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A mudança radical de opinião da Netflix sobre a transmissão de esportes

Plataforma que dizia não se interessar pelo filão mudou de estratégia em prol de anúncios milionários

Por Amanda Capuano 13 nov 2024, 15h28

Ao contrário das demais plataformas de streaming, que logo encontram nos esportes ao vivo uma boa aposta para atrair assinantes, a Netflix se manteve arredia à ideia de adotar tal tipo de transmissão. Em meados de 2022, Ted Sarandos, co-CEO da empresa, chegou a dizer que o streaming não era “anti-esportes”, mas que não via um caminho lucrativo para as transmissões ao vivo. A antipatia, no entanto, está caindo por terra: nesta sexta-feira, 15, os boxeadores Jake Paul e Mike Tyson — e uma série de outros lutadores, em confrontos secundários — se enfrentam no ringue com transmissão ao vivo da plataforma, a partir das 22h. No dia de Natal, a Netflix também vai exibir dois jogos da NFL: Chiefs vs Steelers e Ravens vs Texans “Ano passado, decidimos apostar alto nas transmissões ao vivo”, declarou Bela Bajaria, diretora de conteúdo da Netflix, confirmando a mudança de estratégia da marca.

A nova visão vem em um momento de crescimento do setor. No Brasil, por exemplo, o Prime Video adquiriu os direitos do Brasileirão a partir de 2025, mas já exibe partidas da Copa do Brasil e jogos da NBA — além de Copa Sul-Americana e Libertadores, através do combo com o Paramount+. Dona da ESPN, a Disney tem disponível em sua plataforma uma infinidade de modalidades ao vivo, enquanto a Max, que pertence ao mesmo conglomerado da TNT esportes (a Warner Bros.), disponibiliza jogos do Paulistão e da Champions League. Há ainda a Apple TV+, que tem esportes como o basebol e a liga de futebol dos Estados Unidos (MSL). Na guerra do streaming, transmitir esportes ao vivo ajuda não apenas a conquistar mais assinantes, mas também a fidelizá-los — já que os jogos de um campeonato costumam acontecer de maneira recorrente, e não pontual.

No caso da Netflix, a ideia, por enquanto, é um pouco diferente: a plataforma ainda não adquiriu direitos de grandes torneios esportivos. O mais perto disso é o WWE Raw, luta livre coreografada semanal que passará a ser exibida na plataforma a partir de janeiro. O acordo de dez anos foi estimado em 5 bilhões de dólares, incluindo outros direitos sobre a modalidade que fica no limiar entre esporte e entretenimento. Antes disso, as transmissões estavam ligadas a documentários, como uma espécie de complemento: foi assim com a Netflix Cup, um torneio de golfe exibido em novembro que uniu profissionais do esporte a pilotos de Fórmula 1, juntando em um evento ao vivo atletas que aparecem nas séries documentais Drive to Survive e Full Swing. A ideia é a mesma do Netflix Slam, amistoso organizado pela plataforma entre os tenistas Rafael Nadal e Carlos Alcaraz — que também “estrelam” Break Point, sobre os bastidores do circuito internacional de tênis. No caso do box, a terceira temporada da antologia Untold é sobre  Jake Paul — que enfrenta Mike Tyson nesta sexta-feira. Patrick Mahomes, quarteback dos Chiefs — que jogam no Natal — também tem um documentário para chamar de seu.

Mais do que bater de frente com os concorrentes que detém grandes direitos, no entanto, a ideia da Netflix com os esportes ao vivo parece ser impulsionar os seus anúncios. Lançado recentemente, o plano com publicidade fica restrito aos que pagam menos — e abrange, hoje, 70 milhões de assinantes. Com os eventos ao vivo, no entanto, a plataforma pode vender anúncios que serão consumidos por toda a sua base de contas, nos intervalos das partidas e eventos especiais. Isso, é claro, aumenta o alcance das propagandas, e é um atrativo para o mercado publicitário. No caso dos jogos natalinos da NFL, os spots comerciais se esgotaram e, segundo a mídia local, os “pacotes” foram vendidos por cerca de 5 milhões de dólares cada. O acordo com a liga em relação aos jogos natalinos, inclusive, é de três anos, fazendo com que não seja algo pontual.  De toda forma, é uma mudança e tanto para a gigante do streaming.

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