De Clara Moneke a beijo lésbico vetado: 5 acertos e 3 erros de ‘Vai na Fé’
Novela das 7 da Globo chega ao fim colhendo louros e críticas -- mas fez história na emissora de várias formas

Vai na Fé chega ao fim na próxima sexta-feira, 11, consagrada como um dos maiores sucessos da Globo dos últimos anos. A novela das 7 não só bateu recorde de faturamento publicitário, com 15 patrocinadores ao longo da trama, como a história criada por Rosane Svartmann também arrematou o público, registrando o maior ibope da faixa desde Salve-se Quem Puder (2021). Entre acertos e erros, o folhetim teve muito mais pontos positivos que serão lembrados pelo público. Confira:
Os 5 acertos
Produção de ponta
A novela escrita por Rosane Svartmann contou com a colaboração de um time afiado para os roteiros: Mário Viana, Renata Corrêa, Pedro Alvarenga, Renata Sofia, Fabrício Santiago e Sabrina Rosa. Combinada a isso, a direção artística de Paulo Silvestrini proporcionou uma série de cenas e textos impecáveis que abordaram de forma brilhante temas espinhosos, como abuso sexual, luto, racismo, bissexualidade, etarismo, aborto, entre outros. De forma leve e sensível, Vai na Fé emocionou em momentos como a sequência em que Sol (Sheron Menezzes) percebe que havia sido estuprada no passado por Théo (Emilio Dantas), ou a morte de Dora (Claudia Ohana) em decorrência de um câncer terminal.
Casal de mocinhos
A química incontestável de Sol e Ben (Samuel de Assis) foi baseada nas cenas de suas versões jovens na produção, e o casal levou mais de 120 capítulos para voltar a ficar junto ao ar — uma eternidade em termos de novela –, mas a espera valeu a pena. Embalada pelo hit Garota Nota 100, cantada por Ludmilla, o par romântico foi um sucesso na tela. Além disso, foi a primeira vez na história que a emissora promoveu um casal de protagonistas negros.
Clara Moneke (e elenco no geral)
Sensação de Vai na Fé, Clara Moneke roubou a cena com sua espontânea e debochada Kate — ou melhor, “Katelícia”. A novata não se apequenou em nenhum momento ao contracenar com atores veteranos e criou bordões e apelidos que bombaram nas redes sociais, como “faixa gospel” — em referência à Jennifer (Bella Campos). A maior parte do elenco, inclusive, não deixou a desejar em nada. O vilão Théo passou longe de ser maniqueísta, acabou humanizado em vários momentos e graças à grande atuação de Emilio Dantas conseguiu imprimir um personagem completo: perverso, charmoso, carismático e até assustador.
Representação de evangélicos
Antes de estrear, Vai na Fé foi lida como uma novela evangélica por ter uma protagonista que segue essa religião, causando desconfiança, já que a Globo costumava abordar religiosos de forma estereotipada e pejorativa — a exemplo da Creusa (Juliana Paes) de América (2005), uma evangélica que era profana às escondidas. Mas, passadas primeiras semanas do folhetim de Rosane, foi possível acompanhar uma trama que não só abordava o tema de forma respeitosa e natural, como agradou o público de todas as crenças.
Trilha sonora
Além de Garota Nota 100, a novela emplacou na vida real os hits de Lui Lorenzo (José Lorenzo), como Joaninha e Se Eu Fosse Casado, além da própria música que é tema de abertura, Vai Dar Certo (Vai na Fé) cantada por Negra Li — que, inclusive, foi a inspiração para a personagem Sol — e MC Liro.
Os 3 erros
Beijo lésbico cortado
Com receio de perder o público evangélico que havia conquistado com tanto esforço, a novela temeu exibir alguns beijos entre Clara (Regiane Alves) e Helena (Priscila Sztejnman), gerando críticas dos telespectadores LGBTQIA+ que se sentiram desrespeitados e mal-representados. Apesar disso, o folhetim se redimiu exibindo as cenas de beijos do casal.
Casal Lui e Lumiar
Uma das melhores e mais complexas personagens, Lumiar (Carolina Dieckmann) viveu um relacionamento tóxico com Théo após se separar de Ben. Com o fim do namoro com o vilão, o roteiro jogou a advogada nos braços de Lui Lorenzo. Não seria ruim se não fosse o fato de que os dois passaram mais da metade da novela acreditando serem irmãos por parte de pai graças a uma mentira de Wilma (Renata Sorrah). Após a revelação de que Fábio (Zé Carlos Machado) não era o pai biológico do músico, este e a filha de Dora começaram um romance, o que pareceu bem forçado, apenas que ambos não ficassem sozinhos.
Final perdido
Na reta final, a novela das 7 surgiu com algumas tramas pouco desenvolvidas, dando a impressão de que alguns enredos foram esquecidos lá atrás e estão vindo à tona agora às pressas. É o caso da tentativa de chantagem de Théo, que obrigou Sol a fingir um término com Ben. Seria o tipo de arco interessante no meio da novela, não a duas semanas do fim. O desfecho mais aguardado, ainda, é ver o vilão pagando por seus crimes –– e isso ficará apenas para o último capítulo.