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Sobre Palavras

Por Sérgio Rodrigues Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.

Sobre um poema de Wislawa Szymborska

Para onde corre essa corça escrita pelo bosque escrito? Livro aberto a esmo, à procura de um consolo aleatório para dor difusa, ela vê surgir à sua frente o bosque alfabético. Antes de ter tempo de formular para si própria a questão, entro? não entro?, já entrou. Uma violência latente se organiza. Numa gota de […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 08h03 - Publicado em 26 ago 2012, 12h59

Para onde corre essa corça escrita pelo bosque escrito?

Livro aberto a esmo, à procura de um consolo aleatório para dor difusa, ela vê surgir à sua frente o bosque alfabético. Antes de ter tempo de formular para si própria a questão, entro? não entro?, já entrou.

Uma violência latente se organiza.

Numa gota de tinta há um bom estoque
de caçadores de olho semicerrado
prontos a correr pena abaixo
rodear a corça, preparar o tiro.

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É ela mesma a corça, claro, compreende com uma espécie de desmaio que não é dos sentidos, mas da vontade. Rodeada de palavras caçadoras, ela, a palavra-caça, descobre que sua dor ficou menos difusa: agora tem nome, boca com gosto de café, queixo reto e áspero e uns olhos que um dia foram impossivelmente doces e hoje estão interditados pelo adeus. Ao mesmo tempo, espera – será possível?

Aqui no bosque escrito, a dor dói menos.

Para sempre se eu assim dispuser nada aqui acontece.
Sem meu querer nem uma folha cai
nem um caniço se curva sob o ponto final de um casco.

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Ela sorri. Ah, ficar aqui, ir ficando, enquanto durar a eternidade. No bosque escrito, a corça e o caçador se fitam, imóveis. A impossível doçura do olhar que trocam transborda do tinteiro, alaga a escrivaninha, jorra em cascata até o chão de tábuas corridas, logo inunda a casa, o bosque, o mundo.

A alegria da escrita.
O poder de preservar.
A vingança da mão mortal.

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