A doce vingança de um autor da Globo no vácuo da crise de ‘Vale Tudo’

Dispensado pela Globo em 2020, após o fiasco no ibope da problemática O Sétimo Guardião, o noveleiro Aguinaldo Silva surpreendeu a muitos analistas de TV ao fechar, meses atrás, uma nova parceria com sua antiga casa. No momento, ele trabalha a pleno vapor, ao lado do diretor artístico Luiz Henrique Rios, na criação da novela que substituirá o tão falado remake de Vale Tudo no horário das 9. Com título provisório de As Três Graças, a trama urbana desenvolvida pelo autor deverá estrear em 20 de outubro deste ano. Mas muito antes disso, proém, ele já vem colhendo um fruto que só noveleiros calejados sabem o prazer que proporciona: a chance de uma doce vingança — e em dose tripla — na Globo.

Qual a ligação de Aguinaldo Silva com Vale Tudo?

Com seu novo trabalho encaminhado na emissora que o consagrou, Aguinaldo não tem se manifestado, previsivelmente, sobre os rumos do remake de Vale Tudo — novela da qual é um dos criadores originais, e o único dos três ainda vivo para emitir opinião sobre a ideia arriscada de se refazer o clássico folhetim de 1988 (os outros dois, Gilberto Braga e Leonor Bassères, já morreram). Com sua verve ácida, não é difícil imaginar o que Aguinaldo estaria pensando hoje sobre os previsíveis reveses da nova versão de Vale Tudo, um tanto descafeinada e dessintonizada do Brasil atual em relação ao sucesso estrondoso do passado.

Por que Aguinaldo pode salvar a Globo?

Se a debacle do remake já configura, em alguma medida, uma forma de vingança por si só, o gostinho maior está nos holofotes que a crise de Vale Tudo lançou subitamente sobre sua pessoa. Aguinaldo agora já é visto como o autor que poderá ser um salvador da pátria com sua própria novela — já que muitos enxergam em As Três Graças uma chance de ouro da Globo reverter as perdas recentes na faixa das 9. Se isso vai ocorrer de fato ou não, só o tempo dirá — mas a capacidade de dialogar e atrair de volta aos horário nobre as classes C, D e E é um diferencial valioso das tramas de tom fortemente popular de Aguinaldo.

Para completar a justa reparação a um autor indissociável da história dos grandes sucesso da televisão, ele acaba de sorrir — e como — com o desempenho notável de Tieta, que ele escreveu no longínquo ano de 1989, nas tardes da Globo. Se a vida de Aguinaldo Silva fosse novela, ele agora poderia escrever uma bem apimentada: As Três Vinganças.

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