Trabuco, da ‘astúcia’ ao chumbo grosso
A pólvora estava molhada e o tiro não saiu (ou saiu pela culatra), mas a recusa do presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, ao convite oficial de Dilma Rousseff para assumir o ministério da Fazenda provocou fumaça suficiente para garantir o posto de Palavra da Semana a esse antigo substantivo comum. O castelhano trabuco atuou […]

A pólvora estava molhada e o tiro não saiu (ou saiu pela culatra), mas a recusa do presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, ao convite oficial de Dilma Rousseff para assumir o ministério da Fazenda provocou fumaça suficiente para garantir o posto de Palavra da Semana a esse antigo substantivo comum.
O castelhano trabuco atuou como intermediário, mas o antepassado mais remoto do português “trabuco”, um termo datado do século XV, é o catalão trabuc. Derivado do verbo trabucar (“pôr abaixo, derrubar, tropeçar”), a palavra não se referia, a princípio, a uma arma de fogo.
Curiosamente, trabuc nasceu com o sentido de “astúcia, ardil” – o que parece estranho, mas só até imaginarmos a associação de “derrubar” com a ideia de, maliciosamente, “passar a perna” em alguém, como se diz.
Tal significado acabou caindo em desuso antes de chegar ao português, superado pela acepção de “máquina de guerra com que se atiram grandes pedras contra edificações inimigas” – ou seja, uma espécie de catapulta, o primeiro sentido exportado para nosso idioma e o primeiro que o Houaiss registra.
Em nova expansão semântica, “trabuco” ganhou mais tarde a acepção de “espingarda de um só cano, curto e de boca larga”, uma escopeta primitiva (foto acima), que até hoje conserva como dominante. A palavra também pode se referir, de modo figurado, a diversos tipos de arma de fogo de grosso calibre.