Ator Jeffrey Wright a VEJA: “Sou viciado em política”
Artista indicado ao Oscar fala sobre a série 'A Agência' e como foi crescer cercado pela atmosfera política de Washington DC
Foi por pouco que Jeffrey Wright, 58 anos, não se embrenhou em algum cargo público nos Estados Unidos. Nascido e criado na capital Washington, o ator indicado ao Oscar este ano pelo ótimo filme Ficção Americana se diz um viciado em política — tema que ele não esconde a predileção nas redes sociais, onde é um democrata assumido. O gosto por esse universo ganhou um tempero a mais para ele na série A Agência, na qual Wright interpreta um chefão da CIA. A VEJA ele fala sobre a experiência da trama inspirada na famosa produção francesa The Bureau.
Há uma tradição de filmes e séries sobre a CIA, o FBI, o MI6 — e recentemente esse filão passou a tratar os personagens menos como heróis e mais como pessoas que cometem erros. Como analisa essa mudança?Nossa série se trata sobre a humanidade das pessoas que assumiram esse chamado, e isso inclui as falhas que nos tornam humanos, imperfeitos. A Agência é muito contemporânea. Ela se passa em um cenário geopolítico específico, bem parecido com o que nós vivemos agora, tendo ele como um palco para explorar essas interações, relacionamentos e tensões entre os personagens e dentro deles também. O drama da série vem daí. Sim, tem a parte agitada, as perseguições de carro e tudo mais, esse lado é intrigante; mas os elementos psicológicos são profundamente humanos, foi isso o que me atraiu. É um tipo de narrativa muito fundamentada; é grande, em escala, mas há uma intimidade com a vida interior desses personagens que é muito legal.
Qual a conexão entre a política atual e a série? Assim como a série francesa (The Bureau), tentamos fazer A Agência o mais realista possível. Não é uma fantasia, não tentamos exagerar nem enaltecer esses personagens, eles não são heróis. São pessoas comuns que exercem esse trabalho. Nosso objetivo era se infiltrar nessa realidade política. Então, para torná-la realista, ela deveria refletir o mundo em que vivemos. Dito isso, a série não faz comentários políticos, não é abertamente política — ela usa isso como uma base para contar as histórias dessas pessoas. O que está acontecendo no mundo influenciou a maneira como ela foi escrita.
O senhor é abertamente democrata e posicionado quando o tema é política. De onde vem esse interesse? Eu sou um pouco viciado em política: cresci em Washington DC, minha mãe atuou como advogada no governo americano por mais de 30 anos, eu cresci nessa cultura. Eu tenho muito respeito pelas pessoas nesse ramo de trabalho, que fazem o governo funcionar, independente da agência em que trabalham. Acho que, quem se envolve com isso, quer sempre fazer a coisa certa, mesmo que às vezes criem mais problemas do que deveriam. Mas acho que muitos dos problemas são criados pela liderança política, e não pelas pessoas que atuam nos bastidores no dia a dia. Às vezes confundimos os dois, pensamos em governo e dizemos que o governo é ruim. Mas são os políticos que estragam as coisas. Nessa série, temos a chance de examinar as vidas dessas pessoas, e há muito a ser examinado.
Crescendo neste cenário, já quis trabalhar com política? Já pensei em trabalhar de alguma forma na política; talvez na faculdade de Direito — talvez eu ainda estude Direito, eu não sei — mas havia muita criatividade dentro de mim. Sou intrigado pelas pessoas dessa instituição, elas fazem parte de uma grande maquinaria. Mas eu não acho que funcionaria para mim. Ser minha própria máquina é mais gratificante, mas tenho muito respeito pelas pessoas que abrem caminho através de um sistema, idealmente tentando guiá-lo em direção a uma coisa tão boa quanto possível. Isso é complicado, mas certamente permite muita tensão, dentro da nossa série.
Teve alguma influência em particular, um filme, personagem ou série para este trabalho? Eu presto uma pequena homenagem à série francesa, principalmente com os pelos faciais, acho que isso lembra a original. Mas não, foi muito divertido criar esses personagens juntos, descobrir com quem estávamos trabalhando no processo — Michael Fassbender, Richard Gere, John Magaro e Katherine Waterston — para construí-los à nossa própria imagem e criar algo novo. Henry, meu personagem, usa ótimos ternos, sapatos sérios, sabe, essas coisas informam a maneira como ele se comporta. Os cenários, que eram incríveis, forneceram muitas informações sobre quem eram esses personagens. Não estou recriando algo que já foi feito, mas tentando descobrir algo novo.