No Céu não tem negro? Como A Viagem se tornou centro de polêmica racial
Novela espírita da Globo exibida originalmente em 1994 voltou ao ar no 'Vale a Pena Ver de Novo'

No ar no Vale a Pena Ver de Novo desde segunda-feira, 12, A Viagem se tornou centro de uma polêmica racial quando fora exibida originalmente, em 1994. Três décadas atrás, a novela espírita da Globo foi criticada pela ausência de negros na trama, especialmente nas cenas que imaginavam como seria o Céu — e no plano espiritual para onde as pessoas boas supostamente iam, só havia brancos, a princípio.
A trama escrita por Ivani Ribeiro segue a história de Alexandre (Guilherme Fontes), um bandido que tira a própria vida após ser condenado por roubo seguido de homicídio — crimes que ele de fato cometera. No Além, o personagem é encaminhado ao Vale dos Suicidas, um lugar de sofrimento eterno que condena as almas que vão para lá. Sem conseguir evoluir, Alexandre passa a atormentar a vida na Terra de Raul (Miguel Falabella), Téo (Maurício Mattar) e Otávio (Antonio Fagundes), que, segundo ele, são responsáveis por seus infortúnios, além de Diná (Christiane Torloni).
Em determinados pontos da história, Diná morre e vai para o Céu, um lugar tranquilo, repleto de atendimentos aos espíritos recém-chegados. Um detalhe nessas cenas do plano superior passou a incomodar associações que defendiam a equidade racial nas telas na vida real: a ausência de atores negros negros.
Isso teria ocorrido por um descuido de diretores da Globo que acabaram deixando de fora dos quadros os figurantes negros contratados apenas para preencher espaço. “Eles pediram gente de todo o tipo, negro, branco, japonês e índio, mas nas primeiras gravações os negros quase não apareceram”, declarou o produtor Carlos Dias, da agência de figurantes Ceumar, em entrevista à Folha em 1994. “Eu rodei a baiana lá na produção e perguntei se negro não entrava no Céu”, disse Don Marco Maguila, dono da agência de figurantes Afro Brasil à mesma reportagem.
Após as reclamações, figurantes negros começaram a aparecer na segunda metade de A Viagem, e a atriz Léa Garcia (1933-2023) — uma das primeiras atrizes negras a trabalhar na dramaturgia — foi escalada para ter falas em cena. Ela interpretou Natália, espírito que explica para Diná que ela morreu e está no Céu.

Acompanhe notícias e dicas culturais nos blogs a seguir:
- Tela Plana para novidades da TV e do streaming
- O Som e a Fúria sobre artistas e lançamentos musicais
- Em Cartaz traz dicas de filmes no cinema e no streaming
- Livros para notícias sobre literatura e mercado editorial