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‘Bebê Rena’: a questão em jogo no processo milionário contra a Netflix

A série ilustra novas nuances de um velho dilema: na era do streaming, o apetite pela vida real nas telas às vezes sacrifica os fatos

Por Amanda Capuano 11 ago 2024, 08h00

Um homem perseguido por uma mulher obcecada. Essa é a premissa de Bebê Rena, sucesso da Netflix que caminha no limiar entre ficção e realidade: escrita e protagonizada por Richard Gadd, a trama é baseada na vida do autor, mas “certos personagens, nomes, incidentes, locais e diálogos foram ficcionalizados”, alertam os créditos. Batizada na série de Martha (Jessica Gunning), a stalker de Donny (Richard Gadd) não atende por esse nome na vida real — nem tem condenação criminal, como se vê na série, admitiu recentemente a Netflix após ser processada pela advogada Fiona Harvey, que alega ser inspiração da perseguidora. O imbróglio em torno de Bebê Rena ilustra uma questão premente. Num tempo em que o selo “baseado em história real” virou trunfo para o streaming e garantia de barulho nas redes, a verdade se tornou objeto de glamorização às vezes desmedida, o que impõe novos dilemas à dramaturgia.

A regra é não ter regras: A Netflix e a cultura da reinvenção – Reed Hastings e Erin Meyer

Bebê Rena é um desses casos em que a acurácia factual aparentemente foi sacrificada em nome do roteiro. Harvey não teve o nome divulgado pela Netflix, e Gadd alega que Martha é uma personagem fictícia. Mesmo assim, Harvey diz ter sido identificada nas redes e recebido até ameaças de morte. Alvo de uma ordem judicial por suas interações com Gadd, ela não foi condenada nem presa na vida real e acusa a plataforma de difamação e violação de direitos. Por isso, pede 170 milhões de dólares em indenização, num processo que descreve a produção como “uma mentira projetada para atrair mais espectadores”.

PASSADO SOMBRIO - Dahmer na produção: retrato de um assassino
PASSADO SOMBRIO - Dahmer na produção: retrato de um assassino (./Netflix)

Meu Amigo Dahmer – Derf Backderf

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Essa, claro, não é a primeira vez que histórias com raízes na realidade afetam em maior ou menor grau os envolvidos. Também sucesso da Netflix, Dahmer dramatiza a trajetória sombria do serial killer que assassinou dezessete jovens — e foi recebida com protestos por parentes das vítimas reais. No Brasil, Dom, do Prime Video, que levou para as telas a vida do criminoso Pedro Dom (1981-2005), incomodou a família materna do bandido carioca: a mãe e a irmã se opuseram à série e acusaram a trama de romantizar o policial Victor Dantas (1944-2018) — o pai do criminoso, que estava envolvido na produção.

Dom – Tony Bellotto

As saídas para problemas assim não são simples. No momento, está em debate na Inglaterra uma nova lei que, em tese, daria à stalker de Bebê Rena a chance de exigir respeito à sua história. Quando se trata da vida real, é preciso ter responsabilidade nas telas, decerto. Mas também cuidado para que isso não se torne uma ameaça à liberdade de retratar histórias de in­teres­se, dando origem a narrativas chapa-­branca. Nesses casos, cautela e bom senso são ainda o melhor remédio. A verdade não tem preço.

Publicado em VEJA de 9 de agosto de 2024, edição nº 2905

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