Olympo confirma força das séries espanholas movidas pelo sexo e nudez
Netflix se confirma como paraíso de um nicho sugestivo: atrações em que a trama importa menos do que as cenas picantes

A cada corte, a câmera se aproxima mais das gotas de suor falso reluzente, dos músculos que se tensionam nos pescoços, ombros e peitorais e das expressões de dor e esforço que podem facilmente verter em prazer. No primeiro trailer divulgado da série Olympo, detalhes da trama pouco importavam. O que o público precisava saber é que, menos de um ano após o fim de Elite, a produtora espanhola Zeta Studios já havia criado outra série novelesca na qual jovens de corpos esculpidos competiam por algum status social e, no caminho, cometiam crimes e se atracavam repetidamente. Além disso, a ambientação não mais seria um colégio particular no qual filhos dos abastados vestem paletó, mas um ginásio de alta performance onde os melhores atletas do país estão sempre seminus, suados — ou ambas as coisas, quando na sauna. Orgulhosamente sem vergonha, a Netflix virou o paraíso de produções desse tipo — e encontrou na Espanha seu parceiro de negócios ideal para apimentar o catálogo com produções como a recém-lançada Olympo.

Livre dos grilhões da TV aberta, em que as ousadias são limitadas pelo alcance irrestrito (inclusive a crianças e idosos), o streaming pode carregar nas doses de libido sem medo de ser feliz. A Netflix sempre se equilibrou entre produções de prestígio capazes de lhe dar respeitabilidade em Hollywood, de House of Cards a The Crown — e, no paralelo, o apelo a certo erotismo pop. Na rede X, a conta oficial da divisão brasileira celebrou o lançamento de Olympo com uma simples pergunta: “Corpos malhados, doping, drama e (muita) pegação. Precisa de mais?”. Como a série logo escalou ao topo dos títulos mais assistidos no país, é justo pensar que não. O doping e o drama, aliás, são detalhes. Dois dias depois, o perfil foi mais direto e listou seis das “cenas mais quentes de Olympo” com minutagem correspondente, dando uma mão para o público que sabe o que quer. Diversas outras publicações exibem o elenco masculino sem camisa ou a protagonista de maiô, acumulando dezenas de milhares de curtidas.
Quem vê a publicidade imagina que o conteúdo seja chocante. Junto às propagandas da plataforma, afinal, é fácil encontrar comentários que acusam o filão espanhol de ser pura pornografia. Um paralelo melhor, porém, seriam os velhos romances de banca de jornal sobre tentações eróticas, ou as próprias telenovelas. A nudez raramente vai além de um busto exposto e as cenas de sexo são claramente simuladas pelos atores. O que muda é a intensidade bem maior do que a exibida na TV aberta — e o leque diverso de possibilidades. Tanto em Elite quanto em Olympo, o direito ao sexo é estendido a casais gays e lésbicos, que dão muito mais que selinhos. A repaginação atrai o público adulto acostumado a folhetins — mas também os jovens.

Quando foi lançada, em 2018, Elite foi vista por mais de 20 milhões de contas ao redor do globo, segundo a plataforma. Já em 2023, a agência Parrot Analytics conduziu estudo que indicou que 27% dos espectadores da série no ano anterior haviam assinado a Netflix apenas em nome dela, um terço dos quais abandonou a HBO Max para tal. Com oito temporadas, ela se tornou a produção internacional mais longeva da Netflix. O sucesso foi parte do que motivou o CEO Ted Sarandos a anunciar que a empresa vai investir mais de 1 bilhão de euros na indústria audiovisual espanhola entre 2025 e 2028, dez anos após o início de sua atuação no país. O plano é continuar a parceria que já gerou 1 000 títulos espanhóis inéditos, 20 000 empregos e 5 bilhões de visualizações de programas — além de uma indicação ao Oscar com o filme Sociedade da Neve (2023).

Com isso, as produções da Zeta Studios já ganham sucessoras cheias de volúpia dentro da própria plataforma — nenhuma das quais ainda conseguiu chegar ao mesmo patamar de sucesso. Da série espanhola adolescente Merlí (2015-2018), que acompanhava alunos de um curso de filosofia no ensino médio, surgiu Sapere Aude (2019-2021), sobre as descobertas sexuais de um universitário sem rótulos. Já em 2022, a produtora Brutal Media tentou emplacar Bem-Vindos ao Éden, com a história de jovens libidinosos presos numa seita, mas a trama não passou da segunda temporada. Fora da Espanha, surgiram outras séries de qualidade mais duvidosa e dramaticidade coruscante. Do México, veio Desejo Sombrio (2020-2022); da Colômbia, Perfil Falso (2023); e do Brasil, Olhar Indiscreto (2023) — todas produções que mesclam intrigas criminais a muito sexo encenado e lingerie cafona. No mundo do streaming, quem diria, nenhum tempero é tão eficaz quanto a pimentinha espanhola.
Publicado em VEJA de 27 de junho de 2025, edição nº 2950