Astro de ‘Round 6’ fala a VEJA sobre nova temporada: ‘Dinheiro muda tudo’
Maior hit de todos os tempos da Netflix, a série sul-coreana reafirma que, sim, a humanidade ainda vale a pena
Quando desenvolveu a primeira temporada de Round 6, o roteirista e diretor Hwang Dong-hyuk perdeu dentes devido à pressão por sucesso no feroz mercado de TV sul-coreano. Mas o problema provocado pelo estresse compensou: a série se tornou o maior hit global da Netflix, impactando 142 milhões de lares e acumulando 1,65 bilhão de horas consumidas só no seu primeiro mês de exibição. No próximo dia 26, Dong-hyuk dobrará a aposta com o lançamento da segunda temporada da trama que segue Gi-hun (Lee Jung-Jae), um pobretão endividado e viciado em jogos de azar — retrato mordaz de milhares de pessoas que sofrem com o desalento econômico na Coreia do Sul. Sem conseguir prover a própria filha, o personagem topou entrar em uma competição de jogos infantis com consequências mortais, de onde só um dos 456 concorrentes sai vivo e com o prêmio de 40 milhões de dólares. A narrativa angustiante reflete sobre como as pessoas são capazes de tudo por dinheiro. Na nova fase, Gi-hun, que venceu a primeira etapa, vai retornar ao jogo, e os dilemas morais e sociais se aprofundarão na tela. “A competição ilimitada numa sociedade capitalista, além de exacerbar a polarização e a desigualdade, ressoa em todo mundo”, teorizou Dong-hyuk em entrevista a VEJA.
Lançada em 2021, Round 6 impulsionou o filão de produções de temática semelhante: submeter pessoas a jogos ou jornadas mortais, pondo sob a lupa os comportamentos contraditórios que os seres humanos demonstram em situações desesperadoras, e iluminando o mais interessante desse tipo de experiência: o desafio de preservar a humanidade quando o dinheiro e a própria vida estão na linha de fogo. A vertente é explorada em séries como a japonesa Alice in Borderland, a também sul-coreana Doce Lar e o reality britânico Round 6: o Desafio, inspirado na série original.
Cada uma à sua maneira mostra como a batalha por sobrevivência põe em xeque a ética dos personagens. Em Alice, Arisu (Kento Yamazaki) é um jovem sem propósito até ser jogado numa competição com toques de ficção científica que se revela um verdadeiro estudo social sobre a capacidade do homem em se adaptar a situações extremas. Em Doce Lar, moradores de um prédio são encurralados por uma invasão de monstros que os força a resistir, mas o problema maior é lidar com quem está dentro do edifício, em disputas de poder cheias de tensão. E, apesar de não ter mortes (ainda bem), O Desafio prova como na vida real as pessoas são dissimuladas e dão rasteiras em amigos quando querem conquistar um prêmio financeiro.
Como mostra a nova temporada de Round 6, o que reconforta o espectador é descobrir que nem todos perdem sua capacidade de ter empatia em situações assim. Não à toa, o abilolado Gi-hun virou um herói mundial — e agora, mesmo milionário, tentará desmantelar a organização que manipula o jogo. “Ele quer acabar com tudo”, disse seu intérprete a VEJA (leia a entrevista). O novo round está só começando.
“Dinheiro muda as pessoas”
Aos 51 anos, o protagonista de Round 6 falou a VEJA sobre o que esperar da nova fase da série.
Seu personagem enfrentou desafios extremos para ganhar o jogo, e agora volta para a disputa. Por quê? Gi-hun passou por muitas transformações, experimentando sentimentos diversos. Agora, porém, ele está fortemente determinado a entrar nos jogos para acabar com eles.
Na sua visão, por que tantas pessoas no mundo se identificaram com a série? Todos vivemos em culturas, países e situações diferentes, mas dinheiro é algo que pode trazer alegria para qualquer um ou simplesmente empurrar alguém do penhasco. É um tema universal. O dinheiro muda as pessoas, maximiza os sentimentos e a natureza humana.
Acha que demorou para o Ocidente notar o potencial de obras coreanas como Round 6? A globalização motivou cineastas coreanos a criar algo que pudesse trazer alegria ao público global e não apenas local. E obtivemos esse resultado incrível.
Publicado em VEJA de 13 de dezembro de 2024, edição nº 2923