Todo fígado contém a sombra de um figo
A origem da palavra fígado é um clássico. Seu ancestral é o latim ficatum, de onde saíram também o italiano fegato, o espanhol hígado e o francês foie. Até aí, tudo normal. É preciso recuar um pouco mais na história de ficatum para que a trama se adense. Tudo começou com a locução latina jecur […]
A origem da palavra fígado é um clássico. Seu ancestral é o latim ficatum, de onde saíram também o italiano fegato, o espanhol hígado e o francês foie.
Até aí, tudo normal. É preciso recuar um pouco mais na história de ficatum para que a trama se adense. Tudo começou com a locução latina jecur ficatum, “fígado de ave engordada com figos”. Note-se que, no nome dessa apreciada iguaria, a palavra que correspondia ao órgão, ao tal miúdo, era jecur. Ficatum, vocábulo derivado de ficus, significava “farto de figo”.
Em algum momento da história da expressão, porém, o jecur desapareceu e, de termo coadjuvante, o adjetivo ficatum foi promovido a substantivo para designar a coisa em si. Já sem qualquer memória da fruta.
Como processo linguístico está longe de ser incomum, mas é curioso. Principalmente se lembrarmos do Seu Creysson, filólogo insuspeito, que nunca duvidou que o fígado se chamasse, no fim das contas, figo mesmo.