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Por Kelly Miyashiro
Críticas e análises sobre o universo da televisão e das plataformas de streaming
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A vida pecaminosa de pastores-celebridades faz sucesso na TV e no Oscar

Da hilária série The Righteous Gemstones ao filme Os Olhos de Tammy Faye, produções retratam como a fama e o dinheiro corrompem líderes religiosos

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h30 - Publicado em 5 mar 2022, 08h00

Embalados por uma suave música cristã entoada em mandarim, três pastores americanos — um pai e seus dois filhos — realizam uma maratona de 24 horas de batismos em Chengdu, na China. O clima de paz espiritual é interrompido por uma discussão comezinha entre os irmãos sobre quem batiza melhor. Nas alfinetadas, os dois homens agem como crianças e não economizam nas palavras de baixo calão. De volta aos Estados Unidos, na Carolina do Sul, a imagem já manchada de humildes missionários se desfaz de vez para o espectador da série The Righteous Gemstones, da HBO: o trio protagonista viaja em jatinhos particulares (três aeronaves nomeadas de “O Pai”, “O Filho” e “O Espírito Santo”) e é recebido no aeroporto com pompa por seus funcionários e pela irmã que ficou para trás — ela, tão temperamental quanto o restante da prole. Em cinco minutos do primeiro episódio, a série americana — que acaba de encerrar a segunda temporada, na HBO Max — apresenta com ironia a família de televangelistas Gemstone. O clã é a fina flor da cafonice. Sai do aeroporto em carros de luxo rumo a um complexo com hectares a perder de vista, que abriga as quatro mansões onde cada um deles mora, um parque de diversões temático bíblico e um ginásio para os cultos. Na entrada, o portão cercado por seguranças armados exibe um versículo e um alerta: “Bem-aventurados os pobres de espírito, pois deles é o reino dos céus. Não ultrapasse”.

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Já renovada para uma terceira temporada, The Righteous Gemstones faz milagre ao transitar com perspicácia pelo terreno minado da religião. Traz personagens de caráter questionável e um humor escrachado comparável ao nacional Porta dos Fundos. Mas, ao contrário da trupe brasileira, o roteiro assinado por Danny McBride — intérprete do filho mais velho, Jesse Gemstone — destina seu escárnio não aos fiéis ou a personagens bíblicos: a grande sacada da série é rir das armadilhas produzidas pela hipocrisia e embaladas pela tríade fama, dinheiro e fé. Na primeira temporada, os prósperos pecadores enfrentam bandidos que chantageiam Jesse com um vídeo no qual ele participa de uma festinha regada a drogas e prostitutas. A filha do meio, Judy (a afiada Edi Patterson), tenta furar o clube do bolinha que domina a igreja. Já o caçula Kelvin (Adam Devine) quer provar seu valor ao pai, Eli (John Goodman, ótimo), com a ajuda de um ex-satanista. O grupo fica completo com o cantor e cunhado pilantra de Eli, Baby Billy (Walton Goggins).

APARÊNCIAS - Jessica em Os Olhos de Tammy Faye: casal estelionatário -
APARÊNCIAS - Jessica em Os Olhos de Tammy Faye: casal estelionatário – (Searchlight Pictures/.)

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Criados a partir de um apanhado de referências reais, os Gemstone evocam alguns famosos televangelistas americanos que proliferaram na TV entre os anos 70 e 80 — fenômeno que hoje se expandiu da TV para novas plataformas, chegando ao streaming. Entre as inspirações da série está Jim Bakker, marido de Tammy Faye (1942-2007) — casal real retratado no filme Os Olhos de Tammy Faye, ainda inédito no Brasil e indicado aos Oscars de maquiagem e atriz — para uma Jessica Chastain irreconhecível na pele e peruca da pastora e cantora gospel do título. Jim e Tammy criaram um império a partir de popular programa de TV evangélico apresentado entre 1974 e 1987 — o casal construiu um parque apelidado de Disneylândia cristã, hoje abandonado. Afundou em escândalos, até Bakker ser condenado por fraude. Aos 82 anos e em liberdade, ele foi processado em 2021 por vender na TV pílulas “abençoadas” contra a Covid (alguém lembrou do caso do pastor Valdemiro Santiago, no Brasil?).

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Pregadores vertidos em celebridades são matéria-prima frutífera na história do cinema e da TV. O filão vai de roteiros chapa-branca na linha do nacional Nada a Perder, sobre a trajetória de Edir Macedo, líder da igreja Universal e dono da TV Record, até comédias pastelonas hollywoodianas, como Fé Demais Não Cheira Bem (1992), estrelada por Steve Martin. Com a ascensão dos evangélicos na política e na cultura, uma nova onda de produções agora vem explorar a engrenagem que move as megaigrejas, complexos que oferecem entretenimento disfarçado de ritual religioso. Se The Righteous Gemstones aposta no sarcasmo, o seriado americano Greenleaf e o argentino Vosso Reino, ambos na Netflix, carregam nas cores dramáticas ao acompanhar pregadores que, fora do olhar do rebanho, comungam de todos os sete pecados capitais — e mais um oitavo não menos deletério: o gosto peculiar pelo poder. Como avisa a Bíblia, o amor ao dinheiro é a raiz de muitos males.

Publicado em VEJA de 9 de março de 2022, edição nº 2779

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