‘Heimat’, um clássico alemão
Esta é uma dica para quem gosta de produções europeias. Heimat (que na tradução significa pátria) é uma bela série alemã, exibida em 1984, que apresenta a trajetória de uma família ao longo de 63 anos. A série se tornou um clássico, tendo sido exibida em diversos países do mundo, tanto na TV quanto no cinema […]
Esta é uma dica para quem gosta de produções europeias. Heimat (que na tradução significa pátria) é uma bela série alemã, exibida em 1984, que apresenta a trajetória de uma família ao longo de 63 anos. A série se tornou um clássico, tendo sido exibida em diversos países do mundo, tanto na TV quanto no cinema (em versão integral).
Criada por Edgar Heitz e Peter F. Steinbach, a primeira temporada da série, composta de onze episódios, começou a ser filmada na década de 1970 e levou cinco anos para ser finalizada. Em entrevistas da época, Heitz disse ter decidido contar a história de Heimat depois de ter assistido à minissérie americana Holocausto.
Acreditando que a história de seu país no Século XX estava limitada ao que o nazismo fez, Heitz decidiu produzir uma historia que retratasse as lembranças que ele tinha da Alemanha que conheceu. Por isso, a série narra a vida de pessoas e não a história política do país, embora ela seja representada de alguma forma. A série não retrata o holocausto judeu, nem tampouco trabalha a ascensão nazista. Essas duas questões estão presentes na trama através de situações e símbolos. Esta é a razão pela qual muitos críticos na época consideraram Heimat uma versão romantizada da vida na Alemanha.
A série é uma viagem romântica, e por vezes inocente, ao passado alemão, que tem como objetivo mostrar como o sentimento de se pertencer a um lugar é importante na formação de pessoas que valorizam os aspectos culturais da região onde nasceram. A maior parte da trama ocorre no interior da Alemanha, que não é afetado drasticamente pelas mudanças sociais ou pela ascensão nazista.
A história gira em torno da família Simon, que vive em uma casa grande, porém simples, onde a cozinha serve como o ponto de encontro dos personagens. Embora apresente a trajetória de diversas pessoas, a série tem Maria (Marita Breuer) como personagem de referência. Ela é uma jovem que, ao se casar com Paul (Michael Lesch), passa a fazer parte da família Simon, representante da classe operária, que vive na pequena cidade rural (ficcional) de Schabbach, região de Hunsrück, Alemanha. Ao longo dos episódios, a série mostra como as mudanças políticas, sociais e culturais que o país sofreu entre 1919 e 1982 afetaram cada membro da família Simon.
Heimat inicia com uma fotografia em preto e branco. Ao longo dos episódios, algumas cenas são apresentadas em cores. Elas representam as lembranças de alguém, que podem ser em preto e branco e por vezes em cores. Conforme os anos vão passando, a cor vai se tornando uma presença mais constante, até que, sem que o público se dê conta, a série tem a cor como base e a fotografia em preto e branco é vista de forma esporádica. A narrativa é lenta, acompanhando a vida bucólica dos moradores. Com as mudanças sociais, culturais e tecnológicas que vão ocorrendo com o passar dos anos, o ritmo da cidade muda, acelerando também a narrativa da série (embora não chegue ao ritmo que estamos acostumados hoje em dia).
Neste meio tempo, testemunhamos as mudanças de mentalidade dos moradores. Problemas simples vão se tornando mais complexos, bem como os relacionamentos e os comportamentos de cada um. A história, que antes era focada em pequenos momentos do dia a dia, passa a dar atenção aos problemas sócio-culturais que surgiram com o fim da guerra e a influência americana na reconstrução do país. Essa influência é retratada na série pelo personagem Paul que após a segunda guerra retorna à Alemanha totalmente americanizado, decidido a ajudar a família financeiramente, influenciando suas opiniões e comportamentos com sua atual visão sobre a sociedade e os negócios.
A história tem início em 1919. Com o fim da 1ª Guerra Mundial, Paul volta para casa. O alívio de ter conseguido voltar e seu desejo de resgatar a vida que ele tinha antes do conflito são substituídos pela depressão e a tristeza, bem como a dificuldade de se readaptar a uma existência pacata, simples e sem grandes perspectivas de futuro. Filho de Mathias (Willi Burger), um ferreiro, o futuro de Paul é seguir a profissão do pai.
Em 1928, Paul se casa com Maria, a filha do prefeito, com quem tem dois filhos, Anton (Rolf Roth/Marcus Reiter/Mathias Kniesbeck) e Ernst (Ingo Hoffmann/Roland Bongard/Michael Kausch). Mas o desejo de mudar o rumo de sua vida o leva a abandonar tudo. Uma certa manhã, Paul sai de casa e da cidade, embarcando em um navio rumo aos EUA, sem avisar ninguém. Seu sonho é se tornar um engenheiro elétrico e trabalhar com rádio, sua grande paixão.
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Neste meio tempo, Maria passa de uma jovem tímida e insegura a uma mulher forte e determinada. Ela cria seus filhos e com o tempo assume o comando da casa, onde também vivem os sogros, o cunhado e a nora. Katrina (Gertrud Bredel) é a mãe de Paul. Uma mulher marcada pelo tempo e pelo sofrimento. Ainda assim, é ela quem mantém o otimismo da família e comanda as atividades da casa até ficar doente e ser substituída por Maria nesta função.
Eduard (Rudiger Weigang), irmão de Paul, se torna o prefeito de Rhaunen, cidade vizinha. Ele se casa com Lucie Hardtke (Karin Rasenak), ex-prostituta de um bordel em Berlim, com quem tem um filho, Horst, que morre em 1948, aos 14 anos de idade. Pauline (Eva Maria Bayerwaltes), irmã de Paul, vai trabalhar em uma joalheria de Berlim, onde conhece Robert Kröber (Arno Lang), um relojoeiro, com quem tem dois filhos, Gabi e Robert. A boa vida do casal acaba quando a guerra tem início. O marido de Pauline morre, forçando-a a voltar para a casa da mãe, levando com ela os filhos.
Com a chegada da 2ª Guerra Mundial, Anton e Ernst partem para os campos de batalha. Anton se torna cameraman da equipe de cinegrafistas que fazem propaganda nazista. Depois de passar um tempo na Rússia, Anton segue à pé até a Turquia e depois para a Grécia, antes de chegar em casa. Em 1945, Paul (Dieter Schaad), agora um empresário americano rico, reencontra Maria e os filhos na esperança de poder ajudá-los financeiramente, como uma compensação por tê-los abandonado. Assim, com o dinheiro do pai, Anton monta seu próprio negócio: uma fábrica de lentes para câmeras fotográficas e de cinema.
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Já Ernst se torna piloto da Luftwaffe. Durante a guerra, ele é abatido em um ataque à França, mas sobrevive. Depois da guerra, ele se envolve com o mercado negro, que lhe dá dinheiro suficiente para comprar um helicóptero, com o qual passa a fazer transporte de madeira. Mais tarde, ele monta uma fábrica de casas pré-fabricadas e se casa com uma mulher rica. O casamento e os negócios de Ernst não vão bem. Falido e divorciado, ele volta a morar com a mãe.
Pouco antes da guerra, Maria conhece Otto Wohlleben (Jörg Hube), um engenheiro de origem judia que trabalha na expansão das rodovias, com quem tem um filho, Hermann (Peter Harting). Quando a guerra inicia, Otto se une à equipe de desarmamento de bombas.
A história de Heimat também acompanha a vida de outros personagens, entre eles, o pai de Maria, Alois (Johannes Lobewein), prefeito de Schabbach, que se torna o representante da política nazista na região. Wilfried (Hans-Jürgen Schatz), irmão de Maria, é um oficial da SS, que leva judeus para os campos de concentração e executa oficiais britânicos. Marie-Goot Schirmer (Eva Maria Schneider) é a irmã de Katrina e tia de Paul. Considerada a fofoqueira da cidade, ela é casada com Mäthes-Pat (Wolfram Wagner), com quem tem um filho, Karl Glasisch (Kurt Wagner), que se torna o narrador da história.
Hans Schirmer (Alexander Scholtz) é o irmão de Katrina e pai de Fritz, um comunista que, após passar um tempo nos campos de concentração, retorna para casa, onde morre em 1937, deixando a viúva Alice e sua filha Lotti (Andrea Koloschinski/Grabrielle Brum), que mais tarde vai trabalhar na fábrica de Anton.
A primeira temporada encerra com o funeral de Maria. Após sua morte, sua alma é recepcionada em um salão por todos aqueles que passaram por sua vida e já faleceram.
A segunda temporada, exibida em 1993, acompanha a vida de Hermann em Munique, entre os anos de 1960 e 1970, com um total de treze episódios. A terceira temporada, exibida em 2004, apresenta Hermann voltando à cidade de Schabbach em 1989, no período em que ocorreu a queda do muro de Berlim. A temporada encerra quando a história chega ao ano de 2000, com um total de seis episódios.
Este ano, foi lançado em agosto no Venice Film Festival o filme Die andere Heimat/The Other Heimat, que é uma spinoff cinematográfica de Heimat, com o total de 225 minutos (o equivalente a quatro episódios, o que a torna também uma minissérie).
A história, situada no final do Século XIX, acompanha a vida Jakob Simon (Jan Dieter Schneider) e Gustav (Maximilian Scheidt), filhos de Margareth Simon (Marita Breuer, que interpretou Maria no original). Após a guerra prussiana, eles decidem migrar para o Brasil. Pelo que me lembro, estes personagens não são mencionados na série original, que é situada no Século XX.
Ainda não há previsão de quando o filme será exibido no Brasil. Para aqueles que tiverem interesse em conhecer a série, ela está disponível em DVD no mercado internacional.
Trailer do filme de 2013.
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