
Tal como estes, o episódio piloto está repleto de referências culturais. Seja no visual, no comportamento ou nos diálogos. Servindo para introduzir o ambiente e os personagens, o roteiro teve um desequilíbrio, pendendo mais para a reconstrução cultural que na definição de personagens. O segundo episódio já diluiu o excesso de referências, deixando os personagens se mostrarem mais. No entanto, por eles não terem uma presença marcante na trama, a história se mantém no nível de revista de entretenimento.
“Pan Am”, conta a história de quatro aeromoças: Maggie (Christina Ricci), Laura (Margot Robbie), Colette (Karine Vanasse) e Kate (Kelli Garner); e dois pilotos: Dean (Mike Vogel) e Ted (Michael Mosley).
O texto abaixo contém spoilers.
Centrada em uma única equipe de vôo, a série apresentou em seu primeiro episódio cada um dos personagens do elenco fixo. A trama é dividida entre presente e passado, via flashbcaks, nos quais conhecemos as origens e relacionamentos de cada personagem. Os únicos que ainda não tiveram suas histórias contadas são Maggie e Ted. Tudo o que sabemos deles é o que vemos no tempo presente.
Dean é o piloto do avião, um jovem que iniciou sua carreira como co-piloto e agora assume o comando do vôo inaugural do Clipper 707 da Pan Am, em viagem de Nova York a Londres. Apaixonado por Bridget, ele a pede em casamento sem saber que, na verdade, a jovem trabalha secretamente para o governo, atuando como espiã.
Na época da Guerra Fria, o governo americano utilizava pessoas comuns, que tinham facilidade para viajar a diversos lugares do mundo, para transportar pequenos pacotes, mensagens ou tarefas simples que poderiam auxiliar no combate ao comunismo. “Pan Am” é uma série desenvolvida por uma ex-aeromoça, que em entrevistas revelou ter descoberto, anos mais tarde, que uma de suas colegas de trabalho atuava como espiã do governo. É com base nesse fato que surgiu essa trama na série.
Por ter se envolvido demais com Dean, Bridget precisa desaparecer e em seu lugar o governo escolhe Kate, uma jovem ávida em provar seu valor. Vindo de uma educação repressora, Kate deixou para trás uma mãe dominadora e uma irmã insegura para conhecer o mundo. Independente e de temperamento forte, Kate cresceu sentindo-se abandonada pela mãe, que dava mais atenção à sua outra filha, Laura. Mesmo assim, Kate mantém um bom relacionamento com a irmã, chegando ao ponto de incentivá-la a tomar as rédeas de sua própria vida.
Laura é uma jovem que tem medo de enfrentar seus problemas, deixando para a mãe a função de tomar as decisões por ela. Mas ela chega a um ponto em que precisa decidir seu futuro. No dia de seu casamento, Laura percebe que não deseja ser uma dona de casa, esposa e mãe. Assim, incentivada por sua irmã, ela foge. Para surpresa de Kate, Laura decide também se tornar uma aeromoça da Pan Am. Logo no início de sua carreira ela é fotografada por uma revista, que estampa seu rosto na capa, retratando-a como imagem símbolo da empresa. Desta forma, essa jovem insegura, que tenta se esconder e passar despercebida dos olhares do público, se torna alvo da atenção dos passageiros e dos colegas.
Colette é o contrário. Confiante e independente, a jovem francesa está de bem com a vida, não se deixando abater mesmo quando descobre que seu amante é casado e tem um filho. Mas embora mantenha a imagem de uma mulher que está acima dos ideais da jovens de sua época, Colette tem ideias românticas sobre relacionamentos e seu futuro: ela se entusiasma ao ver que o namorado a surpreendeu comprando passagem em seu vôo, mas não aceita a ideia de ser a outra.
Maggie representa, de certa forma, os anseios da juventude dos anos de 1960. Mantendo residência no Greenwich Village, bairro boêmio de Nova Iorque, ela se relaciona com pessoas que estão mergulhadas no movimento cultural do período. Maggie é ambiciosa, mas não da forma capitalista americana. Sua ambição é crescer enquanto ser humano, conhecer o mundo e viver experiências que uma mulher de sua época não se permitiria. Isto não significa que ela não tenha estabelecido limites ou regras. Maggie não é uma ‘tresloucada’. Embora ela desafie a autoridade de seus superiores e não se deixe intimidar pelo comportamento de passageiros, ela parece ser uma jovem que não se deixa envolver em escândalos ou situações que possam comprometer sua posição. Ela é o que Laura sonha ser um dia.
Já o co-piloto Ted é o jovem brincalhão, metido a conquistador, mas solitário. Sempre presente, ele parece ser a pessoa que cuida de todos, tentando manter a moral e o bom humor da equipe. Ele é aquela pessoa que oferece o ombro e dá conselhos sempre que alguém precisa; resgata mulheres em perigo; serve de companhia para os solitários e está sempre disponível para o que der e vier. Mas, quando volta para casa, está sozinho e não tem ninguém para compartilhar seus sonhos ou temores.
Basicamente, estes são os personagens que foram introduzidos nos dois primeiros episódios de “Pan Am”. Com uma proposta muito boa, a série ainda precisa ‘aterrizar’ seus roteiros. Embora os personagens tragam um potencial de desenvolvimento bom, as situações nas quais eles se envolvem ainda estão muito soltas, enfatizando demais o glamour e deixando a realidade de lado.
Por outro lado, é compreensível que este seja o tom da série, já que, além de ser uma produção para a TV aberta, “Pan Am” também tem a missão de resgatar a credibilidade das empresas aéreas americanas, perdida desde o 11 de setembro. O medo de novos ataques terroristas transformou as viagens de avião nos EUA em uma experiência traumática. Depois de passar por uma humilhante vistoria para poder entrar no avião, os passageiros ainda sofrem com o descaso e a falta de respeito das empresas e funcionários, que atualmente tratam as pessoas como terroristas em potencial.
“Pan Am” é do grupo Sony, que está agendando sua exibição em canais de diversos países. A série ainda não tem data de estreia divulgada no Brasil, mas deve chegar no início de 2012.
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