A mudança reveladora da geografia carioca exposta em ‘Vale Tudo’
Remake da novela das 9 da Globo alterou cenários e mostrou nova lógica do espaço da cidade maravilhosa

Quando Vale Tudo foi ao ar pela primeira vez, em 1988, o mundo era outro: o nível de desigualdade era mais alto do que atualmente, e o conflito entre honestidade e falcatruas fervilhava em um Brasil recém-saído das garras da ditadura militar, com escândalos de corrupção pipocando nos jornais. Quase quarenta anos depois, as discussões da novela seguem atuais, mas o remake expõem também mudanças relevantes na sociedade — inclusive na geografia do Rio de Janeiro, que tem hoje 30% mais habitantes do que na década de 1980.
Ambientada na cidade maravilhosa, a novela original tinha o núcleo “pobre” de Raquel e companhia, estabelecido no Catete, bairro da zona sul carioca considerado “humilde” quando comparado à orla de Copacabana, Leblon e Botafogo. Antes tradicional e histórica, a região perdeu boa parte de sua relevância econômica a partir da década de 1960, com a transferência da capital federal para Brasília, e só se recuperou nas últimas duas décadas. Com a valorização do bairro, a “classe operária” do remake foi realocada para a Vila Isabel, também com o objetivo de dar visibilidade a outra região da cidade. “Entendemos que ampliaríamos a conversa levando esses personagens para a zona norte do Rio de Janeiro. Vila Isabel ajudou a conceituar os personagens e tramas desse núcleo. É um bairro com personalidade, romântico e amigo”, explica Paulo Silvestrini, diretor artístico da trama.
Catete e Vila Isabel não foram os únicos a serem realocados no complexo mapa social de Vale Tudo. Originalmente ambientada no Joá, bairro tradicional da Barra da Tijuca, a mansão da família Roitman não tem sua localização especificada na trama, mas as cenas são gravadas em um casarão na Glória, eleito pela revista britânica Time Out como o nono bairro mais legal do mundo — o único brasileiro a integrar o top10 da lista. “Conceituamos os ricos como pessoas que vivem em um mundo próprio, exclusivo, distante e acima das pessoas comuns. Queríamos uma novela urbana, a cidade presente”, explica Silvestrini sobre a mudança, atestando que a arquitetura “com ares europeus” e “feminina” foi essêncial para a escolha do cenário porque “combina muito com Celina”.
Outra localidade que foi alterada na nova versão da novela para exprimir o conceito urbano atualizado da produção foi a pousada de Cecília, que era originalmente em Búzios e foi transferida para Paraty, ambas cidades fluminenses. “Optamos por ambientar a pousada em uma cidade ao invés de uma praia isolada. Paraty é encantadora, cercada pela exuberante natureza da Costa verde e muito acolhedora”, conta Silvestrini, dizendo que a ambientação “traduz o espírito do núcleo de personagens que frequentam a pousada, engajados com questões ambientais e com um ritmo diferente da cidade grande”.
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