Aos 87 anos, Reginaldo Faria se reinventa com disco de violão: “Terapia”
Ator de novelas marcantes como Tieta (1989) e Vale Tudo (1988) toca o instrumento desde os 12 anos

Ator que ficou na memória do público ao dar uma banana para o Brasil enquanto fugia do país como o vilão Marco Aurélio no final de Vale Tudo (1988), Reginaldo Faria, aos 87 anos, celebra o lançamento do primeiro disco de sua carreira, uma coletânea de canções compostas por ele mesmo no instrumento que toca — e ama — desde os 12 anos de idade. Violão (publicado pela gravadora Kuarup) reúne treze composições feitas por Faria ao longo da vida. O disco pode ser ouvido por aqui. Em entrevista a VEJA, o veterano fala sobre a paixão pela música, revela ser tímido demais para se apresentar tocando para uma plateia — apesar de sonhar que mostra seu talento para Gilberto Gil e Caetano Veloso.
Confira entrevista na íntegra:
Por que o senhor decidiu lançar um disco agora, aos 87 anos? Acho que foi um impulso dos meus filhos, porque eles sempre valorizaram minha música e o meu trabalho como uma pessoa que tem uma curiosidade através desse instrumento, mas eu tenho um problema que aconteceu comigo na época em que eu estudava violão com Antônio Rabelo, que era o avô do Rafael Rabelo, que era um violonista também muito importante. Eu cheguei a um ponto que um dia ele virou para mim e disse assim: “Você já está pronto para fazer um recital. Quando ele falou isso, eu bloqueei, fiquei com tanto medo de enfrentar a plateia, de encarar o público me vendo tocando violão, que fugi. Mas, para meus amigos, para minha família em alguma social pequena, restrita, eu tinha coragem de mostrar. Os anos foram passando e eu fui tocando nas horas vagas. Até que meus filhos sugeriram de eu gravar um CD, para que eu pudesse registrar as minhas composições, eu tenho mais de 60 canções escritas que quero publicar em um caderno. Feito para curiosos da música e do instrumento violão como eu.
Então, não tem vontade de fazer apresentações? Dentro de mim sempre existiu a vontade de tocar para as pessoas. Eu já sonhei em me apresentar para Chico Buarque, Caetano, Gilberto Gil, mas eu nunca tive coragem. Talvez por excesso de narcisismo, de achar que não posso errar. São coisas que ficam no imaginário, eu tocava pensando: “Poxa, eu podia estar numa reunião agora onde tivesse Gil ou Caetano, e eu tocaria”. Porque nós temos nossas fantasias, temos aquelas figuras que idolatramos, que amamos e para quem gostaríamos de tocar. Me lembro do Baden Powell, que uma vez me viu gravando uma música de um filme que eu fiz e ele comentou com o assistente dele: “Esse garoto vai longe”. E eu era fã dele, essas palavras me marcaram, mas nunca tive coragem de me apresentar.
Como surgiu a paixão pelo violão? Quando eu tinha uns 12 anos, meu irmão levou um violão preto para casa. As cordas eram de aço. E lembro de pegar esse violão errado, querendo tocá-lo como se fosse um piano, e aí meu irmão me ensinou a tocar com partituras do método espanhol. Aos 18, fui apresentado ao Antônio Rabelo, que me disse que não ensinava qualquer um e que eu teria que provar se eu tinha talento. Então mostrei uma música que eu tinha feito com 13 anos, chamada Trânsito Maluco, que está no disco, e aí ele me aprovou para estudar com ele. O violão é como se fosse meu quarto ou quinto membro. Eu não largo por nada, todo dia preciso tocar um pouco. Acho que é uma busca por harmonia, por música. O violão é a minha terapia, é o meu psicólogo. E me ajuda muito, junto com a escrita.
Tem vontade de cantar também? Eu tentei, mas não consegui. Uma vez toquei para Nara Leão cantar. Me apresentaram a ela quando ela era uma garotinha, estava sentada na praça com o pai à noite, um amigo nos apresentou, eu peguei o violão e toquei para eles. O pai da Nara ficou impressionado com a minha forma de tocar. Depois de um tempo, nos reencontramos e eu a ensinei a tocar violão, ela tentou me ensinar a batida da Bossa Nova.
O senhor comentou que tem mais de 60 canções escritas. Pretende lançar novos discos? Acho que será difícil por causa da idade, mas quero publicar as partituras em livros, para curiosos como eu que queiram tocar violão.
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