‘Ter a ver’ ou ‘ter a haver’?
“É usual encontrarmos a expressão ‘eu não tenho nada a ver com isso’. Parece-me totalmente sem sentido o uso do verbo ver nessas locuções. O correto, acho, é o uso do verbo ‘haver’, evidentemente utilizado numa referência, apropriada, a uma relação débito/crédito. O que lhe parece? Obrigado pela atenção.” (José Henrique Guaracy) A dúvida de […]
“É usual encontrarmos a expressão ‘eu não tenho nada a ver com isso’. Parece-me totalmente sem sentido o uso do verbo ver nessas locuções. O correto, acho, é o uso do verbo ‘haver’, evidentemente utilizado numa referência, apropriada, a uma relação débito/crédito. O que lhe parece? Obrigado pela atenção.” (José Henrique Guaracy)
A dúvida de Guaracy é um clássico, mas sua solução é relativamente simples. “Ter a ver com” é uma locução consagrada em português e significa “ter relação com, dizer respeito a”. Como ocorre em muitas locuções, sua carga semântica vai além da soma de suas partes.
“Ter a haver” é outra coisa: quer dizer “ter a receber” e é uma fórmula de sabor um tanto antigo que se emprega apenas em sentido contábil, como reconhece o próprio Guaracy. O erro é imaginar que “ter a ver” tenha algo a ver com “ter a haver”. Não tem.
Uma velha polêmica, hoje esvaziada, envolve o uso da preposição “a” nessa locução. Segundo os puristas, deveríamos preferir “ter que ver”, pois “ter algo a ver” (como “ter muito a fazer”, “ter uma missão a cumprir” etc.) seria uma construção de inspiração galicista, isto é, influenciada pelo francês.
Bem, tudo indica que o francês exerceu, sim, influência em tal emprego da preposição “a”. E daí? Embora “ter que ver” também seja uma forma encontrada por aí, “ter a ver” está além da consagração.
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