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Sobre Palavras

Por Sérgio Rodrigues Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.

Se a língua é ‘machista’, por que dizemos ‘avós’?

As vovós encrenqueiras do Monty Python: melhor não mexer com elas “Leio seu blog com frequência e acho muito interessante. Inclusive já participei com uma dúvida tempos atrás. Agora me apareceu outra. ‘Do nada’, dias atrás, percebi que quando queremos nos referir a pai e mãe, falamos nossos pais; tio e tia, nossos tios; vizinho […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 05h51 - Publicado em 4 jul 2013, 13h23
hells-grannies

As vovós encrenqueiras do Monty Python: melhor não mexer com elas

“Leio seu blog com frequência e acho muito interessante. Inclusive já participei com uma dúvida tempos atrás. Agora me apareceu outra. ‘Do nada’, dias atrás, percebi que quando queremos nos referir a pai e mãe, falamos nossos pais; tio e tia, nossos tios; vizinho e vizinha, nossos vizinhos; e por aí vai… A dúvida é: por que para avô + avó, falamos avós (e não avôs)? Sei que é uma coisa besta, mas fiquei intrigado.” (Luis Cesar Voytena)

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A dúvida “besta” de Luis Cesar é um clássico que já intrigava a geração de nossos avós. Todos sabemos que, por um dispositivo ancestral que seria possível classificar como “machista”, as línguas que têm dois gêneros costumam reservar ao masculino o papel de indicar o conjunto geral, indistinto, seja com plural (“respeite seus pais”, ou seja, pai e mãe) ou não (“adoro cachorro”, isto é, qualquer indivíduo dessa espécie).

A única exceção a tal regra, suspeita Luis Cesar, seria o plural “avós”. Este, como se sabe, indica o conjunto formado pelas avós materna e paterna (duas mulheres), mas também o conjunto formado por avôs e avós (homens e mulheres), para não mencionar o sentido expandido de antepassados de diversas gerações (“no tempo dos nossos avós”), que o puristas já condenaram como galicismo e no qual, mais uma vez, incluem-se pessoas de ambos os sexos.

Será que as avós – logo elas – são as solitárias vingadoras feministas do idioma?

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Eu adoraria poder dizer que sim, mas a história é bem menos divertida e deixa preservada a regra do masculino genérico. “Avós” é neste caso, por incrível que pareça, o plural de avô e não de avó. Isso se explica por um fenômeno chamado tecnicamente metafonia, o mesmo que ocorre em ovo/ovos, osso/ossos, fogo/fogos. A vogal final de avô (do latim vulgar aviolus, “avozinho”) tornou-se fechada na passagem para o português, mas no plural e no feminino (de aviola, “avozinha”) manteve-se aberta.

É claro que avós, como vimos acima, também é o plural de avó. Ocorre que duas formas distintas (o plural de aviolus e o plural de aviola) acabaram por se confundir numa só, “avós”, em sua passagem para o português. O que parece o triunfo do gênero feminino é fruto dessa coincidência.

Algum incômodo, porém, é certo que as avós conseguiram provocar nessa imaginária guerra dos sexos da linguagem: diante da ambiguidade assim instaurada, a palavra avô teve que se virar e ganhar já em nosso idioma um segundo plural, “avôs”.

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