Roupas que vale (ou valem?) a pena comprar
Caro Sérgio, tenho dúvida sobre como empregar a expressão ‘vale a pena’. Tentei pesquisar na gramática do Bechara, mas não encontrei nada. Qual é o mais correto? Roupas que vale a pena ou roupas que valem a pena? Roupas que vale a pena comprar ou roupas que valem a pena comprar? Roupas que valem a […]
Caro Sérgio, tenho dúvida sobre como empregar a expressão ‘vale a pena’. Tentei pesquisar na gramática do Bechara, mas não encontrei nada. Qual é o mais correto?
Roupas que vale a pena ou roupas que valem a pena?
Roupas que vale a pena comprar ou roupas que valem a pena comprar?
Roupas que valem a pena serem compradas ou roupas que vale a pena serem compradas?
(Álvaro de Souza)
Álvaro traz para o consultório uma questão que sem dúvida já passou pela cabeça de muita gente. Além de popularíssima, a locução “valer a pena” – que os puristas um dia condenaram como galicismo, propondo em seu lugar “merecer o esforço” (risos) – tem um certo talento para criar confusão: num dos exemplos citados acima, o verbo fica no singular; em outro, no plural. Como explicar isso, se todas as frases estão tratando da mesma coisa?
Em primeiro lugar, é preciso entender que a locução “valer a pena” – que significa “compensar o esforço, a preocupação, o trabalho”, ou seja, “ser proveitoso, oferecer vantagem” – é composta de verbo e objeto direto. Embora às vezes possa parecer, “pena” não é sujeito. Isso significa dizer que o sujeito precisa ser encontrado. Obviamente, dependerá dele a concordância.
Se as construções apresentadas por Álvaro fossem mais simples – “Essas roupas valem a pena” e “Vale a pena comprar essas roupas” – não haveria margem para dúvida, haveria? No primeiro caso, é lógico que o sujeito é “roupas”, o que leva o verbo valer para o plural. No segundo, o sujeito é oracional, “comprar essas roupas”, deixando o verbo no singular.
Pois a mesma lógica vale para construções complexas com subordinação adjetiva, em que o pronome relativo “que” faz o papel de sujeito ou objeto direto, como se dá, respectivamente, nos dois casos presentes. No primeiro exemplo apresentado por Álvaro, a frase correta é a que traz o verbo no plural, concordando com “roupas”: “Roupas que valem a pena”. No segundo exemplo, o verbo fica no singular: “Roupas que vale a pena comprar”.
Quanto à terceira dupla de frases, melhor evitar ambas: uma é mais torta do que a outra. A tendência seria deixar o verbo no singular, com “serem compradas” no papel de sujeito oracional, mas a voz passiva briga com a ideia geral e o círculo sintático não se fecha.
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