Sob a influência da gripe
Às voltas com uma gripe violenta, reduzido a um compêndio de sintomas, tento e não consigo fugir do óbvio: acertar contas com a história da palavra gripe. Quem sabe não pode ser esse o primeiro passo para vencê-la? Felizmente, a história é boa em sua capacidade de ilustrar a velha tendência universal de contágio entre […]
Às voltas com uma gripe violenta, reduzido a um compêndio de sintomas, tento e não consigo fugir do óbvio: acertar contas com a história da palavra gripe. Quem sabe não pode ser esse o primeiro passo para vencê-la? Felizmente, a história é boa em sua capacidade de ilustrar a velha tendência universal de contágio entre línguas.
Começou na Itália, em 1743, uma grande epidemia que logo se espalhou pela Europa, levando em seu rastro o vírus linguístico de dois nomes destinados a conquistar o Ocidente: o francês grippe e o italiano influenza.
O primeiro – que seria acatado em português, espanhol, polonês e turco, entre outros idiomas – era a forma nominal do verbo gripper, isto é, “agarrar”, numa provável referência ao jeito brusco que tem o vírus de tomar conta do organismo infectado ou, talvez, ao aperto no pescoço provocado pela inflamação de garganta que costuma acometer os gripados. O termo ganhou seu primeiro registro em português em 1881, no dicionário Caldas Aulete.
Aquele gripper francês teria ainda um outro derivado entre nós, este mais próximo de seu sentido básico: o brasileirismo gripar (ou grimpar), termo da mecânica que quer dizer “travar, enguiçar (mecanismo ou motor) por defeito (especialmente por falta de lubrificação)”, segundo o Houaiss. O verbo francês, um vocábulo de origem germânica, vem a ser primo do inglês to grip, que também significa “agarrar”.
Curiosamente, a preferência do próprio inglês na hora de nomear a gripe foi o italiano influenza, que os americanos apelidaram flu em meados do século XIX. Termo médico derivado do latim medieval influentia, “influência dos astros sobre os homens”, numa época em que os corpos celestes levavam a culpa por grande parte dos problemas de saúde, a palavra italiana também encontrou seguidores no alemão, no holandês e no húngaro.
Observe-se que bons dicionários de inglês registram o sinônimo grippe, assim como os nossos registram influenza. No entanto, não foram essas as palavras adotadas na linguagem comum.