Tupi ou grego? ‘Pindorama’ tem parentesco com ‘panorama’?
Não. A semelhança engana até gramáticos sérios, mas não passa de coincidência

“Estimado colunista, gostaria de ler suas considerações sobre a palavra Pindorama, que, como sabemos, é um dos apelidos populares do Brasil. Intriga-me que o sufixo grego ‘orama’, formador de numerosos termos cultos (‘panorama’ é somente um exemplo), haja vindo parar num vocábulo que parece ter origem indígena. Estaremos diante de um híbrido peculiar? Saudações.” (Roberto Negreiros)
A excelente consulta de Negreiros desenterra uma curiosidade: a semelhança entre a palavra Pindorama (“nome que os ando-peruanos e populações indígenas pampianas dão ao Brasil”, na definição do Houaiss) e vocábulos como “panorama”, “autorama” etc.
A semelhança engana até gramáticos sérios como Domingos Paschoal Cegalla, que listou “pindorama” ao lado de “panorama” em seu “Dicionário de dificuldades da língua portuguesa”. No entanto, trata-se de simples coincidência.
Segundo Teodoro Sampaio, autor de “O tupi na geografia nacional”, a origem de Pindorama é o tupi pindó-rama, redução de pindó-retama, isto é, “região (ou país) das palmeiras”. Pindoba é o nome genérico, em português, de diversas espécies de palmeira.
Bem diferente é a história do elemento de composição “-orama”, do grego hórama, “o que se descortina, vista, espetáculo”. A família das palavras terminadas assim foi fundada em 1789, em inglês, pelo pintor escocês Robert Barker: o cultismo panorama (algo como “vista do todo”) designava um certo quadro amplo, circular e visualmente abrangente de Edimburgo.
A palavra fez sucesso, e com base nela foram cunhadas outras, algumas, a princípio, como marcas registradas: “cinerama”, “diorama”, “cosmorama”, “autorama” etc.
Mesmo assim, Pindorama pode não ser um termo indígena puro-sangue. Em seu “Vocabulário tupi-guarani português”, Silveira Bueno levantou a possibilidade de que a passagem de pindó-retama a pindó-rama tenha se dado por influência de outro sufixo, que nada tem de tupi nem de grego: o “-ama” que forma coletivos como “dinheirama” e que tem origem um tanto obscura, mas provavelmente românica.
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