Apple TV+ finalmente fez uma boa série: conheça ‘Little America’
Sensível e bem-humorado, programa narra histórias reais de imigrantes nos Estados Unidos
![](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/01/seriado-little-america-32.jpg?quality=90&strip=info&w=1280&h=720&crop=1)
Desde novembro entre nós, o canal de streaming Apple TV+ tentou emplacar séries variadas e superproduzidas, com protagonistas estelares, mas apelo fraco: da fantasia sem pé nem cabeça See, com Jason Momoa; ao dramalhão insosso de The Morning Show, com Jennifer Aniston; ao seriado policial sem brilho Truth Be Told, com Octavia Spencer. Apesar de The Morning Show ter conquistado algumas indicações a prêmios como o Globo de Ouro (vai entender), a Apple TV+ estava longe de ganhar um elogio sincero. Mas ele finalmente chegou.
Little America, nova produção da plataforma, é uma belíssima série, de roteiro elegante e um raro bom humor aplicado a um tema complexo e delicado: a vida de imigrantes modernos nos Estados Unidos. São oito histórias reais, interpretadas por atores pouco (ou nada) conhecidos, eles mesmos originais dos países retratados — ou das redondezas.
Cada episódio é independente entre si (abaixo, detalhes dos quatro melhores). Assinam a série o paquistanês Kumail Nanjiani, que também é ator, conhecido pela série Silicon Valley, da HBO, e sua esposa, Emily V. Gordon. A dupla tem no currículo outro bom título que vale ser visto: o filme Doentes de Amor (2017), inspirado no romance deles, indicado ao Oscar de melhor roteiro original.
A experiência pessoal de Nanjiani como imigrante é vista em Little America na valorização dos detalhes. Cada episódio começa com uma famosa canção americana — como Bang Bang (My Baby Shot Me Down), conhecida na voz de Nancy Sinatra, e Doo Wop (That Thing), de Lauryn Hill —, todas, porém, entoadas na língua e em um ritmo musical do país que será retratado. No início do episódio, o aviso: “inspirado em uma história real” vem acompanhado da mesma frase na língua nativa de seus personagens.
O resultado é entretenimento dos mais envolventes. Confira abaixo a trama de quatro episódios que se sobressaem aos demais.
O Gerente
![SERIADO LITTLE AMERICA 02](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/01/seriado-little-america-02.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Uma família de indianos protagoniza o primeiro episódio. Eles são donos de um hotel barato de estrada nos Estados Unidos. Kabir (Ishan Gandhi), de 12 anos, faz um acordo com o pai: se decorar todo o dicionário de inglês, vai ganhar um carro aos 18. Quando os pais são deportados, o garoto entra numa longuíssima espera por eles, gerenciando sozinho o hotel. Kabir vê na habilidade de decorar palavras uma chance de pedir ajuda diretamente a alguém poderoso: um concurso de soletração nacional leva os adolescentes finalistas à Casa Branca, para um encontro com a primeira-dama da época, Laura Bush, esposa de George W. Bush.
O Caubói
![SERIADO LITTLE AMERICA 11](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/01/seriado-little-america-11.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
O terceiro episódio acompanha a história de Iwegbuna Ikeji (interpretado pelo ator e músico Conphidance), um jovem nigeriano expansivo que vai estudar na Universidade de Oklahoma, no sul dos Estados Unidos. Para se adaptar e se livrar da apatia dos colegas, ele adquire um chapéu de caubói e botas de couro: os astros de faroestes do cinema são para ele a melhor representação do americano ideal. É impagável a cena em que Ikeji aparece todo montado na sala de aula. Ainda mais adoráveis são os momentos em que ele recebe a correspondência da família, com uma fita cassete – estamos aqui nos anos 1980. Enquanto escuta em seu pequeno dormitório a voz dos parentes, os familiares transitam pela casa, imaginados ali pelo imigrante.
Os Vencedores do Grande Prêmio
![SERIADO LITTLE AMERICA 23](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/01/seriado-little-america-23.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Uma mãe divorciada (Angela Lin) de Singapura se dedica até demais aos dois filhos adolescentes, que quanto mais crescem nos Estados Unidos, mais se distanciam das tradições e da própria mãe. O sonho é poder levá-los a uma inesquecível viagem de férias. Ela ganha passagens para um inusitado cruzeiro até o Alasca. No navio, a mulher exagera na busca pela atenção dos filhos – enquanto flashbacks de seu passado, também em um navio, mas em condições muito piores, montam o quebra-cabeça que explicam sua atitude superprotetora. Destaque para uma belíssima cena em que Angela canta no karaokê do cruzeiro a canção You Don’t Have To Say You Love Me, de Dusty Springfield: é de arrepiar.
O Filho
![SERIADO LITTLE AMERICA 18](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/01/seriado-little-america-18.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
O sírio Rafiq (Haaz Sleiman, ator que na vida real é do vizinho Líbano) se vê numa terrível situação quando sua família descobre que ele é gay. O rapaz precisa fugir e acaba se instaurando em Damasco, alguns anos antes da guerra que assolaria o país. Na capital ele conhece Zain (Adam Ali), um novo amigo com pouquíssima aptidão para esconder sua orientação sexual: o rapaz é um dosado alívio cômico em meio ao caos. Os dois buscam asilo nos Estados Unidos e a longa espera pauta o episódio, um dos mais emotivos dos oito da série.