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Nova Temporada

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Este é um espaço dedicado às séries e minisséries produzidas para a televisão. Traz informações, comentários e curiosidades sobre produções de todas as épocas.

‘Awake’, a série

Mais uma série que prometia tirar a TV americana da sua zona de conforto foi cancelada, com apenas uma temporada produzida. Awake é a segunda série criada por Kyle Killen, autor de Lone Star, também cancelada em seu primeiro ano, com poucos episódios exibidos. Mas, apesar dos fracassos de público, Killen conseguiu com essas duas produções mostrar […]

Por Fernanda Furquim Atualizado em 1 dez 2016, 17h23 - Publicado em 28 Maio 2012, 12h23

Mais uma série que prometia tirar a TV americana da sua zona de conforto foi cancelada, com apenas uma temporada produzida. Awake é a segunda série criada por Kyle Killen, autor de Lone Star, também cancelada em seu primeiro ano, com poucos episódios exibidos.

Mas, apesar dos fracassos de público, Killen conseguiu com essas duas produções mostrar ser um profissional no qual devemos ficar de olho no futuro.

Ele ainda não nos ofereceu uma obra de arte, mas se continuar a seguir o caminho que vem trilhando, ele logo criará a produção que o estabelecerá como um dos autores de respeito da TV americana.

Espero que ele migre para a TV a cabo, pois se permanecer na rede aberta, Killen corre o risco de se render à produção formatada que predomina nesse meio, apenas para ter um sucesso nas mãos.

Com treze episódios produzidos para a rede NBC, Awake trouxe a história de Michael Britten  (Jason Isaacs), detetive da polícia que sofre um acidente de carro, no qual também estavam sua esposa e seu filho. Um deles morreu. Ao acordar, Britten descobre estar preso entre duas realidades. Em uma delas, a realidade que ele classificou como vermelha, sua esposa está viva e seu filho morto. Na outra, conhecida como realidade verde, foi sua esposa que faleceu e seu filho sobreviveu.

Sem ter ideia do que está acontecendo, Britten frequenta o analista, por ordem do departamento de polícia. Em cada realidade, seu analista é uma pessoa diferente. Na vermelha ele é o Dr. Lee, e na verde é a dra. Evans quem cuida de seu caso. Britten revela aos dois o que está acontecendo: um dia ele vive com a esposa em uma realidade, no dia seguinte ele desperta na realidade em que o filho está vivo.

Tentando convencê-lo de que a outra realidade é um sonho, os analistas procuram fazer com que Britten entenda que ele criou em sua mente  um mundo no qual sua esposa/filho está vivo porque sua mente não aceita a perda. Desta forma, os analistas servem como narradores da história, explicando para o público o que está acontecendo na vida de Britten e em sua mente.

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Neste meio tempo, ele mantém suas atividades como policial, sendo que utiliza pistas e evidências encontradas em uma realidade para solucionar o crime que está investigando na outra. Em uma realidade ele tem um novo colega de trabalho, na outra ele trabalha com seu antigo parceiro na polícia. No entanto, nas duas realidades ele tem como chefe a mesma pessoa, que se revela nos dois mundos ser alguém em quem não se pode confiar.

Awake não é a primeira série da NBC na qual um personagem passa de um período a outro tentando entender e se adaptar à sua nova situação. Citando dois exemplos mais recentes temos Contratempos/Quantum Leap, de Don Bellisario, produzida entre 1989 e 1993, na qual um cientista viaja em seu próprio período de vida, trocando de lugar com pessoas no passado para consertar o que uma vez saiu errado. Assumindo a vida daquela pessoa, ele é visto por terceiros como a pessoa que eles conhecem, o que o força a se comportar como ela. No tempo presente, a pessoa que trocou de lugar com ele se parece com o cientista. Em função disso, o governo não acredita que a experiência de viagem no tempo deu certo.

Em 2007 o canal voltaria ao tema exibindo uma única temporada de Journeyman, de Kevin Falls. Nesta, um jornalista que vive com sua esposa e seu filho se vê repentinamente viajando constantemente para o passado para ajudar a outras pessoas a mudar seu destino. Sendo que, no passado, ele ainda está envolvido com uma mulher de quem foi noivo e que teria morrido em um acidente de avião.

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Hannah, Britten e Rex

Agora a NBC tentou novamente explorar esse tema com Awake: uma pessoa vivendo em diferentes realidades, nas quais, de alguma forma, ajuda as pessoas que estão a sua volta.

Seguindo a linha dos filmes A Origem e Giulia e Giulia, a diferença de Awake em relação às produções anteriores é que esta trouxe um novo ingrediente.

O personagem não está pulando entre o presente e o passado, mas entre duas realidades paralelas, uma das quais é fruto de sua imaginação. É o passo além para uma abordagem mais complexa do mesmo tema.

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O texto abaixo contém spoilers.

Basicamente, a história de Awake gera duas interpretações. A primeira seria a de que Britten está em coma no hospital (à la Life on Mars), criando em sua mente esses dois mundos.

A segunda, a de que ele de fato vive em uma das realidades, sendo que a outra é fruto de sua imaginação.

Em entrevistas, após a exibição do último episódio, o autor revelou que ao longo da produção da única temporada da série eles trabalharam com a ideia de que um dos mundos era real e o outro era fruto da imaginação de Britten, mas não chegaram a definir qual era qual.

Se levarmos em consideração o fato de que a perda do filho, morto em um acidente provocado por ele, teria sido muito mais insuportável para Britten aceitar do que a perda da esposa, poderíamos concluir que a realidade em que Hannah está viva (a vermelha) de fato existe. Desta forma, ele teria criado uma realidade alternativa, na qual decidiu que seu filho sobreviveu.

Ao longo da série, alguns detalhes e o comportamento de Britten reforçam essa ideia. O primeiro episódio abre com o enterro do filho. Ao longo dos episódios, Britten se envolve muito mais com a vida de Rex que com a de Hannah, de quem ele mantém uma certa distância emocional e interesse, deixando que a esposa busque sozinha uma forma de lidar com a perda do filho. Na realidade verde, em que seu filho está vivo, Britten ainda trabalha com seu ex-parceiro, mostrando o desejo de que sua vida continue a ser como era antes.

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Na realidade vermelha, ele não confia em seu novo parceiro, um jovem sobre o qual ele não tem controle, não aceitando as mudanças de sua vida. Além disso, Hannah está sempre fazendo o movimento de seguir em frente, de aceitar as mudanças, o que Britten tenta evitar o máximo que pode.

Nas duas realidades, Rex está sempre presente na mente do pai, dando a entender que ele não consegue esquecer ou superar a perda do filho: quando Britten está com Rex, ele tenta se envolver e conhecê-lo melhor, e quando Britten está com Hannah, Rex é sempre o assunto principal (lembrando que não temos informações sobre o relacionamento do casal antes do acidente).

No terceiro episódio é o filho de Britten que é sequestrado, não a esposa, mostrando o terror que ele tem de perder Rex. O caso é solucionado e Britten resgata o filho, o que pode significar seu desejo subconsciente de ter salvo sua vida no acidente de carro. Neste mesmo episódio, Rex grava uma mensagem de despedida para o pai, na qual ele diz amá-lo e perdoá-lo.

No décimo primeiro episódio, Britten fica preso na realidade em que Hannah está viva, sem conseguir voltar para o outro mundo. Isto ocorre depois que ele, no mundo de Rex, acidentalmente encontra com o homem que teria provocado o acidente. O encontro teria interrompido o movimento que o subconsciente dele vinha fazendo, de migrar de um lado para outro. Com isso, ele é forçado, pela primeira vez em seis meses, a enfrentar a perda do filho.

Ao invés de ir até a realidade onde está o filho, é o homem que ele encontrou por lá que fica aparecendo na realidade em que Hannah ainda está viva, forçando Britten a perceber que ele está deixando passar algo, o qual precisa ser investigado. Quando descobre o que é, sua mente o leva de volta ao filho. Por fim, para reforçar a teoria de que a realidade com Hannah existe de fato, o dr. Lee está sempre tentando trazê-lo de volta enquanto a dra. Evans expressa sua admiração pela capacidade de Britten em criar um mundo a ponto de não conseguir distinguir o que é real e o que não é.

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Seja como for, enquanto que para o público eram incluídas pistas que conduziam o telespectador a escolher qual mundo era real e qual era fruto da imaginação do personagem, para Britten eram jogadas pistas que aos poucos mostraram para ele o que provocou o acidente. Juntando as peças, ele chega à conclusão de que o acidente foi provocado por terceiros (nos dois mundos).

Buscando uma forma de provar sua teoria e de se vingar daqueles que mataram sua esposa/filho, Britten coloca sua posição na polícia em risco. Em uma das realidades, a da esposa viva, Britten é acusado do assassinato de seu ex-parceiro. Na realidade em que seu filho está vivo, ele é acusado de tentar matar uma das pessoas responsáveis pelo acidente. No mundo em que a esposa está viva, ele é preso, no outro ele consegue revelar que o acidente que matou um membro de sua família estava relacionado à corrupção na polícia, o que o torna uma espécie de herói.

Independente de deterem os responsáveis pela tragédia nos dois mundos, a situação em que ele se encontra na realidade vermelha, na qual ele está preso, o leva a mergulhar ainda mais em seu subconsciente. Assim, enquanto está na cadeia, ele se vê visitando a outra realidade (a verde) em busca de evidências que possam livrá-lo.

Como resultado, ele cria uma terceira realidade (ou um breve espaço de tempo), na qual ele acorda e descobre que não houve um acidente e sua esposa e filho estão vivos.

É aí que a série termina, já que ela não foi renovada para sua segunda temporada. Desta forma, muitos poderão concluir que este final revela que tudo o que ele viveu ao longo da série seria apenas um sonho e que o acidente não aconteceu.

Mas este seria apenas mais um sonho criado por Britten, que ainda estaria preso na cela, acusado de assassinato.

O fato de estar preso (na realidade em que Hannah está viva) seria tão insuportável de aceitar (da mesma forma que a vida sem o filho teria sido inaceitável), que sua mente teria criado uma forma de escapar da prisão: refugiar-se na realidade verde, onde o filho está vivo e ele está livre. Antes de mergulhar mais fundo nesse mundo, ele se despede de Hannah na realidade vermelha.

Porém, já na realidade verde, em conversa com a dra. Evans, ele revela não estar satisfeito com o resultado, dizendo desejar uma máquina do tempo para voltar à época que tudo estava bem. É então que ele entra para uma nova realidade criada em sua mente, a de que o acidente não ocorreu.

Apesar da proposta ser intrigante o suficiente para estimular o telespectador a acompanhar Awake, a série se apoia em dois pontos fracos: a necessidade de adotar uma narrativa procedimental e a presença de uma conspiração por trás do acidente. É bem verdade que os roteiristas souberam fazer bom uso da narrativa, na qual Britten precisa solucionar um caso por semana (chegando a dois se levarmos em conta cada uma das realidades em que ele vive). Mas, ainda assim, ela tranca o fluxo da história e da situação de Britten, que poderia ter sido melhor explorada, fazendo uso da liberdade criativa, como foi visto nos últimos episódios.

Já a presença de uma conspiração no mundo real de Britten (seja ele qual for) reduz a culpa do personagem em torno do acidente (o qual é uma constante nas duas realidades). Com certeza teria sido muito mais interessante ver um personagem que sabe (consciente e inconscientemente) ser culpado pela morte do filho ou da esposa. Que ele criasse a conspiração em sua mente, jogando para terceiros a responsabilidade pela perda de alguém que ele ama, em uma das realidades. Mas na outra ele teria que lidar com a responsabilidade ou justificar o acidente de outra forma, o que tornaria a trama muito mais complexa.

É claro que, se a série tivesse sido renovada, existiria a possibilidade de nenhum dos dois mundos ser real, o que justificaria ele jogar a responsabilidade para terceiros nos dois mundos. No entanto, levando em consideração a declaração do autor que, neste momento, eles trabalhavam com a ideia de que um dos mundos era real e o outro não, o fato da conspiração também existir na vida real limita a perturbação psicológica do personagem, dando-lhe uma tábua de salvação e o perdão.

De qualquer forma, a série vale mais pelos três últimos episódios (de um total de treze), pois é neles que vemos os roteiristas explorarem de fato a situação psicológica na qual Britten se encontra. Os dez primeiros episódios apresentaram os personagens. Embora tenham sido utilizados para introduzir dúvidas sobre qual das duas realidades existe de fato e estabelecer sua situação, boa parte do tempo é dedicada aos casos que Britten investiga. Os personagens coadjuvantes são pouco explorados e a narrativa procedimental leva à repetição de elementos que compõem o quadro geral.

Pela forma como terminou, percebe-se que a serie conseguiria estabelecer melhor sua proposta na segunda temporada. Teria sido interessante ver como os roteiristas lidariam com a gravidez de Laura Allen (Hannah), se é que eles a incluiriam na trama. Mas, visto que o público liga a TV apenas para se divertir sem querer ter o trabalho de pensar, Awake é só mais uma produção frustrada que, com o tempo, será esquecida, como tantas outras antes dela.

Cliquem nas fotos para ampliar.

Fernanda Furquim: @Fer_Furquim

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