‘Volume’: como seus sentidos foram se avolumando
É uma informação enterrada bem fundo na história das palavras o parentesco do latim volumen com o verbo volvere: seu sentido inicial era o de “rotação, movimento giratório”. Quem gira um botão de volume como o da foto ao lado pode supor que tal relação é muito natural, mas estará diante de uma pista falsa. […]

É uma informação enterrada bem fundo na história das palavras o parentesco do latim volumen com o verbo volvere: seu sentido inicial era o de “rotação, movimento giratório”.
Quem gira um botão de volume como o da foto ao lado pode supor que tal relação é muito natural, mas estará diante de uma pista falsa. Para chegar aí a história deu muitas voltas.
O processo que fez aquele volumen dar em nosso substantivo “volume” e seus múltiplos sentidos – de “cada uma das partes de uma obra impressa” a “quantidade de qualquer coisa, massa” – é uma instrutiva lição sobre como, numa cadeia de associações, a evolução semântica de uma palavra pode acabar por levá-la longe de seu ponto de partida.
Tudo começa com o velho rolo de papiro de egípcios, gregos e romanos, chamado volumen em latim por ser, bem, literalmente enrolado. Embora esteja na origem de tudo, essa acepção é apenas a de número 4 no verbete “volume” do Houaiss (“manuscrito enrolado em torno de uma pequena vara”), mera curiosidade caída em desuso.
A primeira extensão de sentido sofrida por volumen, porém, continua bem viva: a de tomo, livro, unidade bibliográfica. Até aí a operação era simples, bastando adaptar o que a princípio se aplicava ao rolo para a era do livro encadernado.
Os passos seguintes exigiram um grau maior de abstração. Nas palavras do Merriam-Webster (falando do inglês volume): “No século XVI, ‘volume’ já tinha adquirido a acepção adicional de ‘tamanho ou envergadura’ (de um livro), o que levou ao desenvolvimento do sentido geral de ‘quantidade, montante ou massa de qualquer coisa’.”
Por fim, outra acepção de uso corrente, a de “intensidade da voz ou do som emitido por um instrumento ou por um aparelho acústico” (Houaiss), desdobrou-se apenas no século XVIII do que foi exposto no parágrafo anterior: o Trésor de la Langue Française data de 1761 o primeiro uso de volume com o sentido de “intensidade da voz”.