Como “pinguins gays” se tornaram alegoria a favor da diversidade na ficção
Os animais permanecem ao lado do mesmo parceiro por toda vida e, às vezes, escolhem "cônjuges" do mesmo sexo
Morreu nesta quinta-feira, 22 de agosto, o pinguim Sphen aos 11 anos de idade — animal que se tornou destaque em noticiários de todo o mundo em 2018 ao compor um tipo de “power couple” com parceiro do mesmo sexo e espécie, Magic. Dentro do aquário de Sidney, na Austrália, os dois passaram a viver como casal e chegaram a “adotar” dois filhotes — comportamento incomum de sua espécie, mas não tão raro. Pinguins machos, afinal, são os responsáveis por cuidar dos ovos na natureza, atividade que, às vezes, passam a compartilhar com outro espécime semelhante. Para os humanos, o fenômeno dos “pinguins gays” acaba atraindo curiosidade e se torna combustível para anúncios favoráveis ao casamento homossexual e à preservação da fauna, além de motivo para cenas adoráveis de matrimônios em zoológicos. Na ficção, serve também para o humor — como comprova a série americana Parks and Recreation, que adaptou a tendência e previu seu apelo midiático em um episódio de 2009.
Parks and Recreation e a legalização do casamento gay
Filmada como um documentário ao estilo The Office, a série acompanha o setor de parques do governo de uma pequena cidade fictícia no interior da Indiana. Comandado pela determinada e ingênua Leslie Knope (Amy Poehler) e composto por personalidades contrastantes, o departamento não é tão eficaz e se envolve em diversos acidentes. Na estreia da segunda temporada, um dos tais deslizes é a oficialização do matrimônio entre os pinguins Tux e Flipper, recém adquiridos pelo zoológico da cidade. Em evento planejado para a divulgação do local, Leslie os declara marido e mulher, sem saber que, na verdade, o casal é composto por dois machos. Transmitida seis anos antes da legalização do casamento gay nos Estados Unidos, a trama satirizava a polêmica então debatida calorosamente.
No episódio, Tux e Flipper se tornam alvo de ataques conservadores junto à Leslie, que é abraçada pela comunidade gay como aliada, mas rechaçada por seus opositores políticos. Ao longo do conflito, ela chega a ser homenageada em uma boate gay, aprende a abraçar a posição que acatou acidentalmente e, por fim, leva os pinguins para outro zoológico em Iowa, estado vizinho onde o matrimônio entre homens ou mulheres já era legalizado. No momento, Parks and Recreation não está disponível em qualquer plataforma de streaming no Brasil, mas recortes podem ser vistos na língua original em um canal oficial do YouTube.
Atypical e o discurso contra a homofobia
Em outra comédia mais recente, Atypical, da Netflix, o romance real entre Sphen e Magic é muleta para que o protagonista autista compreenda o novo relacionamento de sua irmã bissexual, que se envolve com outra mulher pela primeira vez. No episódio lançado em 2019, a adolescente pergunta ao irmão Sam (Keir Gilchrist) se ele teria um problema com sua orientação sexual, o que traz à tona a historia dos pinguins: “Quando um casal heterossexual negligenciou um ovo, os funcionários o deram para eles. Agora eles têm um filho, Sphengic”, diz o menino, sem mais delongas.
Mais casos na vida real
A trama de Parks and Recreation foi inspirada na história de Harry e Pepper, mais um exemplo de dois pinguins machos que viveram como casal por anos dentro do zoológico de São Francisco. Na vida real, porém, o casal se separou em dezembro de 2009 após uma pinguim fêmea, Linda, seduzir Harry e roubá-lo para si.
Dez anos antes, o primeiro casal de pinguins gays a chamar atenção foi visto no zoológico do Central Park, em Nova York. Roy e Silo apresentaram ritos de acasalamento e, primeiro, tentaram cuidar de uma pedra como se fosse um ovo. Percebendo a dinâmica, os zoólogos da instituição decidiram presentar o casal com o ovo de um par de pinguins que não conseguia choca-lo. Deu certo e assim a dupla criou sua própria filha, Tango.
Além de cuidarem dos recém-nascidos, casais de pinguins do mesmo sexo costumam compartilhar momentos íntimos e ficar juntos até o fim da vida, assim como os de sexos opostos.
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