Sal, salpicar, salpicão: tudo a ver?
“Oi, Sérgio, tudo bem? Eu adoro a palavra ‘salpicar’. Porque embute ‘sal’ e ‘picar’, me dá a ideia justamente de espalhar coisas pequenas. Mas dia desses encasquetei que salpicar pode ter a ver com salpicão (que odeio). Tem mesmo?” (Eduardo Santos) A suspeita de Eduardo está correta. A palavra salpicão, existente em português desde princípios […]
“Oi, Sérgio, tudo bem? Eu adoro a palavra ‘salpicar’. Porque embute ‘sal’ e ‘picar’, me dá a ideia justamente de espalhar coisas pequenas. Mas dia desses encasquetei que salpicar pode ter a ver com salpicão (que odeio). Tem mesmo?” (Eduardo Santos)
A suspeita de Eduardo está correta. A palavra salpicão, existente em português desde princípios do século XVIII e que os etimologistas afirmam ter nascido no espanhol salpicón, é sem dúvida alguma derivada do verbo salpicar, que compartilhamos com o castelhano.
Não me parece que isso seja motivo para quem não gosta de salpicão implicar com o verbo salpicar. Este é anterior, nascido mesmo, segundo a maioria dos estudiosos, da junção de sal + picar. A ideia original seria a de polvilhar grãos de sal nos alimentos. Só mais tarde, por extensão, passou-se a empregar salpicar para dar conta do espalhamento de pequenas porções de outras coisas.
Registre-se que a tese da origem da palavra em sal + picar é disseminada, mas não unânime. O filólogo Joan Corominas atesta a existência no catalão antigo do termo salbuscar, “refrescar com borrifos de água”, e sugere que, como salpicar, ele pode ter se originado no gótico salbon, “untar” – o que tiraria o sal da jogada.
*
Envie sua dúvida sobre palavra, expressão, dito popular, gramática etc. Às segundas, quartas e quintas-feiras o colunista responde ao leitor na seção Consultório. E-mail: sobrepalavras@todoprosa.com.br