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‘The Walking Dead’ in memorian: Um tributo aos bons anos da série

Seriado extrapolou os limites ao chegar até sua 11ª temporada – mas, no começo, alguns momentos foram memoráveis

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 21 nov 2022, 08h45

Em um hospital abandonado, o policial Rick Grimes desperta de um coma para acordar em um pesadelo: as pessoas sumiram e as ruas foram tomadas por zumbis famintos por carne humana. Assim começa a série The Walking Dead. A produção, lançada em 2010, rapidamente virou um fenômeno de audiência — ciclo que se encerrou neste domingo, 20, com a exibição do último episódio da série, em sua 11ª temporada (o capítulo já está disponível na plataforma Star+). A trama fantasiosa e visceral, adaptada dos quadrinhos do autor Robert Kirkman, quebrou barreiras: até então, as séries para adultos eram muito pé no chão – e Game of Thrones só estrearia um ano depois. Nesse mundo pós-apocalíptico, sobreviventes se unem e estabelecem diferentes artimanhas para sobreviver — afinal, os zumbis são sim malvados, mas os humanos em um mundo sem leis podem ser ainda piores. O início instigante e divertido se desfez ao longo da trajetória. Uma pena. The Walking Dead foi esticada por mais tempo do que deveria, se tornando uma trama de violência gratuita com um roteiro que andava em círculos. Para não ser enterrada em total desonra, a série merece ser lembrada pelos seus louros iniciais. A seguir, alguns destes pontos louváveis:

Evolução dos personagens – especialmente a voraz Carol

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Melissa McBride na série The Walking Dead (//Divulgação)

Nos quadrinhos, a personagem vivida por Melissa McBride dura pouco. Na série, ela é uma das poucas do grupo inicial apresentado na primeira temporada a chegar até o final. Vítima de violência doméstica, ela sobrevive ao marido abusivo no apocalipse zumbi e protagoniza uma das tramas mais instigantes do começo da série: o desaparecimento de sua filha Sophia. A menina é encontrada, vários episódios mais tarde, num celeiro de uma fazenda – numa das cenas mais memoráveis da série. Carol não está só entre os que conseguiram se reinventar pós-fim do mundo. Para sobreviver à nova ordem imposta, todos os personagens precisaram rever seus conceitos e valores. Aqui, os fracos não sobrevivem. Os malvados não duram tanto quanto acreditam que vão durar. E o luto se transforma em combustível para continuar. Como provou Maggie (Lauren Cohan) e o padre Gabriel (Seth Gilliam), para citar alguns.

Vilões memoráveis 

O ator Jeffrey Dean Morgan na pele de Negan, o grande vilão de 'The Walking Dead'
O ator Jeffrey Dean Morgan na pele de Negan, o grande vilão de ‘The Walking Dead’ (Divulgação/VEJA)

A partir da terceira temporada, os zumbis se tornam secundários diante da maldade humana. O primeiro grande vilão da série foi o Governador (David Morrissey), um homem dissimulado que criou uma comunidade aparentemente segura antes de se revelar um monstro de primeira grandeza. Outros vilões passaram pela trama, mas só Negan (Jeffrey Dean Morgan) foi capaz de fazer o Governador parecer um ursinho carinhoso. O personagem vilanesco, porém, foi um divisor de águas da série: The Walking Dead ficou ainda mais violenta com a chegada dele, o que afastou muitos espectadores a partir da sexta temporada. No final, a vilã era a governadora Pamela (Laila Robins), que emulava os políticos dissimulados e insensíveis que existem fora da série.

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Religião, filosofia e política

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Padre Gabriel (Seth Gilliam), em cena da nona temporada da série ‘The Walking Dead’ (Gene Page/AMC/Divulgação)

Combustível da série, as discussões sociais em um mundo sem regras deu origem até a livros analisando os contornos da natureza humana em um apocalipse zumbi. A cada episódio e decisão dos personagens, os espectadores do outro lado podiam se questionar: nessa situação, como eu agiria? Minha fé continuaria a mesma? Eu seria capaz de matar? Eu teria chances de sobreviver? As questões saltavam ao longo do roteiro no início — mas se tornaram banais próximo ao final.

Reconstrução e atualidade

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Pôster da 9ª temporada de ‘The Walking Dead’ (//Divulgação)

A partir da nona temporada, a série deu saltos temporais e viradas no roteiro. Enquanto os Estados Unidos lidavam na vida real com a polarização política, o governo Trump e protestos antirracismo, a série tentou acompanhar mostrando a vida em uma Washington em ruínas enquanto os sobreviventes tentavam reconstruir uma nova sociedade. Tratados, leis, comércio e regras começaram a ficar mais claras – mesmo que não fossem seguidas. A esperança de dias melhores parecia a luz no fim do túnel. Mas para The Walking Dead o esgotamento já era uma realidade. Mesmo em queda de audiência e até depois de perder seu protagonista – Andrew Lincoln, o policial Rick que desperta do coma no primeiro episódio, deixou o elenco na nona temporada –, a série insistiu em continuar. Não só continuou como ainda deixou filhotes: além das duas séries derivadas já em exibição, três outras produções com alguns dos protagonistas estão em desenvolvimento. Esse apocalipse não tem fim. 

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