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Críticas e análises sobre o universo da televisão e das plataformas de streaming
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‘Scenes from a Marriage’, da HBO, recria o clássico de Ingmar Bergman

Na série, um casal em crise expõe, em diálogos lancinantes, as dores de uma união aparentemente feliz

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h49 - Publicado em 12 set 2021, 08h00

Qual é o segredo de um casamento bem-sucedido? A pergunta da pesquisadora incomoda Jonathan (Oscar Isaac) e Mira (Jessica Chastain). “Qual sua definição para o termo sucesso?”, questiona o marido. Vivendo juntos há uma década, os dois ganharam o carimbo de vitoriosos ao cruzar a média de pouco mais de oito anos de duração dos matrimônios nos Estados Unidos. Ele, professor de filosofia, e ela, da área de tecnologia, aceitaram participar do estudo que investiga como as normas de gênero afetam uniões monogâmicas com inversão dos papéis tradicionais — no caso, a mulher é a principal provedora e o homem, o “dono de casa”. Sob a configuração modernosa, porém, há fios soltos que aos poucos — e depois violentamente — desvelam as fissuras dos protagonistas de Scenes from a Marriage, minissérie que chega no domingo 12, às 22h, à HBO e ao HBO Max.

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O programa em cinco episódios é uma releitura de Cenas de um Casamento, série sobre os meandros da vida a dois criada em 1973 pelo sueco Ingmar Bergman (1918-2007). A ideia de refazer o clássico com a perspectiva de um casal contemporâneo foi levada por Daniel Bergman, produtor e um dos nove filhos do cineasta, ao israelense Hagai Levi (de Em Terapia). Levi teve dúvidas sobre como regravar uma obra tão consagrada, mas achou um caminho ao perceber a ligação inescapável do tema com sua vida pessoal. Recém-divorciado, o diretor e roteirista fez como o próprio Bergman — que, ao escrever a série, expiou os tormentos da conturbada relação com a atriz Liv Ullman, protagonista da versão original. A partir da experiência real, ele encara a mesma missão excruciante a que Bergman se propôs: a de sondar não só um casamento em declínio, mas a complexa teia de sentimentos, expectativas e obrigações que conecta um casal — às vezes, não rompida nem mesmo pelo divórcio.

ORIGINAL - Liv Ullman e Erland Josephson: divórcios subiram após série sueca -
ORIGINAL - Liv Ullman e Erland Josephson: divórcios subiram após série sueca – (Cinematograph AB/.)

Bergman não inventou, mas sua série inevitavelmente se impôs como padrão-­ouro de um subgênero temático: a “ficção DR”, calcada em diálogos que reproduzem diante da câmera o velho (e nem tão) bom hábito de “discutir a relação”. Seria demais exigir de Levi uma condução tão brilhante quanto a do mestre sueco, mas é inegável que ele se move com desenvoltura numa trama em que o peso de cada palavra, os silêncios e expressões buscam traduzir as sutilezas da intimidade do casamento. As situações são um convite para o voyeurismo — quem não gosta, afinal, de espiar a infelicidade amorosa alheia? Explorado à exaustão por Woody Allen e Richard Linklater, seguidores aplicados de Bergman, o formato voltou a ganhar força recentemente em filmes como o brutal História de um Casamento (2019), com Scarlett Johansson e Adam Driver, o doce Malcolm & Marie (2021), estrelado por Zendaya e John David Washington, e a sensível série Normal People (2020). Em comum, todos provam que transpor as barreiras da incomunicabilidade numa relação é dureza — e quase sempre resulta em barracos cabeludos.

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Na trama de Bergman, Marianne, personagem de Liv, é oprimida pelo marido infiel (vivido por Erland Jo­seph­son). Ela se reinventa após a separação — o que levou a série a ser acusada de aumentar o número de divórcios na Suécia nos anos 70. No remake, que se desdobra ao longo de cinco anos em Boston, os personagens ganham mais camadas, e toques de modernidade. O marido exibe fragilidade e resquícios da educação repressora de judeu ortodoxo. A esposa, imersa no trabalho, carrega a culpa de não ser uma mãe presente, e a repulsa pela estagnação: ao contrário de Jonathan, é Mira quem despreza a zona de conforto. Ela o trai — e ele é quem desabrocha em seguida. Os episódios começam de forma curiosa: nos bastidores, na era Covid-19, todos estão de máscara e a câmera segue os atores até a claquete bater. O recurso é um flerte com o clima teatral de Bergman — que, com orçamento ínfimo, fez a série em cenário minimalista. É também um lembrete de que nem tudo é o que parece na rotina do casal. A felicidade só dura até que a vida os separe.

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Publicado em VEJA de 15 de setembro de 2021, edição nº 2755

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