Estrela de Law and Order exorciza trauma familiar no doc Minha Mãe Jayne
A sex symbol Jayne Mansfield tem sua vida resgatada pela filha Mariska Hargitay, atriz que revela ao mundo seu pai biológico — um brasileiro

Aos 3 anos de idade, Mariska Hargitay dormia no banco de trás de um carro quando sofreu um acidente feio ao lado de dois irmãos, do padrasto, Sam Brody, e da mãe, Jayne Mansfield — atriz e sex symbol que caíra no ostracismo após anos rivalizando com Marilyn Monroe em Hollywood, nas décadas de 1950 e 1960. Por milagre, Mariska e os irmãos sobreviveram, mas os adultos morreram instantaneamente na estrada da Rota 90, em Louisiana, na madrugada de 29 de junho de 1967. Jayne tinha só 34 anos — dois a menos do que Marilyn à época de sua morte, em 1962, em mais uma semelhança entre as duas — e se tornaria uma sombra na vida de Mariska.
Agora, no documentário Minha Mãe Jayne, já disponível na Max, a filha ilumina a memória da mulher que a deu à luz e também revela um segredo escondido há décadas: criada e registrada pelo ator e fisiculturista húngaro-americano Mickey Hargitay (1926-2006), de quem carrega o sobrenome, a artista na verdade é filha biológica do músico brasileiro Nelson Sardelli, que viveu um romance breve com sua mãe num período em que Jayne e Mickey estavam separados. A relação com os dois pais também é um tema central do doc.

Hoje, aos 61 anos, Mariska é a protagonista da série dramática mais longeva da televisão americana, Law & Order: Special Victims Unit, que já dura mais de 25 anos e lhe rendeu estatuetas do Emmy e do Globo de Ouro por seu trabalho como a capitã Olivia Benson. O papel da detetive durona que caça abusadores sexuais a inspirou ainda a fundar uma ONG que ajuda sobreviventes de estupro. Toda dedicação à série e à filantropia, confessa ela, serviam como forma de se afastar da imagem da mãe, que a constrangia — afinal, Jayne foi alçada ao estrelato após estampar uma capa da Playboy. Por falar vários idiomas, tocar piano e violino, a diva ganhou da revista Life o título de “loira burra mais inteligente da Broadway”. Antes de virar uma das figuras mais desejadas pelos homens, Jayne sonhava em ser atriz dramática, tendo disputado o papel de Joana d’Arc. Um produtor de elenco, porém, convenceu-a a imitar Marilyn, e ela assim fez sucesso com a comédia romântica Em Busca de um Homem (1957). Em 1963, no filme Promessas! Promessas!, ela exibia suas curvas em boa parte dos 75 minutos de trama. O estigma de símbolo sensual a perseguiu até o fim precoce.
Após anos de terapia, Mariska decidiu resgatar a história de Jayne em sua estreia como diretora, como forma de fazer as pazes com seu passado, além de dar dignidade à história da mãe. “Eu tinha vergonha das escolhas que ela fez”, admitiu Mariska recentemente. O sentimento mudou quando Hargitay desmistificou essa imagem. A viagem no tempo curou feridas.
Publicado em VEJA de 27 de junho de 2025, edição nº 2950