Vitrine ou vitrina? Champanhe ou champanha?
“Estou confusa, Sérgio. Afinal, o certo é vitrine ou vitrina? Madame ou madama? Champanhe ou champanha?” (Ruth Rios) Não se pode dizer que exista “o certo” nesses casos, Ruth: as duas formas são empregadas. No entanto, é possível – e desejável – fazer uma distinção entre elas, observando que o português brasileiro se inclina pela […]
“Estou confusa, Sérgio. Afinal, o certo é vitrine ou vitrina? Madame ou madama? Champanhe ou champanha?” (Ruth Rios)
Não se pode dizer que exista “o certo” nesses casos, Ruth: as duas formas são empregadas. No entanto, é possível – e desejável – fazer uma distinção entre elas, observando que o português brasileiro se inclina pela terminação em e, enquanto o lusitano costuma preferir a terminação em a, no caso de palavras importadas do francês, como essas.
Vá tranquilamente, portanto, de vitrine, madame, champanhe – e ainda cabine, nuance, caminhonete. Pouco importa que, em muitos desses casos, nossos dicionaristas tomem o partido da inclinação portuguesa. O nome disso é lusocentrismo, o velho vício colonial do respeito excessivo à metrópole. Não é assim que o Brasil gosta de falar, como comprovam bons autores há pelo menos um século.
Não que os lexicógrafos formem um bloco coeso. Longe disso. O Aurélio, mais lusófilo, prefere cabina e madama, embora registre as outras formas como variantes. Pior: até o início deste século, nem sequer reconhecia a existência de vitrine, registrando apenas vitrina. O Houaiss é menos servil ao modo lusitano de incorporar galicismos: prefere cabine, madame e caminhonete, mas escorrega na vitrina e na nuança.
É o que sempre digo: se o Chico, que de língua entende um pouco, canta “nos teus olhos também posso ver/ as vitrines te vendo passar”, mas o Aurelião torce o nariz para a palavra, cabe a nós decidir com qual Buarque de Hollanda preferimos ficar.
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