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Sobre Palavras

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Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.

Um folião chamado Rubem Braga

Recebi há poucos dias da leitora Regina Porto uma mensagem em que ela informava ter preenchido por conta própria uma grave lacuna na literatura carnavalesca digital: depois de ler um post – publicado no Todoprosa no carnaval passado – em que eu, listando bons itens de literatura momesca disponíveis na internet, lamentava a ausência da […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 09h29 - Publicado em 19 fev 2012, 09h00

Recebi há poucos dias da leitora Regina Porto uma mensagem em que ela informava ter preenchido por conta própria uma grave lacuna na literatura carnavalesca digital: depois de ler um post – publicado no Todoprosa no carnaval passado – em que eu, listando bons itens de literatura momesca disponíveis na internet, lamentava a ausência da monumental crônica Batalha do Largo do Machado, de Rubem Braga, ela foi lá e, voluntariosa, publicou o texto. Ei-lo. É imperdível.

Braga, o maior dos nossos cronistas, descreve uma batalha de ranchos e blocos no Largo do Machado, no Rio de Janeiro, no carnaval de 1935. Descrever é um verbo que soa pálido diante do desfile de palavras ofegantes que vemos passar na avenida, acotovelando-se, enquanto o sujeito das orações toca surdo e “a cuíca ronca, estomacal, horrível”:

É um profundo samba orfeônico para as amplas massas. As amplas massas imploram. As implorações não serão atendidas. As amplas massas amaram. As amplas massas hoje estão arrependidas. Mas amanhã outra vez as amplas massas amarão… As amplas massas agora batucam…Tudo avança batucando.

Situado num momento histórico anterior a todas a ideias de correção política, Braga não é paternalista, não bajula a tal “maior festa popular do mundo”, permite-se até enxergar uma “massa torpe e enorme” na multidão de “operários em construção civil, empregados em padarias, engraxates, jornaleiros, lavadeiras, cozinheiras, mulatas, pretas, caboclas”. Fala em “meninas mulatas, e mulatinhas impúberes e púberes, e moças mulatas e mulatas maduras, e maduronas, e estragadas mulatas gordas”. Racismo?

Pelo contrário. Naquele momento, meados dos sinistros anos 1930, o racismo começava a arrastar a Europa para o inferno, mas aqui tal molde era partido pelo próprio batuque, feito em mil estilhaços – como a gramática – pelo cronista que, na vertigem da folia, inventava um impensável superlativo de verbo para bradar, embriagado de tanta mulatice:

Morram as raças puras, morríssimam elas!

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