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Nova Temporada

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‘Mad Men’ chega ao fim

O texto pode conter spoilers para quem ainda não viu o último episódio. Entre domingo (EUA) e segunda (Brasil), Mad Men encerrou sua jornada de sete temporadas (oito se as duas partes da sétima forem contabilizadas) retratando dez anos de uma sociedade vivendo em um período que reflete comportamentos, desejos e temores dos dias atuais. Mad Men não é […]

Por Fernanda Furquim Atualizado em 5 jun 2024, 03h18 - Publicado em 18 Maio 2015, 23h20
Parte do elenco de 'Mad Men' (Foto: Maarten de Boer/Getty)

Parte do elenco de ‘Mad Men’ (Foto: Maarten de Boer/Getty)

O texto pode conter spoilers para quem ainda não viu o último episódio.

Entre domingo (EUA) e segunda (Brasil), Mad Men encerrou sua jornada de sete temporadas (oito se as duas partes da sétima forem contabilizadas) retratando dez anos de uma sociedade vivendo em um período que reflete comportamentos, desejos e temores dos dias atuais.

Mad Men não é um drama procedural ou de aventura; ela também não apresenta a ascensão e queda de um criminoso, ou desenvolveu um grande mistério que necessita de uma resposta bombástica e definitiva, nem sequer lidou com questões sócio-político-culturais de forma ostensiva. Esta é uma série que apresentou o ser humano vivendo em um ambiente em transformação.

Ela traz a história de um grupo de pessoas, narrada de forma sutil, sem grandes rompantes emocionais ou sensacionalismos típicos de uma novela. Adotando um tom intimista, muitas vezes depressivo, a série utilizou personagens, ambientes, objetos e situações, na maioria das vezes banais, para informar ao público o momento da história que estava sendo retratado ou oferecer pistas sobre o que estava por acontecer. Como uma máquina do tempo, Mad Men transportou o telespectador para uma época em que pessoas comuns precisavam tomar decisões diárias sobre suas vidas em meio a transformações sociais, algumas das quais somente foram compreendidas muitos anos depois. Momentos que hoje são históricos, mas que eram vistos apenas como algo que aconteceu.

A vida segue em frente. Esta é a linha de pensamento de Don (Jon Hamm) e também da série que, mesmo olhando para trás, nunca tentou recuperar ‘o tempo perdido’. Mad Men não é uma produção nostálgica. Ela sugere ao telespectador mergulhar dentro de sua própria história para compreender seu presente, de maneira que possa construir seu futuro.

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Fiel ao que se propôs fazer ao longo da série, Matthew Weiner, criador de Mad Men, ofereceu um final enxuto, que foi apresentado lentamente ao longo dos últimos episódios, com as peças se encaixando em seu devido lugar, sem muitas surpresas. Ele deixa para o telespectador uma sensação positiva ao mostrar que os personagens que acompanhamos por anos não desistiram da vida; eles continuam se reinventando, pela promessa de um futuro. A diferença é que Weiner não precisará cumprir esta promessa, apesar do fim da série funcionar como um final de temporada. As situações nas quais demos adeus aos personagens são apenas mais uma passagem na vida destas pessoas, que mostram ao público como eles entrarão na década de 1970. O que acontecerá a partir daí cabe a cada um imaginar.

Ao longo de sete temporadas, acompanhamos a vida dividida de seu protagonista. Por um lado temos Don, um homem egoísta e determinado que sabe identificar os anseios do público e transformá-los em breves momentos de felicidade, vendendo-lhes o sonho americano, um negócio rentável que poderia lhe dar a satisfação que todos procuram na vida. Mas dentro dele existe Dick, um sujeito traumatizado e sensível que questiona a toda hora o sentido da vida. Essas duas pessoas vivem juntas sem se aceitarem completamente, embora elas necessitem uma da outra. Seus conflitos e sua incapacidade de mudar radicalmente o rumo de suas vidas ou determinar quem está no comando, levam o personagem a cometer os mesmos erros e repetir atitudes, deixando passar oportunidades. Fugindo de Dick, Don se sente incapaz de se conectar emocionalmente com as pessoas. Sem aceitar Don, Dick sente que nunca foi amado.

Nos últimos episódios, depois de perder contato com a mulher que vive o mesmo tipo de tormento emocional que ele, Don ‘segue a sugestão do livro de Jack Kerouac’ e bota o pé na estrada. A viagem que iniciou com o movimento beatnik termina em uma comunidade hippie onde, sem condições de continuar fugindo, se vê obrigado a se conciliar com Dick. Abraçando seus temores e chorando suas dores, Don parece encontrar o equilíbrio emocional que tanto almejava. Sem termos certeza sobre o que vem depois, vemos a forma como Don interpreta esta reconexão consigo mesmo: o episódio termina com o novo comercial da Coca-Cola, um ícone na história da publicidade, que representa a união e a esperança dos povos, e um convite ao diálogo.

Este diálogo está presente em todo o último episódio, o qual oferece cenas em que personagens acertam questões que estavam pendentes, revelam opiniões, desejos e decisões tomadas, definindo relacionamentos, mesmo quando não chegam a um lugar comum. Com isso, o episódio conseguiu cobrir todos os personagens, que não precisaram disputar espaço, com exceção de Pete (Vincent Kartheiser) e Betty (January Jones), que tiveram seus futuros divulgados no episódio anterior. Ainda assim, Betty teve uma importante participação neste episódio.

Um belo final que preservou o desenvolvimento de personagens. De um modo geral, o último episódio não destoou ao que vinha sendo apresentando ao longo da série, embora a situação de Peggy (Elizabeth Moss) e Stan (Jay R. Ferguson) pudesse ter sido apresentada com mais calma em episódios anteriores.

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No futuro, é possível que poucos se lembrem da importância de Mad Men para a televisão americana. Afinal, não se trata de uma produção que será cultuada pelo grande público. Talvez seu maior legado esteja nos bastidores. Além de ter sido a produção que estabeleceu o canal AMC, hoje popularmente conhecido como a casa de Breaking Bad, Better Call Saul e The Walking Dead (e futuramente sua spinoff), Mad Men é uma prova concreta de que séries que protegem seu conteúdo podem dar lucro.

A nova era das séries teve início, de fato, na metade da década de 1990, com a estreia de Oz, produção que convenceu a HBO a continuar a investir em seriados com personagens complexos e qualidade cinematográfica. Foi graças a ela que surgiu A Família Soprano, que estabeleceu o canal neste segmento. Em seguida veio The Wire, que deu início à luta de um produtor pela preservação de sua arte acima dos interesses do público e de mercado. A série foi ignorada em sua época mas, seguindo o mesmo caminho de David Simon, Weiner foi além.

Desde o desenvolvimento e venda do projeto Weiner estabeleceu as bases de seu trabalho e da forma como lidaria com a série. Graças ao reconhecimento da crítica e dos prêmios conquistados, ele foi capaz de defender seus direitos e interesses de autor, enfrentando não apenas as pressões do público, ávido por histórias mais ágeis repletas de reviravoltas surpreendentes, mas também do canal que, no meio do caminho, tentou convencê-lo a inserir anúncios pagos dentro da trama, cortar salários e personagens para reduzir custos, e gerar spinoffs. Ao se manter irredutível, a produção foi suspensa. Lutando para manter o controle de sua obra, o produtor também resistiu às pressões da mídia que tenta a todo custo passar informações antecipadas sobre o que está por vir. Weiner conseguiu estabelecer um sistema anti-spoiler que foi respeitado por todos que tinham acesso ao primeiro episódio de cada temporada, bem como controlar os atores e equipe técnica que não deixavam  escapar informações ou comentários que pudessem levar a alguma conclusão sobre o que estava por vir.

Resta saber quantos produtores terão condições de se manter neste caminho e presentear o público com séries que sustentem esta mesma integridade do início ao fim.

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