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Nova Temporada

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DVD Review – ‘Masters of Sex’, 1ª Temporada

Em julho, a Sony lançou o box da primeira temporada de Masters of Sex, série criada por Michelle Ashford com base no livro de Thomas Maier, Masters of Sex: The Life and Times of William Masters and Virginia Johnson, the Couple Who Taught America How to Love, lançado em 2009. Muito bem recebida pela crítica americana, […]

Por Fernanda Furquim Atualizado em 31 jul 2020, 03h21 - Publicado em 3 ago 2014, 17h42

MASTERS OF SEX (SEASON 1)

Em julho, a Sony lançou o box da primeira temporada de Masters of Sex, série criada por Michelle Ashford com base no livro de Thomas MaierMasters of Sex: The Life and Times of William Masters and Virginia Johnson, the Couple Who Taught America How to Love, lançado em 2009.

Muito bem recebida pela crítica americana, a série acompanha a vida e os trabalhos do Dr. William Masters (Michael Sheen) e de Virginia Johnson (Lizzy Caplan), que realizaram entre as décadas de 1950 e 1970 pesquisas sobre o comportamento sexual do ser humano. O trabalho revolucionário da dupla gerou polêmica, mas contribuiu com o entendimento dos cientistas e do público sobre o funcionamento do corpo humano.

O box, lançado apenas no formato DVD, contém todos os doze episódios produzidos para a primeira temporada, mais um material bônus.

O texto abaixo contém Spoilers. 

A Série

Embora a série se proponha a apresentar uma história real situada em um determinado período da história americana, ela falha em estabelecer o cenário científico de sua época. Antes de Masters existiu um biólogo e sexólogo chamado Alfred Kinsey que realizou pesquisas sobre o comportamento sexual do americano. As pesquisas tiveram início em 1938, com estudantes da Universidade de Indiana, onde Kinsey lecionava. Em 1940, ele se uniu ao The Committee for Research in Problems of Sex e, em 1947, criou o Institute for Sex Research, através do qual deu continuidade às suas pesquisas e publicou seus livros.

O primeiro foi lançado em 1948, apresentando o comportamento sexual masculino. A obra estabeleceu Kinsey no cenário científico, tornando-se uma referência na área durante décadas. Em 1953, ele publicou seu segundo livro, sobre a sexualidade feminina. Ao contrário do primeiro, o segundo não teve a mesma receptividade, pois revelava um comportamento promíscuo da mulher americana, algo que a sociedade da época não estava disposta a reconhecer. Em função de seu conteúdo, os livros de Kinsey foram banidos em diversas comunidades mais conservadoras.

O Institute for Sex Research recebia apoio financeiro da Universidade de Indiana e da Fundação Rockfeller, mas a polêmica do segundo livro colocou o trabalho de Kinsey em risco. Nesta época, os EUA viviam o período conhecido como macarthismo, termo dado à caça aos comunistas promovida pelo Senador Joseph McCarthy. Uma das áreas investigadas pelo comitê de ações antiamericanas era a científica e o trabalho de Kinsey, bem como o Fundação Rockfeller, se tornaram alvos do comitê. Como resultado, a Fundação Rockfeller cancelou seu apoio financeiro em 1953 e as universidades se retraíram nas pesquisas nesta área. Isto não impediu que o Institute for Sex Research continuasse realizando seu trabalho com o dinheiro que recebia pela venda dos livros, embora não fosse suficiente. Lutando para conseguir apoio financeiro de outras organizações, Kinsey morreu em agosto de 1956 sem conseguir concluir a segunda fase de seu trabalho.

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S1MOS-17As duas primeiras obras de Kinsey foram elaboradas com base em entrevistas de centenas de voluntários dispostos a falar abertamente sobre suas atividades sexuais, método que foi duramente criticado pela comunidade científica. Mas, em 1948, um ano após o lançamento de seu primeiro livro, Kinsey já tinha dado início à segunda fase de suas pesquisas: a observação do ato sexual na prática, realizada por membros de sua equipe e suas respectivas esposas, companheiras ou colegas de trabalho. Estas atividades eram registradas por um fotógrafo.

Existem relatos de que Masters começou a se interessar pelas pesquisas de Kinsey em 1943, quando se formou em medicina. Teria sido neste período que ele definiu sua área de atuação. Neste caso, o trabalho de Kinsey teve forte influência na carreira de Masters, o que levanta a pergunta: teria a polêmica em torno dos métodos escolhidos por seu predecessor contribuído com a decisão de Masters de ir além e investigar o ato sexual na prática, recebendo da comunidade científica a credibilidade que Kinsey não conseguiu, ou sua pesquisa é unicamente fruto de seus problemas pessoais, de sua curiosidade sobre o funcionamento do corpo humano e de seu desejo de ajudar casais como a série sugere?

O fato é que Masters começou a realizar suas pesquisas nesta área observando a prática sexual em bordéis em 1954, um ano após o lançamento do segundo livro de Kinsey e meses antes do Senador McCarthy ser afastado. Em 1957, Masters contratou Virgínia Johnson, que contribuiu com um olhar feminino.

A série tem início em outubro de 1956, dois meses após a morte de Kinsey amplamente divulgada pela imprensa, evento que promoveu um novo debate sobre a legitimidade de seu legado. No entanto, este cenário é ignorado pela série. No primeiro episódio, Masters chega a dizer que ele é o único a perceber que está na vanguarda de uma área inexplorada, razão pela qual espera conquistar o Prêmio Nobel. Uma referência indireta ao trabalho de Kinsey é feita no último episódio, quando Masters apresenta seu trabalho aos colegas da Universidade. Ao introduzi-lo, ele diz que não se pode confiar apenas na palavra de pessoas, pois elas mentem, dizem meias verdades, omitem coisas ou se iludem com aquilo que gostariam que fosse verdade, algo que compromete a objetividade científica.

Além de sugerir ao público de hoje que antes de Masters não existia nada importante sendo feito nesta área, a série também retrata a dificuldade da versão ficcional de Masters em obter apoio da Universidade para suas pesquisas como sendo resultado apenas de uma postura conservadora e mesquinha da diretoria, não fazendo qualquer referência aos aspectos políticos da época (que dominavam a mentalidade social) e suas consequências.

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Nas entrevistas que li quando a série foi lançada, os produtores não explicaram porque decidiram não fazer referências diretas a Kinsey e seu trabalho. Mas o reconhecimento deste cenário certamente teria influenciado na construção do personagem e de sua trajetória, dando à luta de Masters em validar seu trabalho um significado muito maior que aquele que é mostrado na série.

Apesar desta falha de reconstrução de época, Masters of Sex oferece ótimos personagens, que fazem com que valha a pena acompanhá-la.

Os Personagens

S1MOS-DVDWilliam Masters é vivido por Michael Sheen que substituiu Paul Bettany, originalmente escolhido para interpretar o personagem. Sheen disse que, ao ser contratado, tentou convencer os produtores a permitir que ele raspasse a cabeça para que pudesse ficar mais fisicamente próximo ao Masters da vida real. Sem surpresas, a produção proibiu o ator de alterar sua aparência.

Nesta linha, eles ‘escolheram a dedo’ os atores que interpretariam os voluntários para a pesquisa de Masters. Na vida real, a pesquisa contou com a participação de pessoas entre 18 e 89 anos de idade, a maioria branca mas independente de ter ou não boa aparência. Na série, vemos apenas casais jovens com um visual ‘Barbie-Bob’.

Masters é retratado como um homem sexualmente reprimido, razão pela qual ele teria se interessado em descobrir o que acontece ao corpo humano durante o ato sexual. Ele teve uma infância difícil, a qual lhe deixou marcas profundas que ainda não foram resolvidas.

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Sua relação com o pai abusivo e sua mãe omissa fez com que Masters desenvolvesse um comportamento reservado no qual tem dificuldades de se relacionar com as pessoas ou deixá-las à vontade com sua presença. Mantendo seus relacionamentos no nível racional, ele se dedicou ao seu trabalho e à sua carreira, tornando-se um especialista renomado na área de obstetrícia.

Casado com Libby (Caitlin FitzGerald), ele tenta controlar sua vida doméstica. Mas sua esposa está decidida a ter um bebê e constituir família, o que a leva a enfrentar todos os obstáculos (ela acredita ser incapaz de engravidar) e a ignorar o fato de que o marido não deseja filhos.

Neste primeiro momento, Virgínia (Lizzy Caplan) é apresentada como uma ‘mulher-maravilha’ na história. Com uma visão moderna sobre a sociedade e os relacionamentos, ela rapidamente cria vínculo com o público do Século XXI. Divorciada e decidida a construir uma carreira, Virgínia dedica todo seu tempo ao trabalho, o que a leva a dar pouca atenção a seus dois filhos pequenos. Capaz de compreender as pessoas e a forma como elas se comportam, ela se torna a assistente que Masters precisa, sempre sabendo como agir, o que dizer e como lidar com seu chefe ou com os problemas que surgem no trabalho. Mas, na sua vida pessoal, ela se sente incapaz de se tornar a mãe típica de sua época. Atenciosa, inteligente, com senso de humor e no controle de sua sexualidade, ela enfrenta as restrições da sociedade, colocando-se como defensora dos direitos da mulher, mas sem assumir uma postura feminista.

Apesar de Masters e Virgínia formarem o casal de protagonistas da série, nesta primeira temporada os personagens mais interessantes de acompanhar são Barton (Beau Bridges) e sua esposa Margaret (Allison Janney). Ele é o reitor da universidade hospital e chefe de Masters. Sustentando um casamento aparentemente feliz, Barton esconde da esposa e dos amigos sua homossexualidade. Apaixonado por Margaret mas incapaz de sentir desejos sexuais por ela, Barton vive um conflito pessoal que atinge seu clímax quando a esposa descobre seu segredo. Esta, por sua vez, começa a ter consciência de sua situação quando tenta se candidatar como voluntária nas pesquisas de Masters. A partir daí, ela vai percebendo que seu mundo não existe. Desejando uma vida completa, mas sofrendo pela situação do marido, Margaret não sabe qual a melhor atitude a tomar.

Tendo como referência principal as pesquisas de Masters, a série oferece situações que levantam diferentes temas relacionados à sexualidade. Além da situação do homossexual na década de 1950, Masters of Sex também discute a situação da mulher em uma sociedade machista. Trabalhando como ginecologista, a Dra. Lillian DePaul (Julianne Nicholson) luta contra os estereótipos. O fato dela ter menos prestígio que Masters não a impede de tentar conseguir fundos para implantar no hospital um novo programa de exame ginecológico.

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A série ainda conta com outros personagens, como o Dr. Haas (Nicholas D’Agosto), colega de Masters que se apaixona por Virgínia e se envolve com a filha de Barton; Dr. Austin Langham (Teddy Sears), um conquistador que se torna voluntário nas pesquisas de Master e se encanta por Jane (Heléne Yorke), outra voluntária; e Betty (Annaleigh Ashford), uma prostituta que mantém um relacionamento com outra mulher.

Curiosamente, os personagens regulares ou recorrentes da série não apresentam oposição ideológica aos trabalhos de Masters e de DePaul. Esta função cabe aos atores convidados e figurantes.

Quando inicia suas pesquisas, Masters substitui sua secretária por Virgínia, por saber que ela não apoiará sua linha de pesquisas. Desta forma, ele remove da história uma personagem que poderia trazer opiniões representativas da sociedade da época. Barton é apresentado como um porta voz do Conselho da Universidade, que representa outra oposição. Ao longo de toda a temporada ele deixa claro que os métodos de Masters não seriam aceitos pelo Conselho, que somente é visto no último episódio, na figura de um personagem interpretado por um ator convidado. Quando Masters apresenta os filmes de sua pesquisa, todos os médicos que se erguem no auditório contra seu trabalho são figurantes. Quando Virgínia busca informações sobre cursos que ela deseja fazer, a mulher que a atende, sugerindo que ela dedique seu tempo aos filhos e não ao trabalho, é interpretada por uma figurante com fala. Quando a Dra. DePaul busca apoio de seus colegas ao seu programa (que a distratam), eles são interpretados por atores convidados que aparecem nesta única cena e somem.

O olhar da sociedade machista é representado pelo ex-marido de Virgínia, um ator convidado, e por Haas. É bem verdade que este último é um personagem recorrente, mas que muito rapidamente muda de posição quando percebe que perderá Virgínia para sempre. A série não precisa de um vilão típico de novela, mas é curioso como ela poupa os personagens fixos de se tornarem representantes desta oposição ideológica.

Os Extras

O box da primeira temporada de Masters of Sex traz dezoito cenas excluídas, preview da série, entrevistas com Sheen e Caplan (que falam sobre seus personagens), making of, e comentários dos atores e produtores no episódio piloto. O box vem com áudio em inglês e francês, com legendas em português, inglês, espanhol e francês.

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No Brasil, a série chegou pelo canal HBO, que começa a exibir os episódios da segunda temporada no dia 8 de agosto. A primeira temporada de Masters of Sex também está disponível no Now da Net.

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