Bastidor de sexo e abuso de ‘O Último Tango em Paris’ vai inspirar série
Com o brasileiro José Padilha na direção, ao lado de Lisa Brühlmann, produção focará nas controvérsias envolvendo estupro de Maria Schneider
Os bastidores conturbados do longa-metragem O Último Tango em Paris ganharão uma série de televisão produzida pela CBS Studios, de acordo com o jornal online Deadline. Uma das principais controvérsias que circundam a produção diz respeito à protagonista feminina, vivida por Maria Schneider (1952-2011). Na época, com apenas 19 anos, a atriz foi abusada durante as gravações do filme dirigido por Bernardo Bertolucci (1941-2018) e estrelado pelo ator Marlon Brando (1924-2004).
No comando da série estão o brasileiro José Padilha, produtor de Narcos, e Lisa Brühlmann, que dirigiu alguns episódios de Killing Eve. Já o roteiro ficará a cargo de da dupla Jeremy Miller e Daniel Cohn. A história cobrirá os dezoito meses antes da produção, entre 1971 e 1972, quando Bertolucci foi a Los Angeles, Estados Unidos, convencer Marlon Brando a ficar com o papel – além, claro, do período de produção do filme e os eventos que vieram depois. “O Último Tango em Paris conta a história de dois homens abusando de uma jovem inexperiente, não por sexo, mas por uma questão de arte. Eles fizeram isso diante das câmeras, e a cena resultante transformou-se em um grande filme, aclamado pela crítica e pelo público. O diretor e os atores se deleitaram com o sucesso, enquanto a dor de Maria foi negligenciada”, disse Padilha.
Mesmo envolto em controvérsias desde seu lançamento, em 1972, o filme fez grande sucesso, tornando-se o terceiro longa não americano mais lucrativo dentro dos Estados Unidos, com faturamento de 186 milhões de dólares. A produção levou Bertolucci e Brando a níveis meteóricos de estrelato, não apenas em termos de dinheiro mas também de prestígio, com indicações ao Oscar para ambos. Enquanto isso, Schneider recebeu apenas 4 000 dólares pelo papel e durante anos foi ridicularizada — o que a fez passar as décadas seguintes lutando contra problemas de saúde mental e o vício em drogas.
Em 2016, as polêmicas foram reavivadas graças ao surgimento de um vídeo em que Bertolucci discutia como ele e Brando não haviam informado Schneider sobre a cena de estupro do longa. Ambos não disseram à atriz que usariam manteiga como lubrificante durante as gravações do momento em questão. Durante as filmagens, o diretor usou táticas consideradas abusivas para conseguir capturar “reações reais” dos atores.
A atriz demonstrava grande descontentamento com O Último Tango em Paris. Em 2007, durante entrevista ao jornal britânico Daily Mail, ela disse que nas cenas de sexo, simuladas, ela havia sido “forçada” a fazer sequências que não estavam no script e que se sentiu humilhada: “Para ser sincera, me senti um pouco estuprada”.