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Este é um espaço dedicado às séries e minisséries produzidas para a televisão. Traz informações, comentários e curiosidades sobre produções de todas as épocas.
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‘Doctor Who’: quem é Peter Capaldi?

No último domingo, a BBC britânica transmitiu um especial de meia-hora de duração no qual foi revelada a identidade do ator que assumirá o papel do Doutor em Doctor Who depois que Matt Smith deixar a série. Ele se despede do público e dos fãs no episódio natalino, que será exibido no Reino Unido no dia […]

Por Fernanda Furquim Atualizado em 31 jul 2020, 05h38 - Publicado em 10 ago 2013, 11h01

No último domingo, a BBC britânica transmitiu um especial de meia-hora de duração no qual foi revelada a identidade do ator que assumirá o papel do Doutor em Doctor Who depois que Matt Smith deixar a série. Ele se despede do público e dos fãs no episódio natalino, que será exibido no Reino Unido no dia 25 de dezembro.

Três dias antes do anúncio, Peter Capaldi já tinha se tornado o favorito das casas de apostas no Reino Unido. Ninguém sabe ao certo como seu nome surgiu. Alguns rumores indicam que ele teria sido visto nos bastidores de produção do telefilme An Adventure in Space and Time conversando com Steven Moffat, produtor da série. Muitos acreditavam que o nome dele tinha sido levantado apenas como uma forma desviar a atenção do público, uma espécie de cortina de fumaça. Mas também existe a suspeita de que a própria BBC teria permitido o vazamento da informação como uma forma de testar a reação do público para o nome do ator antes de ‘soltá-lo na Arena e entregá-lo aos leões’. Seja como for, pesquisas revelam que a contratação de Capaldi foi aceita pela audiência que acompanha a série no Reino Unido. Alguns veículos informam mais de 80% de aceitação, outras dizem que teve mais de 90%.

O especial que anunciou seu nome foi visto por quase 7 milhões de telespectadores, somente no Reino Unido. O programa também foi transmitido simultaneamente para a Austrália e Estados Unidos. Sabiamente, Moffat e Smith não apareceram ao vivo, deixando mensagens gravadas que foram exibidas ao longo do programa. Com isso, os dois não disputaram a atenção do público com Capaldi, que sozinho enfrentou os fãs e respondeu a algumas perguntas feitas via Internet.

Em ‘Prime Suspect’, versão britânica (Foto: ITV)

Ator, diretor, roteirista, produtor, artista e músico, Capaldi é um nome respeitado no Reino Unido e conhecido do mercado internacional por interpretar Malcolm Tucker, da comédia política The Thick Of It, série que gerou uma spinoff cinematográfica com o título de In The Loop. Fã desde criança de Doctor Who, Capaldi chegou a escrever matérias para a newsletter do fã clube oficial da série, para o qual ele chegou a disputar um cargo de secretário quando estava com 14 anos. A insistência de Capaldi em fazer parte do clube chegou a incomodar a BBC e o presidente do clube, que sonhavam em vê-lo ‘exterminado pelos Daleks’.

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Passada a fase da adolescência, Capaldi investiu em sua carreira artística, tornando-se um profissional premiado com o Oscar de melhor diretor do curta-metragem Franz Kafka’s It’s a Wonderful Life, escrito por ele. No elenco está Richard E. Grant, que também faz parte do universo Who, e a esposa de Capaldi, que no curta interpreta Cicely.

Em uma rica entrevista conduzida por Richard Strange, e realizada pela Hibrow TV em 2012 (vídeo abaixo), Capaldi fala sobre sua vida e início de carreira. Depois de ser vocalista da banda punk rock Dreamboys, na década de 1970 na Escócia, Capaldi estudou na Glasgow School of Art. Durante toda sua infância e adolescência, ele foi considerado um nerd. Mais tarde, foi para Londres. Sem conseguir frequentar uma escola de arte dramática, Capaldi trabalhou como graphic designer, fez teatro, comerciais e foi stand-up comedian.

Segundo Capaldi, boa parte dos trabalhos mais importantes que ele realizou aconteceram na sua vida por acaso. Seu primeiro filme de sucesso foi Momento Inesquecível (Local Hero), produção de 1983 estrelada por Burt Lancaster. Ele entrou no elenco quando, de volta a Glasgow, conheceu um dos envolvidos na produção que viu naquele rapaz com o cabelo pintado de vermelho e usando brinco um jovem ator tímido com potencial.

Apesar do sucesso, o filme não lhe abriu as portas. Ele conseguiu pequenos papéis no cinema e na TV, mas enfrentou muito preconceito por ser escocês, o que lhe trouxe problemas para arranjar um agente. Sua carreira foi construída em meio a altos e longos períodos de baixa. O Oscar também não lhe abriu as portas, forçando-o a buscar trabalhos como diretor de comerciais.

Entre seus trabalhos como ator estão o telefilme John & Yoko: a Love Story, no qual interpreta o músico George Harrison, e Ligações Perigosas, como Azolan, o empregado de Valmont (John Malkovitch), que faz uso de propina e sexo para obter informações valiosas para seu mestre. Ao longo dos anos, o ator foi visto em diversas séries e minisséries, entre elas, The Secret Agent, Prime Suspect (na qual interpretou um travesti chamado Vera), The Devil’s Whore, Fortysomething, Skins, The Field Of Blood The Hour, entre outrosEle também esteve no humorístico The All New Alexy Sayle Show, onde em uma de suas esquetes interpretou Sherlock Holmes.

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Como Frobisher em ‘Torchwood’ (Foto: BBC)

Já conhecia o ator de suas participações em séries e filmes, mas ele somente começou a chamar a minha atenção a partir de 2009, quando o vi na terceira temporada de Torchwood, o que me levou a assistir The Thick of It. Nestes dois trabalhos, Capaldi interpreta personagens opostos dentro de um mesmo ambiente.

Em Torchwood, ele é John Frobisher, um funcionário medíocre que passou a vida adulta no serviço público, onde se tornou responsável por limpar ou fazer o serviço sujo daqueles que estão acima dele, sem nenhuma expectativa de um dia ser recompensado por isso. Ele é o senhor celofane (quem viu o musical Chicago deve se lembrar do marido de Roxie que representa bem esse tipo de personagem), um sujeito a quem ninguém olha duas vezes, não guarda seu nome ou presta atenção no que diz.

Trabalhando no departamento que cuida da segurança interna do país, repentinamente esse homem simplório se vê jogado em meio a uma situação complexa que dependerá dele manter o controle para ser solucionada. Chega à Terra um alienígena que exige a entrega de 10% das crianças do planeta. Capaz de controlar as vontades e os movimentos dessas crianças, o alienígena se torna uma grande ameaça à humanidade. Tentando esconder do público a realidade, Frobisher recebe a incumbência de eliminar os membros sobreviventes do Torchwood e lidar com o alienígena de forma que a vida possa voltar à sua rotina sem qualquer sequela.

Qualquer outro ator poderia ter engrandecido o personagem a partir do momento que ele recebe suas ordens, transformando-o em uma pessoa com ares de superioridade, vilanesca ou caricata (afinal, estamos falando de uma série de aventura). Mas a construção que Capaldi fez do personagem é mais sensível e dramática. Frobisher se manteve o tempo todo o homem medíocre que sempre foi e sempre será. Embora eles existam, seus conflitos morais não dominam suas ações ou decisões. Para ele, esta é mais uma emergência em uma longa lista de problemas que ele já precisou resolver antes. A diferença é que ela vai gradualmente tomando novas proporções. Capaldi oferece um homem capacho do governo e do Primeiro Ministro, que ao final de tudo ainda é obrigado a sacrificar suas filhas para que elas sirvam de exemplo para a população. Este é seu limite. Após anos sem nunca lutar por nada na vida, nem erguer sua voz em protestos, Frobisher toma a decisão de sair de cena, levando com ele sua família.

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Bela compreensão e composição de personagem que pode ter passado despercebida por muitos que acompanharam os episódios. Em uma volta de 180º, Capaldi oferece em The Thick of It um personagem oposto a Frobisher. Aqui, ele também é um funcionário público que está há anos trabalhando para o governo. Tendo sobrevivido a diferentes ministros, Malcolm Tucker é o diretor de comunicação do governo.

Agressivo, estressado, com uma atitude de superioridade e um linguajar vulgar, Malcolm não baixa a cabeça para ninguém. Temido por todos que o cercam, conhecendo todos os truques, artimanhas e interesses por trás das boas intenções, Malcolm mantém o controle de tudo o que acontece ao seu redor, utilizando todas as armas ao seu alcance para proteger o governo. Sua justificativa para sua postura (se é que ele precisa dar) é a incompetência daqueles que o cercam. Geralmente agindo sem pensar, os membros do gabinete costumam criar situações que precisam ser controladas rapidamente antes que a imprensa tome conhecimento (embora por vezes os problemas sejam causados pelo próprio Malcolm). Os jornalistas também não são poupados da agressividade de Malcolm, que usa de chantagem, ameaças ou troca de favores para mantê-los sob controle.

A energia que o ator dá a Malcolm o faz saltar da tela, destacando-o dos demais do elenco. O personagem passa constantemente por mudanças de humor que vão da ira extrema à conversa banal. Na terceira temporada, Malcolm começa a vivenciar sua inevitável queda, o que o leva a passar por altos e baixos, forçando o ator a redirecionar constantemente a postura do personagem até o final da série na quarta temporada. Malcolm sabe que vai cair, mas ele está decidido a lutar até o último minuto.

Vale a pena lembrar que The Thick of It é uma série semi-improvisada. Com um pré-roteiro, os atores se reuniam para fazer a leitura após a qual eram convidados a improvisar em cima das cenas. A partir daí, um novo roteiro era montado, para incluir os melhores momentos das improvisações de cada personagem. Mais tarde, todas as cenas eram filmadas duas vezes. Na primeira, os atores seguiam à risca o novo roteiro. Na segunda, eles improvisavam em cima daquilo que foi escrito. O que ia para o ar era a junção dos melhores momentos dessas duas versões. Os atores recebiam os roteiros dois dias antes de filmar, sendo que, muitas vezes, horas antes de começar a filmar, eles eram reescritos. As mudanças de última hora levavam Capaldi a carregar o roteiro em meio aos documentos que Malcolm constantemente trazia consigo ou enviar ‘colas’ em mensagens de texto do celular, no qual seu personagem vivia conferindo chamadas e emails.

Capaldi e James Gandolfini em ‘In The Loop’, spinoff cinematográfica de ‘The Thick of It’, produzida entre a segunda e terceira temporada da série. (Foto: BBC Films)

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Esta série é o ponto alto da carreira de Capaldi. Malcolm mudou a vida do ator. Com este personagem ele ganhou prêmios, o respeito do público e o reconhecimento internacional. Ele abriu-lhe as portas para outros trabalhos, como a peça The Ladykillers, entre 2011 e 2012, com a qual foi aplaudido pela crítica. Esta é uma comédia de humor negro que já teve duas versões cinematográficas, uma em 1955 (britânica) e outra em 2004 (americana). Também foi seu trabalho como Malcolm que deu ao ator o aval dos fãs de Doctor Who para interpretar o Doutor. Quando o nome dele surgiu nas casas de apostas, a reação da imprensa e do público foi positiva. Muitos jornalistas acreditavam que o fato de Capaldi ser fã da série poderia fazer com que o ator tivesse dificuldades de recusar esta chance, caso de fato ela existisse.

Seu interesse pela série é conhecido por aqueles que já trabalharam com ele. No material bônus de The Thick Of It (DVD que traz os Especiais produzidos entre a segunda e terceira temporada), o produtor Adam Tandy, olhando uma foto de Capaldi, pergunta aos demais do elenco e da produção se eles acham que o ator teria chances de ser o próximo intérprete do Doutor em Doctor Who. Brincando, Armando Iannucci, criador da série, responde que eles deveriam começar a fazer campanha para isso, se propondo a escrever um episódio em que Malcolm passa pelo processo de regeneração.

Isto foi em 2009, último ano em que David Tennant estrelou Doctor Who. Nesta mesma época, Moffat chegou a cogitar Capaldi como um substituto de Tennant, mas acabou escolhendo Smith, que trouxe para a série um público mais jovem.

A expectativa com a contratação de Capaldi é a de que o ator possa oferecer um Doutor mais complexo. Alguém que demonstre carregar uma bagagem com vasta experiência de vida, que seja mais agressivo, misterioso e sombrio, sem descartar por completo o lado leve e cômico (quem sabe um pouco de sarcasmo?!). Sem dúvida, um terreno amplo e inexplorado (ao menos pela atual franquia). Embora ainda não saibamos qual será o rumo que a série de fato irá tomar ao atingir a meia-idade, é chegada a hora dela assumir sua maturidade, nem que seja por poucas temporadas.

Antes do anúncio de que Capaldi tinha sido escolhido como o novo protagonista da série, os produtores sofreram forte pressão (especialmente do público e da imprensa americana) para ceder e entregar o personagem a alguém que representasse a chamada minoria. A ideia era a de que o Doutor fosse interpretado por um negro ou por uma mulher. Sem de fato ignorar este pedido, Moffat escolheu alguém que representa uma ‘minoria’.

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Capaldi é um ator de 55 anos que nunca foi considerado um galã, o que decepcionou alguns fãs que esperavam ter um ator jovem e bonito substituindo Smith. Talvez se fosse uma produção americana este teria sido o caso. Por sorte esta é uma série britânica. Não apenas a decisão do produtor foi tomada no sentido oposto, como o canal BBC deu permissão para que a série seguisse esse caminho. Apesar de muitos ainda criticarem o fato de um negro ou uma mulher não ter sido escolhido, vale a pena ter em mente que a escolha de Capaldi abre as portas para que ele seja, no futuro, substituído por outro representante da ‘minoria’.

Capaldi repete o gesto de William Hartnell, primeiro ator a dar vida ao Doutor.

O ideal seria que Capaldi ficasse por duas temporadas. A primeira para estabelecer o personagem, a segunda para explorar seu potencial. A terceira, se existir, seria lucro, mas talvez não seja uma necessidade. Ao rever a última temporada de Smith, torna-se clara a necessidade que a produção tinha de mudar de rumo e trocar o ator, por melhor que ele tenha sido em sua interpretação. Seria bom que Capaldi permanecesse o tempo certo e necessário.

A escolha deste ator resgata as origens do personagem, quando o Doutor era interpretado por um homem de 55 anos, que tinha como companheira de viagem uma jovem de vinte e poucos anos. A relação do Doutor com Clara (Jenna Coleman) irá mudar, mas não deverá durar muito tempo. A expectativa é a de que Coleman deixe a série após a primeira temporada com Capaldi, abrindo novas oportunidades para os roteiros. Também espera-se que a relação do Doutor com River Song seja resolvida nesta encarnação e, quem sabe, um retorno do Mestre.

Capaldi tem, neste momento, quatro projetos em andamento. Além de Doctor Who, ele está no elenco de The Musketeers, na qual ele interpreta o Cardeal Richilieu. Esta é uma série que estreia no Reino Unido em 2014, mesmo ano em que os episódios de Doctor Who com Capaldi serão exibidos. Ainda não está claro mas, se The Musketeers for renovada, é provável que o ator continue no elenco, o que o forçará a dividir seu tempo entre as duas séries. Além delas, ele está no elenco de Driven e é o roteirista e diretor de Born to Be King, filme com Ewan McGregor e Kate Hudson. Esses dois filmes ainda não têm previsão de data para início de sua produção.

Cliquem nas fotos para ampliar.

A entrevista abaixo foi realizada em 2012, em Londres, na capela do House St. Barnabas. Gravada às 4 da manhã, a entrevista tem cerca de 100 minutos de duração e encerra com Capaldi cantando a música Pale Blue Eyes, de Lou Reed, em dueto com Richard Strange e Sarah Jane Morris. O trecho em que mostram a primeira cena de In The Loop está sem imagem, mas o som permanece. A imagem volta ao final da cena do filme.

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