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Críticas e análises sobre o universo da televisão e das plataformas de streaming
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‘Seinfeld’ na Netflix: o que sobreviveu e o que ficou datado na série

Após 23 anos de seu fim, a série conserva seus principais trunfos, mas contém lances que podem melindrar os jovens atuais

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 19 jan 2024, 12h15 - Publicado em 4 out 2021, 10h53

Em um acordo multimilionário, a Netflix desembolsou cerca de 500 milhões de dólares (aproximadamente 2,7 bilhões de reais) para ter em seu catálogo os 180 episódios de Seinfeld. Um investimento de nada menos do que 2,7 milhões de dólares por episódio, segundo a revista The Hollywood Reporter. Exibida entre 1989 e 1998, a “série sobre o nada” de Jerry Seinfeld revolucionou o humor na TV com sua incorreção hilária. Mas, com seu retorno turbinado na plataforma de streaming, nesta sexta-feira 1º, uma pergunta fica no ar: será que o humor de Seinfeld resistiu ao tempo?

O desafio é saber se, 23 anos após o fim da atração, ela teria força para conquistar uma nova geração de fãs. Acostumado a rir de memes e navegar nas redes sociais, o público de hoje talvez não veja nexo em uma piada de 1991 como aquela, por exemplo, em que Seinfeld se irrita em não saber quem está passando trote para sua casa. Telefone fixo, o que é isso? Cadê o identificador de chamadas?

A série funcionava quase como uma crônica do cotidiano de um nova-iorquino médio. Boa parte da graça estava, justamente, na identificação do público com aquelas situações prosaicas. Esse tom de crítica, que era a grande sacada de seu humor “sobre o nada”, ironicamente tenha se convertido em empecilho para atrair novos espectadores: é um “nada” muito distante no tempo dos mais jovens.

Mas o principal ponto é outro: as piadas de Seinfeld foram feitas num tempo em que ainda se podia fazer humor afiado sem se preocupar com a correção política (ou melhor: um tempo em que desafiar a correção era prova de inteligência). Há episódios com tiradas que as suscetibilidades contemporâneas agora denunciariam como gordofóbicas, machistas, sexistas e homofóbicas. Essa incorreção, talvez, não sobreviva ao crivo do tempo. Mas, mesmo nesse aspecto, há de fazer justiça antes de cancelar a série no altar das redes. Foi em Seinfeld que, pela primeira vez, houve um cuidado para não se cruzar a linha entre o humor ofensivo e o politicamente incorreto. Por exemplo: em um episódio, Seinfeld e George são confundidos com um casal gay. Em vez de se irritarem com a situação, os dois soltam a frase: “Mas não há nada errado em ser gay”. Antes desse episódio, as piadas de cunho homofóbico nas comédias americanas sempre surgiam como uma forma de constranger ou ofender alguém.

Deixando de lado a cobrança politicamente correta, o que importa, no final das contas, é que as piadas, gags e sacadas de Seinfeld continuam engraçadíssimas. O timing  cômico dos atores, as pequenas reviravoltas inesperadas e o nonsense de algumas situações fizeram a fama do programa – e, se essas características foram engraçadas no passado, continuam hilárias no presente. Um exemplo clássico é a tirada em torno do “Festivus”, um feriado que a família de George celebra no dia 23 de dezembro –  seu símbolo é um poste, e ele foi criado para que as famílias celebrem as festas de fim de ano sem pressões comerciais. Um humor simples e eficiente.

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